quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

TINHA RAZÃO






TINHA RAZÃO



À LAIA DE INTRODUÇÃO

Foi com alguma expectativa que escutei o recém eleito Presidente da FPA (Manuel Bragança) numa entrevista que, conjuntamente com o Presidente da Direcção da AAP (José Couto), deu à Rádio Regional do Centro, no âmbito do programa “Agora Condeixa”, no passado dia 3 de Fevereiro.

Esta dupla e simultânea entrevista, eventualmente a primeira dada pelo Presidente da FPA após ter sido eleito, deve ser ouvida, sem preconceitos, mas com apurado sentido critico, pois algumas das opiniões ali expressas coincidem com as que ao longo de muitos anos venho divulgando.

Tenha-se, no entanto, consciência de que as palavras de qualquer dirigente de uma associação são importantes, mas a associação em si mesma só deve ser responsabilizada pelas afirmações se escritas e transcritas nos respectivos espaços oficiais. No caso em concreto deve ser colocada no Portal da FPA, presumindo-se, assim, que toda a Direcção aprovou e é solidária com os textos ali divulgados.

Como se pode constatar os entrevistados misturaram as ideias ao ponto de quem não for autocaravanista e/ou não for conhecedor das matérias ter dificuldade em as entender, não sendo, inclusive, possível encontrar um fio condutor. Por essa razão não segui a ordem cronológica das respostas dadas e fui obrigado a “pescar” ao longo de toda a entrevista, aqui e ali, as declarações que se inserissem numa ideia tipo. Com este processo de trabalho, que melhor me permitem exprimir algumas considerações, faço votos para que as intenções dos entrevistados cheguem mais facilmente ao conhecimento dos autocaravanistas.

Vejamos:


SETE MESES PARA ELEGER OS ÓRGÃOS SOCIAIS DA FPA

É do conhecimento geral que no fim-de-semana de 27/28 de Janeiro foram finalmente eleitos os Órgãos Sociais da FPA, acontecimento que veio quebrar o impasse em que se encontrava esta entidade desde Junho/2017 porquanto, não obstante terem sido marcadas várias datas para o acto eleitoral, só sete meses depois teve lugar a eleição.

Não estou a revelar nenhum segredo ao abordar a dificuldade que as associações que constituem a FPA terão tido em encontrar autocaravanistas disponíveis para fazer parte dos Órgãos Sociais da FPA, pois que esta dificuldade foi denunciada pelo Presidente da Direcção da AAP.

A realidade que o agora Presidente da FPA e o Presidente da Direcção da AAP não se coibiram de revelar, parece-me ser, além de um libelo acusatório à anterior gestão da FPA, também o apontar de um caminho alegadamente diferente do até então seguido.


A AAP ADERIU A FPA PORQUE O EXECUTIVO DE CONDEIXA A DESAFIOU

Ao longo de muitos anos muita tem sido a argumentação evocada por muitas associações para aderirem a uma federação, mas as razões evocadas, na entrevista, pelo Presidente da Direcção da AAP, para que a associação aderisse à FPA foram, quanto a mim, inovadoras. Tratou-se de um desafio. A AAP faz parte da FPA porque o Executivo de Condeixa a desafiou! Não sou eu que o digo. É o Presidente da Direcção da AAP que o afirmou na entrevista que deu.

Mas, disse mais o Presidente da Direcção da AAP. Deu a conhecer que antes da entrada da AAP na FPA contactou com a autarquia (de Condeixa) que recebeu de “braços abertos” o Projecto.

Não se entende muito bem de que Projecto, objectivamente, se trata: Trata-se da filiação da AAP na FPA? Trata-se da indicação do Presidente da FPA pela AAP? Trata-se da domiciliação da sede da FPA em Condeixa? Trata-se da (hipótese da) realização de um Encontro Autocaravanista Internacional em Condeixa?

O importante, contudo, porque foi isso que foi realçado e nada mais, é que o motivo (pelo menos o principal) que levou a AAP a federar-se na FPA foi o desafio que foi lançado pelo Executivo de Condeixa. Somos forçados a concluir que se o Executivo de Condeixa não tivesse lançado o desafio a AAP não se teria federado?


