quinta-feira, 1 de setembro de 2016

QUEM PROIBIU A ENTRADA?



QUEM PROIBIU A ENTRADA?

(Crónicas de Itália)


Em Roma ficámos numa Área de Serviço localizada perto de transportes públicos para o centro da cidade.

Já conhecíamos Roma de duas ou três visitas anteriores, mas não quisemos deixar de a percorrer de novo e de novo voltar ao Vaticano, mais especificamente à Basílica de São Pedro.

Encontrámos em Roma (e não só) polícias e militares ostensivamente armados e constatámos que a entrada nos monumentos mais “populares” era precedida de medidas de segurança muito apertadas. Nas entradas formavam-se longas e compactas bichas (vocábulo que prefiro a filas), sob um sol intenso, o que nos demoveu de voltar a visitar esses monumentos.

Quando entrámos no Vaticano deparamos na enorme praça frontal à Basílica de São Pedro dividida com grades amovíveis de madeira o que lhe retirava a beleza do impacto visual que se tem ao aceder ao local.

O Vaticano é um estado soberano desde 1929 (Tratado de Latrão) governado por um monarca absoluto (o Papa) situação única na Europa.

Para acedermos à Basílica de São Pedro tivemos de esperar numa monstruosa bicha durante mais de duas horas sob um sol escaldante. Quando por fim passámos no portal com detectores de metais e os sacos nos foram entregues, depois de retirados do tapete rolante do aparelho de raios X, seguimos pelos claustros que rodeiam a praça frontal à Basílica em direcção à mesma.

Caminhávamos calmamente quando, de súbito, um jovem vestido com um fato escuro, de camisa branca sobre a qual se realçava uma gravata escura, saiu-nos ao caminho e, abrindo totalmente os braços, como se estivesse a ser crucificado, impediu a minha mulher (e apenas ela) de prosseguir.

O motivo pelo qual estava proibida de prosseguir relacionava-se com a (in)decência do vestuário, mais especificamente da blusa. Na altura vestia uma blusa quase sem decote e sem mangas, indumentária apropriada para um dia de intenso calor, mas… pouco condizente, na apreciação do vigilante dos bons costumes, com aquele lugar sagrado.

Dois ateus  acabavam de ser proibidos de entrar (eu por solidariedade) na Basílica de São Pedro.

Uma jovem que estava por perto, também com uma blusa sem mangas e que aparentemente também tinha sido proibida de entrar, dirigiu-se-nos, talvez procurando solidariedade, a protestar pelo impedimento e argumentando que todos nascíamos nus e que deus não queria aquele tipo de proibições que afastavam as pessoas da igreja. Como não sabíamos o que deus queria não lhe respondemos e afastá-mo-nos, saindo do Vaticano.

Não refutámos a proibição de entrar na basílica por considerarmos que era-mos estrangeiros, que a Basílica de São Pedro era propriedade do Vaticano e que as leis ou regras ali existentes, da responsabilidade de um monarca absoluto, não eram, por tudo isto, contestáveis. No entanto, não posso deixar de condenar a pouca ou nenhuma consideração que naquele estado soberano (o Vaticano) têm pelas pessoas, deixando-as em bichas de mais de 2 horas, em condições deploráveis, sem que tenham a preocupação de afixar, de forma bem visível, cartazes informando qual a indumentária que não podem usar para acederem aonde quer que seja.

A título de curiosidade permito-me referir que na Sicília, numa igreja cuja entrada era paga, uma funcionária (?) distribuía capas de pano às senhoras que trajavam de uma forma que ela consideraria menos apropriada. Ou seja, encontraram uma forma inteligente de não perderem clientes.

Em mais nenhum outro local fomos proibidos de entrar.



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)

1 comentário:

  1. por solidariedade, eu também já fui impedido por razões idênticas em Sevilha.

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