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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

PRESENTE (Traz outro amigo também)



(Imagem obtida no blogue “Pontos de Vista”)



PRESENTE!


(Traz outro amigo também)


A 24 de Fevereiro de 1987, pelas 15 horas, uma Delegação Sindical do Secretariado de Empresa do BNU depositou junto da urna contendo os restos mortais de Zeca Afonso (José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos) na Escola Secundária de S. Julião, em Setúbal, uma coroa de flores. Depois, a Delegação Sindical (da qual eu fazia parte) acompanhou o cortejo fúnebre até ao cemitério da senhora da Piedade, também em Setúbal.


Mais de trinta mil pessoas acompanharam Zeca Afonso nessa última viagem. Zeca Afonso que tinha morrido na véspera, a 23 de Fevereiro, teve, pouco mais de 24 horas depois, de forma absolutamente espontânea, milhares de pessoas de todos os quadrantes sociais e políticos a prestar-lhe uma última homenagem.


Zeca Afonso que fez das canções uma arma a favor da Liberdade recusou, coerente com a sua forma de estar, a Ordem da Liberdade concedida ao tempo da Presidência de Ramalho Eanes e, posteriormente, quando a título póstumo o Presidente da República Mário Soares quis de novo prestar-lhe a mesma honraria, a mulher de Zeca Afonso não aceitou o que o marido em vida já tinha recusado.


Dois dias após a morte de José Afonso o extinto Semanário “se7te”, dirigido por Cáceres Monteiro, dedicava a quase totalidade das respectivas páginas à evocação do homem, do autor e do compositor.


Segundo o “se7te” prestaram derradeira homenagem a Zeca Afonso personalidades tão distintas como Ramalho Eanes, Lourdes Pintassilgo, Mário Tomé, Delegações da Assembleia da República, da Associação Académica de Coimbra e outras, foram algumas das centenas de figuras públicas que ocorreram a Setúbal. Entre os cantores marcaram presença Júlio Pereira, José Mário Branco, Francisco Fanhais, Carlos do Carmo, Rodrigo, Lena d´Água, Pedro Barroso, Sérgio Godinho, entre muitos outros. Mas, também outros nomes, como Eunice Muñoz, Lia Gama, Maria do Céu Guerra, Fonseca e Costa, Diamantino, Vítor Baptista, Carlos Antunes, Isabel do Carmo, um pouco representantes de todas as áreas da cultura.


O que sobre José Afonso (e segundo o “se7te”) à data disseram, em síntese:


Maria de Lourdes Pintassilgo (Engenheira, ex-Primeira Ministra e ex-Candidata à Presidência da República) - “Zeca Afonso sonhou e cantou uma terra diferentes; terra de todos, em fraternidade. É esse sonho que ele nos deixa em herança”.


José Carlos de Vasconcelos (Poeta e Jornalista, ex-Deputado à Assembleia da República) - “E como dói, também, que tenha morrido o velho amigo, ainda que pela força das circunstâncias separados, o companheiro de tantas noites de Coimbra e de tantas “sessões” de música, canto e poesia com pides e bufos no encalço! E que tenha morrido sem sequer lhe termos podido pagar tudo o que lhe devíamos – e devemos...


Otelo Saraiva de Carvalho (Militar de Abril, candidato à Presidência da República por duas vezes e apoiado por José Afonso) - “Figura ímpar, fulgurante, da cultura portuguesa deste século, dotado de excepcional qualidade humana e de envergadura humanista, o Zeca Afonso, meu irmão, meu companheiro, meu Amigo, perdurará eternamente na memória do povo português, ao património do qual pertence para nosso orgulho. Um grande poeta morreu! Viva Zeca Afonso!


Almeida Santos (ex-Deputado do Partido Socialista) - “Calou-se a sua voz, mas nós vamos cantar por ele os lindos gritos de protesto que compôs


Amália Rodrigues – (cantora) - “O José Afonso foi uma personalidade muito importante para a música portuguesa


Carlos Paredes (Músico e compositor) - “Acabou por criar uma canção diferente,ao nível de Brassens ou de Brel, afinal a sua própria canção, aquela que ele sentia que tinha obrigatoriamente de cantar (…) José Afonso passa à História como talvez não tenha passado qualquer outro cantor. Tornou-se uma imagem nova, tornou-se uma figura eterna que passa a fazer parte da nossa própria formação


Júlio Pomar (Pintor) - “O Zeca Afonso marca uma situação portuguesa que foi capital para a existência de algumas gerações. Os votos que quero fazer neste momento vão no sentido de que um novo Zeca Afonso não encontre pela frente aquilo que o Zeca encontrou.


