quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Como uma palavra faz a diferença


Imagem: http://www.marianistas.org


COMO UMA PALAVRA FAZ A DIFERENÇA
(Peregrino)

A razão pela qual nos Estatutos da maioria esmagadora das entidades existentes em Portugal está consignada a independência dessas associações em relação ao estado, aos partidos políticos e às instituições religiosas relaciona-se com o respeito pelas opções políticas e religiosas dos respectivos sócios, permitindo que nessas instituições possam participar, sem constrangimentos, todos os cidadãos.

Evidentemente que nada impede que uma qualquer associação se reconheça no âmbito de um qualquer partido, religião, ideologia ou filosofia, mas, ao fazê-lo, está a passar a mensagem de que quem não for desse partido, dessa religião, dessa ideologia ou dessa filosofia ou não é bem-vindo ou deve abster-se de comentários contrários.

É pois, perfeitamente legal (e mais que legal, perfeitamente legitimo) que um Grupo de Autocaravanistas (católicos, apostólicos, romanos) entenda promover um Encontro Autocaravanista em Fátima, numa demonstração de fé. Tal como seria legítimo que os maometanos organizassem uma peregrinação autocaravanista a Meca (ou uma concentração junto da Mesquita em Lisboa) ou os autocaravanistas Judeus realizassem um outro qualquer evento público demonstrativo da sua fé. Nada há, portanto, a opor. E, mesmo que eu, pessoalmente, tivesse algo a opor, a lei portuguesa dá cobertura a estas manifestações. E ainda bem, porque foi precisamente para isso, para haver liberdade de religião, liberdade de associação, liberdade de expressão, para que haja liberdades, que teve lugar a Revolução dos Cravos. E, sempre que estiver em causa algum destes direitos, não deixarei de me manifestar com aqueles que estejam em perigo de não poder, por exemplo, praticar a respectiva fé, no âmbito do respeito pelos direitos humanos. Por outras palavras: sempre que os católicos, apostólicos, romanos forem proibidos de poder praticar a respectiva religião, eu estarei a lutar com eles por esse direito.

Vem isto a propósito da organização de uma peregrinação a Fátima em que alguns intervenientes consideram que essa peregrinação autocaravanista configura o “Dia Nacional do Autocaravanista”, ignorando o que é o apanágio de um Dia Nacional.

O Dia Nacional do Autocaravanista só o pode ser se incluir nesse Dia todos os que se reconhecerem em abrangentes valores autocaravanistas e, que eu saiba, a peregrinação a Fátima é um evento de cariz eminentemente religioso em que NEM TODOS os autocaravanistas se revêm. Mesmo muitos dos que professam a religião Católica, Apostólica e Romana não aceitam Fátima.

Portanto, quando alguns intervenientes dizem e querem que esse evento autocaravanista em Fátima - que é um evento religioso, com liturgia e missa, que se prevê que venha a ser repetido anualmente como uma manifestação de fé - seja o Dia Nacional do Autocaravanista, afirmo, convictamente, que estão a ostracizar (desse Dia que querem que seja Nacional) os Companheiros Autocaravanistas que não são católicos, apostólicos, romanos. Como querem pois, esses intervenientes, que esse dia seja Nacional, dia de TODOS os autocaravanistas, se o realizam em Fátima num âmbito de cerimónias religiosas que nada dizem a todos e em que não acreditam judeus, maometanos, hindus, protestantes (das diversas igrejas, como os anglicanos) Já não falando dos ateus!

Mas, a realidade e a verdade é bem diferente da que alguns intervenientes pretendiam ao tentar, consciente ou inconscientemente, apoderar-se do que deveria ser o DIA NACIONAL DO AUTOCARAVANISMO, um dia de TODOS os autocaravanistas e não só de alguns.

Fiquei a saber como uma simples palavra faz a diferença e também que o Dia Nacional do Autocaravanista é, em boa verdade, o “Dia Nacional do PEREGRINO Autocaravanista em Fátima” que resulta de um acordo com o Serviço de Peregrinos (SEPE) e o Serviço de Administração (SEAD) do Santuário de Fátima.

Infelizmente alguns dos cartazes anunciadores do evento continuam a passar uma mensagem dúbia ao não referir que se trata do Dia Nacional do PEREGRINO Autocaravanista, ou seja, a palavra PEREGRINO foi deixada no tinteiro. Intencionalmente? Contudo, a informação sobre o acordo com o SEPE e o SEAD configura uma substancial diferença.

Nesta perspectiva e considerando que se trata de uma peregrinação em autocaravana a Fátima que culminará no Dia Nacional do PEREGRINO Autocaravanista, não quero deixar de desejar aos Peregrinos Autocaravanistas que consigam encontrar as respostas para os respectivos anseios.

Quanto ao Dia Nacional do Autocaravanista (ou Dia Nacional do Autocaravanismo) será um dia a construir num futuro que se quer próximo e com a participação possível de TODOS os autocaravanistas.

(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) –  AQUI)


3 comentários:

  1. Á semelhança de outras atitudes, em que se tenta por todos os meios possíveis "dominar" o Autocaravanismo, apenas para aumentar o ego e a vaidade pessoal, acompanhada da sede de protagonismo, parece-me claramente mais uma tentativa, falhada, de, um dia mais tarde, virem a terreiro vangloriarem-se do feito inédito!

    Assim tem sido no que a criação de "clubes", de bairro, de rua, de garagem, quando não apenas de casa, em que se pretendia protagonismo de criar uma "coisa" maior!

    A "coisa" surgiu, com estatutos que mais parecem perpetuar a "dinastia", onde poucos podem algum dia contestar o que quer que seja.

    Pretendeu-se com o "cristianismo", e com a fé das pessoas, criar-se efectivamente o famoso "Dia do Autocaravanismo", tão ansiosamente procurado por todas as forças, até as do "além"!

    Esqueceram-se pois que os Autocaravanistas não são obrigados a seguir esta ou aquela religião, e muito menos são obrigados a ser Autocaravanistas, ou mesmo Autocampistas, para poderem reunirem-se em Fátima e sem a vaidade promover a sua Fé!

    Mais um tiro no pé!

    Enfim! Ficam as intenções, e fica também o sinal de que esta gente não desiste de chegar ao objectivo pretendido, que não é certamente o Autocaravanismo Itinerante mas outra qualquer coisa, que me parece repugnante!

    É só uma impressão minha, como muitas que ao longo de três décadas se têm demonstrado correcta após a descoberta da "verdade"!

    Mais uma vez, enquanto Autocaravanista Itinerante, repudio este tipo de atitudes que em nada dignificam a causa e colocam em causa também a Fé, porque a grande maioria dos Autocaravanistas não é de frequentar o Culto Religioso e muito menos frequentar a Santa Missa Dominicalmente como o "impõem" o seu dogma!

    Estou mesmo a ver reunirem-se numa Cerimónia Religiosa gente que nem sabe o que é rezar, quanto mais participar activamente numa Missa!

    Mas isso são outros quinhentos e ninguém, Autocaravanista ou não, é obrigado a ir à Missa todos os Dias Santos.

    Aplaudo a denuncia.

    Um abraço e até sempre,

    José Gonçalves
    (Guimarães)

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  2. Sem a eloquência do acima comentador, subscrevo na íntegra.

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