quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

PRESENTE (Traz outro amigo também)



(Imagem obtida no blogue “Pontos de Vista”)



PRESENTE!


(Traz outro amigo também)


A 24 de Fevereiro de 1987, pelas 15 horas, uma Delegação Sindical do Secretariado de Empresa do BNU depositou junto da urna contendo os restos mortais de Zeca Afonso (José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos) na Escola Secundária de S. Julião, em Setúbal, uma coroa de flores. Depois, a Delegação Sindical (da qual eu fazia parte) acompanhou o cortejo fúnebre até ao cemitério da senhora da Piedade, também em Setúbal.


Mais de trinta mil pessoas acompanharam Zeca Afonso nessa última viagem. Zeca Afonso que tinha morrido na véspera, a 23 de Fevereiro, teve, pouco mais de 24 horas depois, de forma absolutamente espontânea, milhares de pessoas de todos os quadrantes sociais e políticos a prestar-lhe uma última homenagem.


Zeca Afonso que fez das canções uma arma a favor da Liberdade recusou, coerente com a sua forma de estar, a Ordem da Liberdade concedida ao tempo da Presidência de Ramalho Eanes e, posteriormente, quando a título póstumo o Presidente da República Mário Soares quis de novo prestar-lhe a mesma honraria, a mulher de Zeca Afonso não aceitou o que o marido em vida já tinha recusado.


Dois dias após a morte de José Afonso o extinto Semanário “se7te”, dirigido por Cáceres Monteiro, dedicava a quase totalidade das respectivas páginas à evocação do homem, do autor e do compositor.


Segundo o “se7te” prestaram derradeira homenagem a Zeca Afonso personalidades tão distintas como Ramalho Eanes, Lourdes Pintassilgo, Mário Tomé, Delegações da Assembleia da República, da Associação Académica de Coimbra e outras, foram algumas das centenas de figuras públicas que ocorreram a Setúbal. Entre os cantores marcaram presença Júlio Pereira, José Mário Branco, Francisco Fanhais, Carlos do Carmo, Rodrigo, Lena d´Água, Pedro Barroso, Sérgio Godinho, entre muitos outros. Mas, também outros nomes, como Eunice Muñoz, Lia Gama, Maria do Céu Guerra, Fonseca e Costa, Diamantino, Vítor Baptista, Carlos Antunes, Isabel do Carmo, um pouco representantes de todas as áreas da cultura.


O que sobre José Afonso (e segundo o “se7te”) à data disseram, em síntese:


Maria de Lourdes Pintassilgo (Engenheira, ex-Primeira Ministra e ex-Candidata à Presidência da República) - “Zeca Afonso sonhou e cantou uma terra diferentes; terra de todos, em fraternidade. É esse sonho que ele nos deixa em herança”.


José Carlos de Vasconcelos (Poeta e Jornalista, ex-Deputado à Assembleia da República) - “E como dói, também, que tenha morrido o velho amigo, ainda que pela força das circunstâncias separados, o companheiro de tantas noites de Coimbra e de tantas “sessões” de música, canto e poesia com pides e bufos no encalço! E que tenha morrido sem sequer lhe termos podido pagar tudo o que lhe devíamos – e devemos...


Otelo Saraiva de Carvalho (Militar de Abril, candidato à Presidência da República por duas vezes e apoiado por José Afonso) - “Figura ímpar, fulgurante, da cultura portuguesa deste século, dotado de excepcional qualidade humana e de envergadura humanista, o Zeca Afonso, meu irmão, meu companheiro, meu Amigo, perdurará eternamente na memória do povo português, ao património do qual pertence para nosso orgulho. Um grande poeta morreu! Viva Zeca Afonso!


Almeida Santos (ex-Deputado do Partido Socialista) - “Calou-se a sua voz, mas nós vamos cantar por ele os lindos gritos de protesto que compôs


Amália Rodrigues – (cantora) - “O José Afonso foi uma personalidade muito importante para a música portuguesa


Carlos Paredes (Músico e compositor) - “Acabou por criar uma canção diferente,ao nível de Brassens ou de Brel, afinal a sua própria canção, aquela que ele sentia que tinha obrigatoriamente de cantar (…) José Afonso passa à História como talvez não tenha passado qualquer outro cantor. Tornou-se uma imagem nova, tornou-se uma figura eterna que passa a fazer parte da nossa própria formação


Júlio Pomar (Pintor) - “O Zeca Afonso marca uma situação portuguesa que foi capital para a existência de algumas gerações. Os votos que quero fazer neste momento vão no sentido de que um novo Zeca Afonso não encontre pela frente aquilo que o Zeca encontrou.


Jorge Martins (Pintor) - “O Zeca Afonso foi o reinventor da música popular portuguesa


Arnaldo Trindade (Primeiro editor das canções de José Afonso) - “Ele e os seus colegas (entre os quais se destacou, como líder, o malogrado Adriano Correia de Oliveira) Conseguiram fazer muito mais do que os políticos da sua época. A música do Zeca Afonso transcendeu-se a si própria


Machado Soares (Fadista de Coimbra) - “Ele foi o poeta da música e a sua genialidade reside na circunstância de, partindo das raízes populares, fazer uma canção plena de intencionalidade e de empenhamento social, numa combinação perfeita.”