A AAP NASCEU PARA REFORÇAR A FPA,
MAS A “VELHA” FPA NÃO ERA O QUE ESPERAVAM

Estava convencido que a AAP tinha nascido da vontade de autocaravanistas promoverem um tipo de associativismo turístico eventualmente diferente daquele que era praticado pelas associações então existentes. Fiquei surpreendido quando ouvi o Presidente da Direcção da AAP afirmar que quando ela nasceu foi para reforçar a FPA. Contudo, acrescentou, a FPA não era o que esperavam que fosse, motivo, digo eu, pelo qual não aderiram à FPA e só agora o fizeram, uns 6 anos depois. Poderemos, então, deduzir que para o Presidente da Direcção da AAP a FPA só passou a ser o que esperavam que fosse quando o agora actual Presidente passou a ser alguém de confiança? De confiança da AAP, suponho!


HÁ O RISCO DE A AAP SE DILUIR NA FPA?

Nesta entrevista ficámos também a saber pela boca do Presidente da Direcção da AAP que a FPA vai realizar o 1º colóquio no próximo mês de Julho que, por coincidência, se realiza na data do aniversário da AAP. Soubemos, igualmente, que a sede da FPA ficará numa sala situada no mesmo local (quem sabe se a paredes meias) com a futura sede da AAP. Mais ficámos a saber que nas festas que têm lugar em Condeixa no mês de Fevereiro, a participação este ano é da responsabilidade da AAP, mas que nos anos vindouros a colaboração da FPA será uma realidade.

Perante este tipo de interação, entre a AAP e a FPA, é significativo (ou talvez não) que a resposta do Presidente da Direcção da AAP não seja totalmente clara e objectiva quando o entrevistador lhe perguntou se não existe a possibilidade de a AAP se diluir na FPA. Note-se que a primeira reacção do Presidente da AAP foi: “Pelo contrário”. Não posso deixar de reflectir que face às condições em que a nova (?) FPA vai funcionar não seria surpresa que fosse a FPA a diluir-se na AAP. Nesta questão atente-se também nas declarações do Presidente da FPA ao longo de toda a entrevista.


MENSAGENS DO NOVO PRESIDENTE DA FPA

O destaque da entrevista centrou-se, contudo, no Presidente da Federação que, contrariamente ao que eu esperava, não abordou alguns temas que são polémicos no seio do Movimento Autocaravanismo de Portugal.


Realço algumas das ideias do Presidente da FPA que me fizeram sorrir. Atente-se no que ele disse:


A FPA estava parada, inactiva e é a entrada da AAP que veio trazer uma nova dinâmica; nos mandatos anteriores a federação era anímica (?)

Não me parece muito ético, logo na primeira intervenção pública, o Presidente da FPA vir criticar a actividade do anterior Presidente e da anterior equipe dirigente, acusando-os de inactividade. Porém, em boa verdade, conforme tantas vezes eu próprio o afirmei, não deixa de ter razão.


Assumir o compromisso de colocar o autocaravanismo acima dos projectos pessoais

Senhor Presidente da FPA, não quer explicar melhor? Na FPA havia projectos pessoais? Talvez tenha razão, mas dessa alegada postura nunca eu acusei ninguém.


Transformar a imagem de “Feios, Porcos e Maus” que têm os autocaravanistas

Não exagere, Senhor Presidente da FPA, também não é tanto assim. E, já agora, se é assim, como diz, como é que vai proceder para fazer aquilo que o anterior Presidente (e a respectiva equipe) não fizeram e/ou não conseguiram fazer ao longo de vários anos?


A sede da FPA tem que ser em Condeixa: (1) porque é a sede do principal Clube da FPA (ou seja da AAP); (2) porque a AAP tem um número significativo de sócios e é (Condeixa) um lugar geométrico (?); (3) porque fica relativamente perto (da AAP, deduzo)

Com todo o respeito Senhor Presidente da FPA permita-me que alvitre que a principal razão reside no facto de autarquia disponibilizar instalações, eventualmente gratuitas. Não será?


Os sócios da FPA (CAS, CAI e Gardingo) têm o mérito de ter fundado a FPA, PONTO

Não acredito! O Presidente de uma Federação, numa entrevista pública dada no exercício do cargo, afirma que 75% dos clubes que constituem a federação APENAS têm o mérito de ter sido fundadores? Se não foi isso porque é que terminou a frase com a palavra PONTO. Ponto é ponto final. Nada mais há a dizer. Foram fundadores, ponto!


Os sócios do CAS, CAI e Gardingo têm no seu conjunto menos sócios que a AAP

Se não tivesse ouvido esta afirmação ser-me-ia muito difícil acreditar que ela tinha sido proferida pelo Presidente da FPA, porque ela, a afirmação, constitui em si mesma o demérito destes 3 clubes relativamente à AAP de que, recordo, o Presidente da FPA é sócio. Não é compreensível que um dirigente, não obstante poder não estar a mentir, subalternize alguns dos associados que o elegeram com afirmações absolutamente desnecessárias porque despropositadas

No entanto, esta informação do Presidente da FPA, conjugada com a informação do Presidente da AAP de que seu clube tem 347 sócios, faz-nos concluir, fazendo as contas, que a FPA através dos seus quatro clubes federados representa, indirectamente e no máximo, 693 autocaravanistas. Ou seja, a FPA representa indirectamente 11,55% dos autocaravanistas num universo presumível de 6000.

