quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O natal é que passou




O natal é que passou

No dia 24 de Dezembro estarei sentado a uma pequena mesa com a minha pequena família. Uma mesa farta em que não faltará o bacalhau da Noruega (espero que ainda sem fosfatos), as batatas, as couves, o ovo (devidamente carimbado), tudo regado com o bom azeite português (talvez ainda não adulterado) que faz parte da tão falada dieta mediterrânica, além, claro, de muitos e muitos doces (sem edulcorantes). Ah!, já me esquecia do bom vinho português (sem sulfitos, claro).

O meu neto estará desejoso que o jantar termine rapidamente para correr a abrir os presentes que se acumularão sob a árvore de natal, uma imitação de um pinheiro natural, que alguém da família foi buscar à arrecadação e encheu de luzes e bolas, vermelhas, e que no passado chamávamos encarnadas por causa das conotações politicas.

Se a noite estiver fria teremos o aquecimento ligado e, muito importante, a televisão sintonizada num qualquer programa apropriado. Talvez passe uma reportagem sobre os “sem-abrigo”, onde se vêm algumas dezenas de voluntários a oferecerem uma sopa quente, tudo em directo, o que nos fará sentir momentaneamente desconfortáveis, mas só momentaneamente, porque logo de seguida somos visualmente brindados com ceias de natal, verdadeiros deslumbramentos gastronómicos, servidas numas quaisquer salas decoradas a primor, para satisfação de quem as pode pagar.

Por essa altura já o meu neto terá desfeito completamente os embrulhos e regozijar-se-á com aquele presente que durante um mês ou dois se não cansou de “gritar” a toda a família que era o queria que lhe desse o pai natal (no meu tempo era o menino jesus).

Nestes jantares tradicionais não me parece que haja tempo para pensar nos mais de dois milhões de portugueses e nos muitos e muitos milhões que noutras partes deste maltratado planeta não têm uma alimentação mínima, uma habitação condigna, um acesso a cuidados de saúde elementares, uma oferta educativa quanto baste, porque, simplesmente porque, tiveram o azar de ter nascido na parte errada do mundo e da sociedade.

E haverá tempo para a solidariedade? Sabemos o que é ser-se solidário? Sabemos?


Há muitos, mesmo há muitos anos, foi atribuída a um preso a autoria deste poema:

É Natal. E pr’a meu mal,
No lugar em que estou,
Eu não passei o Natal.
O Natal é que passou…



Para todos, mesmo com o natal a passar, os meus votos de Boas Festas.

(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)

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