quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Onde é que eu errei?!!



Cangas de Onis (Astúrias)


Onde é que eu errei?!!

(Mini crónicas de uma viagem por Espanha)


Nesta minha viagem pelo norte da Península Ibérica não quis deixar de voltar a Cangas de Onis, com o objectivo de visitar Covadonga que não conhecia.

Cangas de Onis faz parte da comunidade autónoma das Astúrias e foi ali que em 737 morreu o imortal guerreiro católico Pelágio das Astúrias, fundador e primeiro monarca do Reino.

A alguns quilómetros de Cangas de Onis fica Covadonga onde Pelágio à frente de forças militares Cristãs obteve uma vitória sobre o Governador provincial Munuza, assegurando a soberania Cristã na Península.

Cheguei a Cangas de Onis numa tarde de um Domingo e deparei-me com o largo onde se situa a Área de Serviço para autocaravanas ocupado por uma monumental feira: carroceis, carrinhos de choque, barracas de comes e bebes e outras, dois palcos para actuações musicais e, num enorme espaço, coberto por uma gigantesca lona que protegia do sol milhares de pessoas que sentadas ao longo de mesas corridas, comiam, bebiam e confraternizavam. O barulho, das conversas, dos gritos das crianças, das músicas, era ensurdecedor.

A menos de 50 metros daquela monumental festa, paredes meias com a estação de autocarros, um enorme Parque de Estacionamento estava repleto de viaturas de todas as cores, tamanhos, marcas e modelos. Autocaravanas? nem vê-las! Sem grandes esperanças entrei no Parque e (MILAGRE!) consegui o que me pareceu ser o único lugar livre, muito apertadinho e com uma grande inclinação.

Era Domingo, no dia seguinte as pessoas teriam que se levantar cedo para irem trabalhar, logo, pensei, por volta da meia-noite, mais ou menos, a festa terminaria e a maioria dos carros abandonaria o Parque de Estacionamento, o que me permitiria encontrar um lugar mais nivelado, melhor, para passar a noite. Decidi pernoitar naquele local.

Como ainda era cedo, umas 3 da tarde, fui dar um passeio por Cangas de Onis, que aliás já conhecia, fiz algumas compras, jantei e cerca das 23 horas regressei à autocaravana. Estava um pouco cansado pelo que me deitei.

O barulho da festa era, parecia-me, cada vez maior. Os conjuntos musicais “berravam” de tal forma que deveriam estar a ser ouvidos em Barcelona. Os carros que rodeavam a autocaravana, esses, mantinham-se totalmente imobilizados. Bem, pensei, mais uma horita e a festa acaba.

Duas da manhã e não conseguia dormir de tão animada e barulhenta continuava a festa. Claro, deduzi, a polícia deu-lhes uma pequena tolerância.

Três da manhã, sem pegar no sono, vociferava em silêncio (contrastando com o barulho do exterior), dizendo mal de tudo e de todos.

Quatro da manhã e a festa estava no auge! MAS ESTA GENTE NÃO TRABALHA!, gritava furibundo para a minha mulher. Gritava, porque se falasse num tom de voz normal não me conseguiria fazer ouvir, tão forte era a barulheira no exterior.

Pelas cinco horas da manhã, sem que a festa desse sinais de acalmia, adormeci cansado. Finalmente, dirão os que me lêem. Enganam-se! Por volta das seis horas acordei com o barulho dos motores dos carros que abandonavam o Parque de Estacionamento, com animadas conversas dos respectivos ocupantes e com o som alternado das portas do carros que os ocupantes não se coibiam de fechar (bater) energicamente.

Oito da manhã! Tudo parecia mais calmo. Finalmente ia tentar dormir um pouco. Pois! De repente eis que chegam os carros do lixo, o pessoal do “Ayuntamento” que começava a limpesa do recinto, as mangueiras que lavavam o chão das mijas dos foliões, os vozeirões dos trabalhadores, toda uma mistura de sons que me retiraram a esperança de poder voltar a adormecer.

Levantei-me, tomei um duche rápido, engoli sonolento o pequeno almoço, tudo isto enquanto me questionava ininterruptamente:

Onde é que eu errei?!!

Onde é que eu errei?!

Onde é que eu errei?

Onde é que eu errei??

Onde é que eu errei???


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)




2 comentários:

  1. Esqueceu-se estar no meio de foliões espanhois...
    Já passei por algo semelhante, bem perto, em Aveiro no canal de S. João junto a bares frequentados por jovens sem sono!

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  2. Em Espanha a noite é para curtir. Ou VEXA, um autocaravanista tão viajado, desconhecia isso?

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