Jorge Martins (Pintor) - “O Zeca Afonso foi o reinventor da música popular portuguesa


Arnaldo Trindade (Primeiro editor das canções de José Afonso) - “Ele e os seus colegas (entre os quais se destacou, como líder, o malogrado Adriano Correia de Oliveira) Conseguiram fazer muito mais do que os políticos da sua época. A música do Zeca Afonso transcendeu-se a si própria


Machado Soares (Fadista de Coimbra) - “Ele foi o poeta da música e a sua genialidade reside na circunstância de, partindo das raízes populares, fazer uma canção plena de intencionalidade e de empenhamento social, numa combinação perfeita.”


Rui Pato (Instrumentista) - “É preciso respeitá-lo, é preciso não cometer com outros os erros que todos cometemos com ele. O Zeca será sempre um símbolo do combate à hipocrisia. Só a malvada doença o impediu de nos ensinar ainda muita coisa não apenas como músico mas principalmente como homem


Janita (Músico e cantor) - “Tudo o que vivi com ele foi importantíssimo para a música que eu hoje faço. E uma coisa é certa: hei-de lembrar-me sempre do Zeca a cantar


Luís Represas (“Voz” dos Trovantes) - “O que é que acham que eu posso dizer sobre o Zeca se a vida dele constitui, ela própria, um depoimento – o melhor depoimento?


Carlos Alberto Moniz (Músico, cantor e compositor) - “(…) porque, se o Zeca tinha um grande talento e uma forma de expressão igualmente grande, tinha, acima de tudo, um coração enorme


George Moustaki (Intérprete e compositor francês) – O Zeca Afonso representava muito para mim: era o amigo, o poeta, o cantor, a figura do 25 de Abril


Luís Pastor (Cantor espanhol) - “Aqui em Madrid estamos todos tristes com a morte do Zeca Afonso. Não deixaremos, porém, de o continuar a homenagear nos nossos espectáculos de segundas-feiras na sala Eligene. Vamos todos cantar para o Zeca, com o Zeca.


Catherine Ribeiro (Cantora francesa) - “Era um grande amigo e nunca deixei de o cantar


Mário Soares (Enquanto Presidente da República)

A vida de Zeca Afonso foi um acto de fidelidade a princípios. Era um homem livre, generoso e fraterno. Soube escutar a voz anónima do povo e das sua raízes e elevá-la à altura do simbólico. Nas suas cantigas, que não morrerão, ressoa o protesto pela injustiça e um grito a favor da dignidade humana. Enquanto existirem homens que choram o seu sacrifício e cantam a sua esperança, Zeca Afonso não será esquecido.

O seu nome está nobremente ligado a essa madrugada memorável do 25 de Abril de 1974 em que, ao som de uma canção de fraterna solidariedade, um povo se libertou e inaugurou uma nova época da sua História.

a sua integridade pessoal e a dignidade com que enfrentou doença, a dor e a certeza da morte próxima constituem um emocionante testemunho de coragem


JOSÉ AFONSO

Estou empenhado em que se desfaça a impressão de que me tornei uma coisa que deve colocar-se numa redoma. Uma vez que me acusam de ser injustamente mitificado quero apenas afirmar que sou uma pessoa comum.

Recuso-me terminantemente a transformar-me num mito


O legado cultural e político de Zeca Afonso (ver biografia AQUI) não se poderia perder pelo que a 18 de Novembro de 1987 nasce a Associação José Afonso (AJA) para promover as ideias deste extraordinário intérprete e compositor (que não sabia música).


Hoje, 23 de Novembro de 2017, trinta anos após a morte de Zeca Afonso, a associação a que ele dá o nome, vem através do Núcleo de Lisboa (ver AQUI), celebrar a poesia escrita, cantada e dita num recital conduzido por Júlia Lello e em que serão interpretadas algumas canções por Marta Ramos acompanhada por João Parreira na Guitarra.