Para conhecimento registe-se que a “Associação Autocaravanista de Portugal – CPA”, no mesmo presumível universo de autocaravanistas, representa, directamente, pelo menos, 16,66% de autocaravanistas.


FICM – FÉDÉRATION INTERNATIONALE DES CLUBS DE MOTORHOMES

Lembram-se da FICM? Aquela entidade na qual o CPA foi federado por deliberação exclusiva de uma Direcção presidida pelo actual secretário da Mesa da Assembleia Geral da FPA (Ruy Figueiredo) e à revelia dos sócios do CPA que não foram chamados a pronunciar-se? Aquela entidade da qual o CPA acabou por se retirar por deliberação dos sócios? A mesma entidade a que, quase após o CPA a ter abandonado, a FPA correu a federar-se? Pois sobre essa federação pronunciou-se na generalidade o Presidente da Direcção da AAP de uma forma um pouco confusa. Mesmo muito confusa...

Não quero, no entanto, deixar, de realçar algumas referências que o Presidente da FPA fez sobre a FICM. São dele estas observações:


A FPA irá organizar um Encontro autocaravanista MUNDIAL em Condeixa, com o apoio da Câmara Municipal; este encontro tem a designação de EUROCC e estima-se que participem 500, 600, 700, 800 autocaravanas.

Descodificar a linguagem do Presidente da FPA não é difícil, mas é necessário.

Esclareço que não se trata de um Encontro mundial, como o disse o Presidente da Direcção da FPA, mas de um Encontro europeu e, por isso mesmo, estes Encontros designam-se, genericamente, por EUROCC (Euro de Europa e CC de Camping Cars)

Já quanto à quantidade previsível de eventuais participantes, pelo que adiantou o Presidente da FPA, tanto podem ser 500, como 600, como 700, como 800. Ou será um número entre 500 e 800? Ou será um número qualquer?!...


A FPA irá apresentar ainda este ano na Assembleia da FICM a proposta de realização do EUROCC em Portugal

Não façam já planos, não reservem lá lugar, porque afinal o Encontro em Condeixa ainda não é uma realidade. É apenas uma proposta de candidatura para se realizar ainda se não sabe em que ano, mas, esclareceu o Presidente da FPA, será para um ano relativamente breve. Ficámos todos esclarecidos!


Na FICM são federados todos os países da Europa ou praticamente todos.

O Senhor Presidente da FPA peca pelo exagero. Primeiro, declarou que era um Encontro autocaravanista mundial, mas logo corrigiu para um Encontro Europeu. Depois, no decorrer da mesma entrevista, vem considerar que a FICM tem a representação de todos os países da Europa ou, condescendeu logo de imediato, de quase todos.

Na realidade os países com organizações aderentes à FICM são, presentemente, apenas 10 (dez). A saber: Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Grã-Bretanha, Grécia, Itália, Luxemburgo, Portugal e Suíça. Que eu saiba a Europa é constituída por muitos mais países. Mais que o quádruplo, Senhor Presidente! Precisamente por 46 países.

Por uma questão de curiosidade esclareço que a FICM teve alguns revezes com algumas organizações que eram aderentes. A título de exemplo: Em Portugal o “CPA” abandonou a FICM tendo a FPA, ainda sem existência legal, corrido a candidatar-se; em Espanha a “Federacion Española de Asociaciones Autocaravanistas” abandonou a FICM e aderiu à Federação Internacional de Campismo, Caravanismo e Autocaravanismo, tendo sido ocupado o lugar, à época, por uma única associação; na Holanda o “Nederlandese Kamperauto Club”, com 15000 associados, abandonou a FICM não se tendo nenhum outro clube Holandês candidatado ao lugar.


POLÍTICA AUTOCARAVANISTA

Estava com alguma (não muita) esperança que o Presidente da FPA nos revelasse a política autocaravanista que a Direcção da FPA tinha acordado e que iria desenvolver em defesa dos direitos, interesses e garantias dos autocaravanistas.

Rapidamente a esperança desvaneceu-se perante a pequenez dos objectivos de política autocaravanista revelados na entrevista.

