QUEM PROIBIU A ENTRADA?
(Crónicas de
Itália)
Em Roma ficámos numa Área de Serviço localizada perto de transportes
públicos para o centro da cidade.
Já conhecíamos Roma de duas ou três visitas anteriores, mas
não quisemos deixar de a percorrer de novo e de novo voltar ao Vaticano, mais
especificamente à Basílica de São Pedro.
Encontrámos em Roma (e não só) polícias e militares
ostensivamente armados e constatámos que a entrada nos monumentos mais
“populares” era precedida de medidas de segurança muito apertadas. Nas entradas
formavam-se longas e compactas bichas (vocábulo que prefiro a filas), sob um sol
intenso, o que nos demoveu de voltar a visitar esses monumentos.
Quando entrámos no Vaticano deparamos na enorme praça
frontal à Basílica de São Pedro dividida com grades amovíveis de madeira o que
lhe retirava a beleza do impacto visual que se tem ao aceder ao local.
O Vaticano é um estado soberano desde 1929 (Tratado de
Latrão) governado por um monarca absoluto (o Papa) situação única na Europa.
Para acedermos à Basílica de São Pedro tivemos de esperar
numa monstruosa bicha durante mais de duas horas sob um sol escaldante. Quando
por fim passámos no portal com detectores de metais e os sacos nos foram
entregues, depois de retirados do tapete rolante do aparelho de raios X,
seguimos pelos claustros que rodeiam a praça frontal à Basílica em direcção à
mesma.
Caminhávamos calmamente quando, de súbito, um jovem vestido
com um fato escuro, de camisa branca sobre a qual se realçava uma gravata escura, saiu-nos ao caminho e, abrindo totalmente os braços, como se estivesse a ser crucificado, impediu a minha mulher (e apenas ela) de
prosseguir.
O motivo pelo qual estava proibida de prosseguir relacionava-se
com a (in)decência do vestuário, mais especificamente da blusa. Na altura vestia uma
blusa quase sem decote e sem mangas, indumentária apropriada para um dia de
intenso calor, mas… pouco condizente, na apreciação do vigilante dos bons costumes, com aquele lugar sagrado.
Dois ateus acabavam de ser proibidos
de entrar (eu por solidariedade) na Basílica de São Pedro.
Uma jovem que estava por perto, também com uma blusa sem
mangas e que aparentemente também tinha sido proibida de entrar, dirigiu-se-nos,
talvez procurando solidariedade, a protestar pelo impedimento e argumentando
que todos nascíamos nus e que deus não queria aquele tipo de proibições que
afastavam as pessoas da igreja. Como não sabíamos o que deus queria não lhe
respondemos e afastá-mo-nos, saindo do Vaticano.
Não refutámos a proibição de entrar na basílica por
considerarmos que era-mos estrangeiros, que a Basílica de São Pedro era
propriedade do Vaticano e que as leis ou regras ali existentes, da
responsabilidade de um monarca absoluto, não eram, por tudo isto, contestáveis.
No entanto, não posso deixar de condenar a pouca ou nenhuma consideração que
naquele estado soberano (o Vaticano) têm pelas pessoas, deixando-as em bichas
de mais de 2 horas, em condições deploráveis, sem que tenham a preocupação de
afixar, de forma bem visível, cartazes informando qual a indumentária que não
podem usar para acederem aonde quer que seja.
A título de curiosidade permito-me referir que na Sicília,
numa igreja cuja entrada era paga, uma funcionária (?) distribuía capas de pano
às senhoras que trajavam de uma forma que ela consideraria menos apropriada. Ou
seja, encontraram uma forma inteligente de não perderem clientes.
Em mais nenhum outro local fomos proibidos de entrar.
(O autor, todas as Quintas-feiras,
no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos
relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)
por solidariedade, eu também já fui impedido por razões idênticas em Sevilha.
ResponderEliminar