Está PRESENTE e leva outro amigo também.







(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Poesia de… José Afonso (Zeca Afonso)




Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade




José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (Aveiro, 2 de Agosto de 1929 — Setúbal, 23 de Fevereiro de 1987), foi um cantor e compositor português. É também conhecido pelo diminutivo familiar de Zeca Afonso, apesar de nunca ter utilizado este nome artístico.


Vida pessoal e formação

Nasceu no dia 2 de Agosto de 1929, na Freguesia de Glória, em Aveiro, filho de José Nepomuceno Afonso dos Santos, juiz, natural do Fundão, e de sua mulher Maria das Dores Dantas Cerqueira, Professora, de Ponte de Lima. Viveu naquela localidade até aos três anos, numa casa do Largo das Cinco Bicas, com a tia Gé e o tio Chico, bem como com seu irmão João Cerqueira Afonso dos Santos (1927), Advogado, pai de dois dos seus sobrinhos. Com aquela idade foi levado para Angola, onde o pai havia sido colocado como delegado do Procurador da República, em 1930, e onde nasceria em Silva Porto a sua irmã Maria Cerqueira Afonso dos Santos, mãe de seus sobrinhos, também músicos, João Afonso Lima e António Afonso Lima.

A relação física com a natureza causou-lhe uma profunda ligação ao continente africano, que se reflectirá pela sua vida fora. As trovoadas, as florestas e os grandes rios atravessados em jangadas escondiam-lhe a realidade colonial.

Em 1937 regressa a Aveiro, mas parte no mesmo ano para Moçambique, onde se reencontra com os pais e os irmãos em Lourenço Marques.

No ano seguinte, volta para Portugal, indo viver em Belmonte , com o tio Filomeno, que ocupava o cargo de presidente da Câmara. Completa a instrução primária nesta localidade, e convive com o mais profundo ambiente do Salazarismo, de que seu tio era fervoroso admirador, sendo obrigado a envergar o traje da Mocidade Portuguesa.

Em 1939 os seus pais foram viver para Timor, onde seriam cativos dos ocupantes japoneses durante três anos, entre 1942 e 1945. Durante esse período, Zeca Afonso não teve notícias dos pais.

Frequentou o Liceu Nacional D. João III e a Faculdade de Letras de Coimbra, e integrou o Orfeão Académico de Coimbra e a Tuna Académica da Universidade de Coimbra; já nesta altura, revelou-se um intérprete especialmente dotado no Fado de Coimbra, tendo assimilado o ambiente de mudança que, naquela altura, se estava a começar a manifestar naquela localidade.

Em 1948 completa o Curso Geral dos Liceus, após dois chumbos.

Conhece Maria Amália de Oliveira, uma costureira de origem humilde, com quem vem a casar em segredo, por oposição da família. Continua na vida associativa, fazendo viagens com o Orfeão Académico de Coimbra e com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra2 , ao mesmo tempo que integra a equipa de futebol da Académica. Em 1949 inscreve-se no curso de Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Volta a Angola e Moçambique, integrado numa comitiva do Orfeon  Académico de Coimbra.

Faleceu em 23 de Fevereiro de 1987 , no Hospital de Setúbal, às três horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.


Carreira profissional, artística e política

Do início da carreira docente até à Década de 1960

Em Janeiro de 1953 nasce-lhe o primeiro filho, José Manuel. Para sustentar a sua família, Zeca Afonso dá explicações e faz revisão de textos no Diário de Coimbra. Pela mesma altura grava o seu primeiro disco, Fados de Coimbra. Tem grandes dificuldades económicas, como refere em carta enviada aos pais em Moçambique. Ainda antes de terminar o curso, é lhe permitido leccionar no Ensino Técnico.

Cumpriu, de 1953 a 1955, em Mafra e Coimbra, o Serviço Militar Obrigatório; pouco depois, começa a leccionar, passando, sucessivamente, por Mangualde, Alcobaça, Aljustrel, Lagos, eFaro.2 Iniciou as suas funções como professor em Lagos no dia 29 de Outubro de 1957, na Escola Comercial e Industrial Vitorino Damásio.