Do que o Presidente da FPA disse sobre esta temática extraí as seguintes ideias:


Os autocaravanistas devem associar-se nos Clubes para lhes dar mais força

É um óptimo desejo expresso pelo Presidente da FPA. Fazer subir a percentagem de cerca dos actuais 11,55% de autocaravanistas que são sócios dos Clubes federados na FPA, para uns 30 ou 40% seria muito bom e possivelmente daria mais força ao Movimento Autocaravanista de Portugal. Mas, para isso, o Senhor Presidente da FPA está a esquecer-se de que é necessário fomentar a confiança dos autocaravanistas nesses Clubes e apontar os caminhos para o conseguir. E é também imprescindível que o Presidente da FPA não faça afirmações que sobrevalorizem um clube em detrimento dos restantes, como atrás referi.


As autocaravanas devem estar no local que pretendem visitar 48/72 horas

Quis mesmo dizer isto Senhor Presidente da FPA? É que esta era a política do seu antecessor que em Comunicado da FPA defendia que as autocaravanas não devem poder estacionar fora de parques especializados por períodos superiores a 48 horas. Não quero acreditar que esta seja a sua política, porque a sê-lo constitui uma discriminação negativa do veículo autocaravana. Como é do conhecimento de quem tem Carta de Condução os veículos, desde que não haja disposição camarária em contrário, podem estar estacionados até 30 dias. Se viesse a haver uma disposição Camarária dirigida apenas às autocaravanas seria ilegal. E as ilegalidades, segundo afirmou o Presidente da FPA na entrevista, tiram-no do sério.


O Código da Estrada tem que ser cumprido

Pois tem, Senhor Presidente da FPA, pois tem. Desde 2010 que o ando a dizer, contrariando a política da FPA que propõe uma lei especifica para o autocaravanismo. A FPA, inclusive, exortou os autocaravanistas a subscreverem uma Petição de apoio a essa legislação específica que, presentemente, conta com “assinatura” de 888 pessoas, incluindo as de dirigentes dos fundadores da FPA. O que vai agora dizer a essas 888 pessoas, Senhor Presidente da FPA?


À LAIA DE CONCLUSÃO

Estes meus comentários já vão longos e mais longos iriam não fora com isso poder enfadar os que me leem. Esforcei-me, acreditem!, para ser o mais sintético possível. Não consegui.

Da entrevista ressalta a ideia de que o Presidente da FPA quer fazer um corte com o passado. Estarei errado? Se estiver errado iremos ter na FPA mais do mesmo. Se estiver certo, não duvido que a mudança, para melhor se for para diferente, só será possível com alterações significativas e profundas na política até aqui seguida e que promovam, por isso, se é que ainda é viável, a credibilidade da FPA.

Para que exista credibilidade é imprescindível haver transparência nos processos de mudança e não só. Não bastam declarações, eventualmente bem intencionadas, dos dirigentes da FPA. É necessário que no espaço virtual oficial da FPA seja transcrita de forma muito clara a política autocaravanista. Para tanto sugiro, desde já, uma resposta positiva a, pelo menos, os seguintes quesitos:

P: Que política autocaravanista para Portugal?
R: Uma política baseada na Declaração de Princípios.

P: Um autocaravanista campista deve ser discriminado?
R: A discriminação negativa nunca deve ser assumida.

P: Os objectivos associativos devem ser limitados?
R: Não, para todos se sentiram integrados.

P: A filiação na FICM serve os autocaravanistas?
R: Não! Não serve os interesses dos autocaravanistas.

P: A igualdade discrimina as associações?
R: Sim, se o binómio quota/voto não for ponderado.

P: Justifica-se haver uma lei para o autocaravanismo?
R: Para pior, embora ilegalmente, já basta o que basta.

P: Mandatos limitados e transparência associativa?
R: Sim, sem dúvida.

Digamos que se resolvidos satisfatoriamente estes sete pecados capitais da FPA (ver AQUI o desenvolvimento) será possível avançar para um estágio superior de acreditação, mas, antes, é ainda necessário um acto de contrição do Presidente, em nome da FPA:

Pedir humildemente desculpa aos 888 subscritores da Petição da FPA em que se exigia a aprovação de uma lei específica para o autocaravanismo.



NOTA: A entrevista aos Presidentes da FPA e da Direcção da AAP pode ser acedida AQUI ou AQUI


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)



1 comentário:

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    Este artigo de opinião foi visualizado 487 vezes no período compreendido entre as 00 e as 24 horas do dia 15 de Fevereiro de 2018.
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    Aos que acederam ao artigo de opinião os meus agradecimentos pelo interesse.

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