quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

SOLIDARIEDADE versus CARIDADE



Imagens dos blogues “seniorcorrespondent” e “Perspectiva”




SOLIDARIEDADE versus CARIDADE

CPA com a ANIMAR


O mês de Dezembro, embora não seja propício a grandes tiradas de opinião, não me impedirá de correr o risco de o fazer. É o mês em que muitos se lamentam da miséria dos outros e clamam, SENTADOS, contra a falta de intervenção do Estado para pôr cobro às imagens de abandono de outros seres humanos. Possivelmente são os mesmos que defendem menos Estado, mas que, incoerentes, são os que culpam esse mesmo Estado por todos os dramas que os põem de mal com as respectivas consciências.

É neste mês de Dezembro que as organizações chamadas de solidariedade social apelam aos sentimentos caritativos das pessoas para obterem esmolas para os projectos que defendem. Será legitimo questionar que percentagem dos donativos irá directamente para os necessitados e que parte será destinada à administração e aos vencimentos/ajudas de custo de cada uma das associações?

Evidentemente que, com este estado das coisas, os mais desfavorecidos continuarão mais desfavorecidos e estas acções de caridade das associações impropriamente chamadas solidárias, além de não dignificarem os mais pobres, também não contribuem para modificar o estatuto social em que, infelizmente, se encontram. E não contribuem para alterar o status quo das pessoas porque as mesmas acções são essencialmente de natureza caritativa. São acções de mera caridade.

A grande, A ENORME DIFERENÇA ENTRE CARIDADE E SOLIDARIEDADE assenta na atitude que se tem na prestação de uma ajuda imediata (que é caridade) sem que de alguma forma desenvolvamos esforços para transformar a situação do carente (que é solidariedade).

Praticarei a caridade (e talvez fique de bem com a minha consciência) ao dar a um pedinte uma moeda sem me voltar a preocupar com o problema e sem que com a minha acção caritativa altere a vida daquela pessoa.

Serei solidário se, para além da moeda, como forma de resolução imediata de um problema, desenvolver todos os esforços ao meu alcance para modificar a situação de carência, por forma a não ser de novo abordado e ter de, de novo, praticar caridade.

A moeda que dou (que antigamente se chamava esmola) apresenta-se agora em novas formas: nos sacos de alimentos que nos pedem nos supermercados, nas cantinas sociais (neologismo que substituiu a antiga “sopa do Sidónio” ou noutras quaisquer formas de caridade).

Não afirmo, longe de mim, que a caridade não é importante para impedir no imediato danos maiores. Mas chamemos-lhe exactamente isso: caridade. Não sublimemos a acção esmoler (caridade), que não altera a situação de carência e mantém a supremacia de quem dá e a dependência de quem recebe por necessidade.

Como mudar este estado de coisas? O que tem o autocaravanismo que ver com isto?

Em 25 de Março de 2017 a Associação Autocaravanista de Portugal aderiu à “ANIMAR – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local” (ver AQUI) que tem como objectivos, entre outros, os seguintes:

Valorizar, promover e reforçar o desenvolvimento local, a cidadania ativa, a igualdade e a coesão social na sociedade portuguesa, enquanto pilares de uma sociedade mais justa, equitativa, solidária e sustentável.(Sublinhados meus)

Assumir a sua identidade na diversidade de organizações, indivíduos, territórios e contextos de atuação, e daí, destacar a multiplicidade de modelos de desenvolvimento local(Sublinhados meus)

Acreditar numa sociedade mais justa, equitativa e sustentável reconhecendo que a Animar do futuro, terá em consideração o valor que acrescentou no passado e pelo qual se destaca no presente, e por aquele que ambiciona para o futuro.(Sublinhados meus)

Estamos, pois, perante uma associação, a que o CPA aderiu e com cujos objectivos, obviamente, concorda, pois que se assim não fosse…

Possivelmente muitos autocaravanistas considerarão que a ANIMAR fica aquém da finalidade de estripar da sociedade a miséria em que muitos cidadãos se encontram, mas, ao valorizar o desenvolvimento local como um dos pilares de uma sociedade justa, equitativa, solidária e sustentável, não nos é permitido, se formos intelectualmente honestos, afirmar que estamos perante a promoção da caridade, que, em si mesma, como é notório, não altera a vida das pessoas.

É neste contexto que o CPA, defensor de um autocaravanismo promotor do desenvolvimento económico das populações (ver AQUI), deve apoiar a ANIMAR. Apoiar, por exemplo, através de Encontros autocaravanistas que coincidam com eventos relevantes da ANIMAR em que os autocaravanistas possam participar, mas, sem esquecer nesses Encontros autocaravanistas, além da participação, o convívio, o turismo, a cultura.

Aguardarei, pois, que 2018 nos traga uma intervenção mais activa do CPA no âmbito dos objectivos da ANIMAR, pois de outra forma seria incompreensível a adesão do CPA a essa organização.



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) (AQUI)











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