Em 1956 é colocado em Aljustrel e divorcia-se de Maria Amália. Em 1958 envia os filhos para Moçambique, que ficam ao cuidado dos avós. Entre 1958 e 1959 é professor de Francês e de História, na Escola Comercial e Industrial de Alcobaça.

Apesar das exigências da sua profissão, não esqueceu as suas ligações a Coimbra, onde gravou o seu primeiro disco, em 1958. Foi influenciado pelas correntes de mudança que se faziam sentir naquela localidade, e pelo convívio com figuras como António Portugal, Flávio Rodrigues da Silva, Manuel Alegre, Louzâ Henriques, e Adriano Correia de Oliveira, que marcou especialmente a sua obra Coimbrã.


Do período de intervenção social até à expulsão do ensino

Participa, frequentemente em festas populares e canta em colectividades, lançando, em 1960, o seu quarto disco, Balada do Outono. Em 1962 segue atentamente a crise académica de Lisboa, convive, em Faro, com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa. Começa a namorar com Zélia, natural da Fuzeta, com quem virá a casar. Segue-se uma nova digressão em Angola, com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra, no mesmo ano em que vê editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal. Nesse disco José Afonso rompe com o acompanhamento das guitarras de Coimbra, fazendo-se acompanhar, nas canções Minha Mãe e Balada Aleixo, pelas violas de José Niza e Durval Moreirinhas.

Em 1963 termina a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre, intitulada Implicações substancialistas na filosofia sartriana.

No mesmo ano são editados os primeiros temas de carácter vincadamente político, Os Vampiros e Menino do Bairro Negro — o primeiro contra a opressão do capitalismo, o segundo, inspirado na miséria do Bairro do Barredo, no Porto — integravam o disco Baladas de Coimbra, que viria a ser proibido pela Censura. Os Vampiros, juntamente com Trova do Vento que Passa (um poema de Manuel Alegre, musicado por António Portugal e cantado por Adriano Correia de Oliveira) viriam a tornar-se símbolos de resistência anti-Salazarista da época.

Realiza digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia, integrado num grupo de fados e guitarras, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda Amoedo.

Em Maio de 1964 José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção Grândola, Vila Morena. A música viria a ser a senha do Movimento das Forças Armadas no golpe de 25 de Abril de 1974, permanecendo como uma das músicas mais significativas do período revolucionário. Ainda naquele ano são lançados os álbuns Cantares de José Afonso e Baladas e Canções.

Ainda em 1964, José Afonso estabelece-se em Lourenço Marques, com Zélia , reencontrando os filhos do anterior casamento. Entre 1965 e 1967 é professor no Liceu Pêro de Anaia, na cidade da Beira, e em Lourenço Marques . Colabora com um grupo de teatro local, musicando uma peça de Bertolt Brecht, A Excepção e a Regra. Manifesta-se contra o colonialismo, o que lhe causa problemas com a PIDE, a polícia política do Estado Novo.

Em Moçambique nasce a sua filha Joana, em 1965.

Residiu, entre 1964 e 1967, em Moçambique, acompanhado pelos dois filhos e pela sua companheira, Zélia, tendo ensinado na Beira, e em Lourenço Marques . Nesta altura, começa a sua carreira política, em defesa dos ideais de independência, o que lhe valeu a atenção dos agentes do governo colonial.


Intervenção política até à Revolução de 25 de Abril

Quando regressa a Portugal, em 1967, é colocado como professor em Setúbal; no entanto, fica a leccionar pouco tempo, pois acaba por ser expulso do ensino oficial, depois de um período de doença. Para sobreviver, começa a dar explicações. A partir desse ano, torna-se definitivamente um símbolo da resistência democrática. Mantém contactos com a Liga de Unidade e Acção Revolucionária e o Partido Comunista Português — ainda que se mantenha independente de partidos — e é preso pela PIDE. Continua a cantar e participa no I Encontro da Chanson Portugaise de Combat, em Paris, em 1969. Grava também Cantares do Andarilho, recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo Melhor Disco do Ano, e o prémio da Melhor Interpretação. Para que o seu nome não seja censurado, Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa.

