quinta-feira, 5 de maio de 2016

Os Grupos


Imagem do blogue “Tempestade Cerebral”


OS GRUPOS


Em Portugal, tanto quanto sei, existem 7 associações que se reclamam, ou já na denominação, ou já nos estatutos, de autocaravanistas.

São elas a “Associação Autocaravanista de Portugal – CPA”, a “Associação de Autocaravanismo Portuguesa”, o “Clube de Autocaravanismo do Centro – Cultura e lazer”, o “Clube Autocaravanista Itinerante”, o “Clube Autocaravanista Saloio”, o “Clube Flaviense de Autocaravanas” e o “Clube Gardingo de Autocaravanas”.

Três destas associações optaram por constituir uma Federação (a FPA) que desde a fundação, em 2011, se mantém sem alterações, embora durante cerca de um ano uma das associações tenha abandonado a FPA. Outras três destas associações integraram-se, desde as respectivas constituições, na Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), instituição que não necessita de apresentações. Uma das associações, das 7 referidas, não consta que tenha optado por se inserir em qualquer instituição federativa.

Estas são, portanto, as associações com personalidade jurídica vocacionadas para o autocaravanismo.

Existe, contudo, um número ainda não quantificado de grupos de autocaravanistas, sem personalidade jurídica, com dirigentes não eleitos, sem regras nem estatutos, sem contabilidade, recibos ou facturas, que promovem dezenas de eventos por ano. Exceptuando um ou dois destes grupos, nenhum dos outros promove qualquer outra actividade que não seja turística ou com ela relacionada.

A estes grupos, para uma melhor identificação e sem qualquer intenção pejorativa, passarei a designá-los como “Os Grupos”

Os Grupos” só se mantêm e até crescem devido, essencialmente, à Internet. A forma de comunicação fácil e abrangente que a Internet proporciona é a semente que permite que “Os Grupos” floresçam. Mas não só. Os participantes nos eventos promovidos por “Os Grupos” não têm que contribuir, periodicamente, quotizando-se, para uma manutenção que não existe e, muitas vezes, não têm que se inscrever antecipadamente nos eventos ou sequer cumprir as regras mínimas impostas (e bem) pelas associações com personalidade jurídica. “Os Grupos” buscam apenas o divertimento e o convívio (o que é perfeitamente legítimo) sem que se tenham que se esforçar ou preocupar com as questões que estão no pensamento de muitos autocaravanistas, nomeadamente no que respeita à discriminação negativa dos veículos autocaravanas. “Os Grupos” são constituídos na quase totalidade por pessoas com alguma capacidade financeira e que estando reformadas encontram no divertimento e no convívio o aturdimento que os liberta da solidão.

As pessoas de “Os Grupos” justificam a sua NÃO adesão às associações com personalidade jurídica pelos mais diversos motivos: as quotizações são caras, nada lhes dão em troca, não gostam do presidente, é uma direcção do Benfica e eu sou do Sporting, são comunistas, são de direita, são isto e aquilo e o seu contrário, são tudo e mais alguma coisa. Todos os pretextos são bons. Não me quero “chatear”! É a palavra final.

Contudo, é interessante constatarmos que as pessoas de “Os Grupos” exigem, das mesmas associações em que se recusam inscrever, que os protejam contra a discriminação negativa de que algumas vezes (uma já seria demais) são alvo. Chegam ao ponto de se manifestar publicamente contra as deliberações que as associações democraticamente tomam nos seus órgãos próprios, correspondendo à vontade dos respectivos associados, situação que até poderia ser eticamente aceitável se fossem sócios de alguma associação com personalidade jurídica. Porém, curiosamente, as pessoas que não são sócias de associações com personalidade jurídica não fazem exigências a’“Os Grupos” que existem apenas para divertimento e convívio. Nem exigências dessas, nem de qualquer outra natureza, pois, sendo nesses grupos apenas convidados, a sua capacidade de intervenção é nula. Quem põe e dispõe é o “chefe” do Grupo assessorado por alguns amigos. O tal chefe que não é eleito, num Grupo sem regras nem estatutos aprovados, sem contabilidade, recibos ou facturas e que, quando o chefe se aborrecer, fecha a porta e apaga a luz.

São também na prática as associações autocaravanistas, com personalidade jurídica, que vão estabelecendo e difundido conceitos (Cartilha do Autocaravanista), esclarecendo dúvidas legislativas (através de avenças com advogados), defendendo a livre circulação e estacionamento das autocaravanas (junto dos municípios e das autoridades estatais), promovendo colóquios (convidando especialistas), estabelecendo contactos a nível internacional (Encontros FICC), etc. etc. etc.

É inegável que alguns d’ “Os Grupos” promovem eventos autocaravanistas com centenas de autocaravanas.

Seria estúlticia contestar o direito à livre associação, no caso especifico o direito um livre convívio, entre as pessoas d’ “Os Grupos”. Mas, não será também reprovável que as 7 associações vocacionadas para o autocaravanismo divulguem às custas dos dinheiros (ou do trabalho) dos respectivos associados os eventos promovidos por “Os Grupos”? E não é incompreensível que nos eventos promovidos pelas 7 associações possam participar as pessoas d’ “Os Grupos”, em igualdade de circunstâncias com os sócios dessas associações? Se os não sócios, as pessoas d’ “Os Grupos”, têm os mesmos direitos dos sócios das associações com personalidade jurídica, porque é que não têm as mesmas obrigações?

A pergunta que se coloca a cada sócio é simples: Porque é que eu hei-de ser sócio, pagar uma quotização, se o que não é sócio tem na prática os mesmos benefícios que eu?

A defesa dos interesses dos autocaravanistas em geral deve ser uma preocupação das associações com personalidade jurídica, contudo, a defesa real desses interesses pode estar a ser posta em causa se as associações não tiverem uma sustentação económica que é essencialmente traduzida através das quotizações dos respectivos associados.

Ajudar, apoiar, tratar por igual todos os autocaravanistas, incluindo mesmo os que se recusam a ser solidariamente associados, ser-se “bonzinho”, passar a mensagem do politicamente correcto, será estar a contribuir para o enfraquecimento a médio prazo das associações.

É do interesse das 7 associações que se reclamam vocacionadas para o autocaravanismo que delineiem neste âmbito uma práctica autocaravanista comum. É uma questão de sobrevivência. Sobrevivência não só das associações como do próprio autocaravanismo como preconizamos que venha a ser.



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)


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