segunda-feira, 9 de junho de 2014

Poesia de… Cesário Verde


DE TARDE
(Naquele “pic-nic” de burguesas)



Naquele “pic-nic” de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela
E que, sem ter história nem grandezas
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico
Foste colher, sem imposturas tolas
A um granzoal azul de grão de bic
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos
Nós acampámos, indo o sol se via
E houve talhadas de melão, damasco
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da rend
Dos teus dois seios como duas rolas
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas! 


(Cesário Verde – 1855-1886)





José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Azul e de Maria da Piedade dos Santos Amarelo, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais, destacando-se a revista Branco e Negro 1896-1898) e as actividades de comerciante herdadas do pai.

Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas,Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901.

No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.

Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre

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