Em 1971 edita Cantigas do Maio, no qual surge Grândola, Vila Morena. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP Eu vou ser como a toupeira. Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum Venham mais Cinco. Ao mesmo tempo, começa a dedicar-se ao canto, e apoia várias instituições populares, enquanto que continua a sua carreira política na Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

Entre abril e maio de 1973 esteve detido no Forte-prisão de Caxias pela PIDE/DGS.


Período após a Revolução dos Cravos

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, acentua a sua defesa da liberdade, tendo realizado várias sessões de apoio a diversos movimentos, em Portugal e no estrangeiro; retoma, igualmente, a sua função de professor. Continuou a cantar, gravando o LP Coro dos Tribunais, ao mesmo tempo que se envolve em numerosas sessões do Canto Livre Perseguido, bem como nas campanhas de alfabetização do MFA. A sua intervenção política não pára, tornando-se um admirador do período do PREC. Em 1976 declara o seu apoio à campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho.

Os seus últimos espectáculos terão lugar nos coliseus de Lisboa e do Porto, em 1983, numa fase avançada da sua doença. No final desse mesmo ano é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa a distinção.

Em 1985, é editado o seu último álbum de originais, Galinhas do Mato, no qual, devido estado da doença, Zeca não consegue interpretar todas as músicas previstas. O álbum acaba por ser completado por José Mário Branco, Sérgio Godinho, Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. Em 1986 apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo a Presidente da República.


Prémios e homenagens

Foi laureado pela Casa da Imprensa, como o melhor compositor e intérprete de música ligeira, nos anos de 1969, 1970 e 1971.

Foi, igualmente, homenageado pela Câmara Municipal de Lagos, que colocou o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.

Foi igualmente homenageado pela Câmara Municipal do Porto, que colocou o seu nome em Rua que faz a ligação entre a Rua António Cândido e a Rua da Constituição.

Foi homenageado pela Câmara Municipal da Moita, freguesia de Alhos Vedros abrindo uma escola com o seu nome.

Em 2007, foi homenageado na IX Grande Noite do Fado Académico, na Casa da Música (Porto), numa organização do Grupo de Fados do ISEP e da Associação de Estudantes do ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto).


Legado

Oriundo do fado de Coimbra, foi uma figura central do movimento de renovação da música portuguesa que se desenvolveu na década de 1960 do século XX e se prolongou na década de 70, sendo dele originárias as famosas canções de intervenção, de conteúdo de esquerda, contra o Regime. Zeca Afonso ficou indelevelmente associado ao derrube do Estado Novo, regime de ditadura Salazarista vigente em Portugal entre 1933 e 1974, uma vez que uma das suas composições, "Grândola, Vila Morena", foi utilizada como senha pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), comandados pelos Capitães de Abril, que instaurou a democracia, em 25 de Abril de 1974.

Em 1994 seria editado Filhos da Madrugada Cantam José Afonso , um CD duplo em homenagem a Zeca Afonso. No final de Junho seguinte, muitas das bandas portuguesas que integraram o projecto, participaram num concerto que teve lugar no então Estádio José de Alvalade.

Em 24 de Abril de 1994 a CeDeCe estreia no Teatro S. Luiz o bailado Dançar Zeca Afonso, com música de Zeca Afonso e coreografia de António Rodrigues, uma encomenda do Município, a propósito da Capital Europeia da Cultura.

Muitas das suas canções continuam a ser gravadas por numerosos artistas portugueses e estrangeiros. Calcula-se que existam actualmente mais de 300 versões de canções suas gravadas por mais de uma centena de intérpretes, o que faz de Zeca Afonso um dos compositores portugueses mais divulgados a nível mundial. O seu trabalho é reconhecido e apreciado pelo país inteiro e Zeca Afonso, com a sua incidência política que as suas canções ganharam, indiscutivelmente representa uma parte muito importante da cultura poética portuguesa.