Rui Pato (Instrumentista) - “É preciso respeitá-lo, é preciso não cometer com outros os erros que todos cometemos com ele. O Zeca será sempre um símbolo do combate à hipocrisia. Só a malvada doença o impediu de nos ensinar ainda muita coisa não apenas como músico mas principalmente como homem


Janita (Músico e cantor) - “Tudo o que vivi com ele foi importantíssimo para a música que eu hoje faço. E uma coisa é certa: hei-de lembrar-me sempre do Zeca a cantar


Luís Represas (“Voz” dos Trovantes) - “O que é que acham que eu posso dizer sobre o Zeca se a vida dele constitui, ela própria, um depoimento – o melhor depoimento?


Carlos Alberto Moniz (Músico, cantor e compositor) - “(…) porque, se o Zeca tinha um grande talento e uma forma de expressão igualmente grande, tinha, acima de tudo, um coração enorme


George Moustaki (Intérprete e compositor francês) – O Zeca Afonso representava muito para mim: era o amigo, o poeta, o cantor, a figura do 25 de Abril


Luís Pastor (Cantor espanhol) - “Aqui em Madrid estamos todos tristes com a morte do Zeca Afonso. Não deixaremos, porém, de o continuar a homenagear nos nossos espectáculos de segundas-feiras na sala Eligene. Vamos todos cantar para o Zeca, com o Zeca.


Catherine Ribeiro (Cantora francesa) - “Era um grande amigo e nunca deixei de o cantar


Mário Soares (Enquanto Presidente da República)

A vida de Zeca Afonso foi um acto de fidelidade a princípios. Era um homem livre, generoso e fraterno. Soube escutar a voz anónima do povo e das sua raízes e elevá-la à altura do simbólico. Nas suas cantigas, que não morrerão, ressoa o protesto pela injustiça e um grito a favor da dignidade humana. Enquanto existirem homens que choram o seu sacrifício e cantam a sua esperança, Zeca Afonso não será esquecido.

O seu nome está nobremente ligado a essa madrugada memorável do 25 de Abril de 1974 em que, ao som de uma canção de fraterna solidariedade, um povo se libertou e inaugurou uma nova época da sua História.

a sua integridade pessoal e a dignidade com que enfrentou doença, a dor e a certeza da morte próxima constituem um emocionante testemunho de coragem


JOSÉ AFONSO

Estou empenhado em que se desfaça a impressão de que me tornei uma coisa que deve colocar-se numa redoma. Uma vez que me acusam de ser injustamente mitificado quero apenas afirmar que sou uma pessoa comum.

Recuso-me terminantemente a transformar-me num mito


O legado cultural e político de Zeca Afonso (ver biografia AQUI) não se poderia perder pelo que a 18 de Novembro de 1987 nasce a Associação José Afonso (AJA) para promover as ideias deste extraordinário intérprete e compositor (que não sabia música).


Hoje, 23 de Novembro de 2017, trinta anos após a morte de Zeca Afonso, a associação a que ele dá o nome, vem através do Núcleo de Lisboa (ver AQUI), celebrar a poesia escrita, cantada e dita num recital conduzido por Júlia Lello e em que serão interpretadas algumas canções por Marta Ramos acompanhada por João Parreira na Guitarra.


Está PRESENTE e leva outro amigo também.







(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)


1 comentário:

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    Terminou cerca das 20 horas e 30 minutos a homenagem que o Núcleo de Lisboa da associação José Afonso (AJA) realizou no trigésimo aniversário da morte de Zeca Afonso.
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    A sala do Núcleo, não muito grande,conseguiu, contudo, comportar as quase 100 pessoas que ali se deslocaram para homenagear o poeta, autor, compositor, músico e cantor.
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    A homenagem subordinada ao tema “José Afonso e as Palavras” (poesia escrita, cantada, dita) teve a participação de Júlia Lello que “disse” o que José Afonso escreveu. “Dizer” Zeca Afonso pode parecer “estranho” (pois que estamos habituados a ouvi-lo cantar), mas Júlia Lello conseguiu-o.
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    Posteriormente Marta Ramos, numa interpretação tão emocionada que emocionou os presentes, acompanhada à guitarra por João Parreira, motivou, com as canções de Zeca Afonso, fortes aplausos.
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    Na assistência encontrava-se a segunda figura do estado, o Presidente da Assembleia da República, numa clara demonstração que o cidadão Ferro Rodrigues não queria deixar de prestar com a sua presença uma singela homenagem a Zeca Afonso. Aliás, tal como todos os que ali estavam faziam.
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    As homenagens a Zeca Afonso não terminaram nesta sessão concretizada no Núcleo de Lisboa do AJA, pois vão continuar a decorrer em muitos outros locais de Portugal.
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