Discografia

Álbuns de estúdio

  • Baladas e canções (1964)
  • Cantares de andarilho (1968)
  • Contos velhos rumos novos (1969)
  • Traz outro amigo também (1970)
  • Cantigas do Maio (1971)
  • Eu vou ser como a toupeira (1972)
  • Venham mais cinco (1973)
  • Coro dos tribunais (1974)
  • Com as minhas tamanquinhas (1976)
  • Enquanto há força (1978)
  • Fura fura (1979)
  • Fados de Coimbra e Outras Canções (1981)
  • Como se fora seu filho (1983)
  • Galinhas do mato (1985)


Álbuns ao Vivo

  • José Afonso in Hamburg (1982)
  • Ao vivo no Coliseu (1983, álbum duplo)


Bibliografia activa

  • Cantares (1968)
  • Cantar de Novo (1969)
  • Quadras Populares (1980)
  • Textos e Canções (1986)


Bibliografia passiva

  • José Afonso - por José Viale Moutinho (1972, ed. espanhola 1975)
  • Zeca Afonso: As Voltas de um Andarilho - por Viriato Teles (1983)
  • Livra-te do Medo - Histórias e Andanças do Zeca Afonso - por José António Salvador (1984, reeditado, em versão revista e aumentada, em 2014)
  • Zeca Afonso - Poeta, Andarilho e Cantor - edição Associação José Afonso (1994)
  • José Afonso - O Rosto da Utopia - por José António Salvador (1994)
  • José Afonso, Poeta - por Elfriede Engelmeyer (1999)
  • As Voltas de um Andarilho - por Viriato Teles (1999, ed. aumentada; 2009, reedição actualizada)
  • Zeca Afonso antes do mito - por António dos Santos e Silva (2000)
  • José Afonso - Um olhar fraterno - por João Afonso dos Santos (2002)
  • José Afonso - Todas as Canções - por Guilhermino Monteiro, João Lóio, José Mário Branco e Octávio Fonseca (2010), Assírio & Alvim - ISBN 9789723715675

  
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

IN MEMORIAM - José Afonso


Coimbra - 23/02/2015


IN MEMORIAM

José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, (faz precisamente hoje 28 anos) no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.


Quem era José Afonso?

Exertos de enxertos substanciais da entrevista concedida por José Afonso
ao jornalista e escritor José Amaro Dionísio em Junho de 1985.


“Direita, esquerda. São noções que ainda determinam a sua relação com o mundo?
Não de forma maniqueísta. Nunca fiz isso e hoje ainda menos. Estamos sempre a mudar dentro daquilo que somos profundamente. A verdade é que a minha formação de origem é cristã. Até ao fim da adolescência eu ia regularmente à missa, assistia ao santo ofício, confessava-me. Hoje passa-se algo como o regresso às origens, não porque me tenha tornado de novo católico praticante, evidentemente, mas percebo que no fundo tenho uma concepção religiosa do universo. Vi um dia destes O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini, e fiquei perturbado. E estou a ler autores como São João da Cruz e São Francisco de Assis. Há uma espécie de reencontro com os ensinamentos de Cristo, não o Cristo institucional e eclesiástico da minha infância, mas o Cristo dos que têm fome e sede de justiça.

Que pode pedir a uma canção então?
Que faça bem aquilo que tem a fazer, que é do domínio da fruição musical, com o que isso implica de voz, arranjos, ritmos, intenção, energia. No meu caso o que fiz foi procurar conciliar isso com as raízes da nossa cultura musical reflectindo uma certa ordem de preocupações sociais, de solidariedade e afectividade.

Musicalmente fez o que queria fazer?
Não. Gostaria de ter trabalhado muito mais na investigação dos instrumentos, das lendas, da música regional. E fiz demasiadas sessões sem concretizar o que queria, como se depreende do que estou a contar.

Mas esteve preso várias vezes.
Sempre pequenas detenções. A maior foi de 21 dias. Estive incomunicável mas nunca me torturaram fisicamente.”


Para saber um pouco mais do pensamento de Zeca Afonso aceda AQUI

Para conhecer mais sobre a vida e obra deste cidadão português que contribuiu decisivamente para alterar o panorama musical em Portugal, sem que soubesse ler e escrever música, aceda ao Portal da “Associação José Afonso”.


HOMENAGENS A JOSÉ AFONSO
A QUE PODE ACEDER


Grândola - 23/02/2015


Guimarães - 23/02/2015


Évora - 27/02/2015


Porto - 27/02/2015


Grândola - 28/02/2015


Setúbal - 28/02/2015


Aveiro - 03/03/2015