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COMO
AQUI CHEGÁMOS
O
PRIMEIRO CAMINHO:
O Clube Português de Autocaravanas
(actual Associação Autocaravanista de Portugal – CPA) tem a
respectiva génese aí por volta de 1988, numa reunião informal de
alguns campistas e ocorrida num acampamento realizado nos arredores
de Lisboa.
O conceito de autocaravanismo (que
ainda não está definido por escrito) não se punha. Eram apenas
campistas entusiasmados com os veículos autocaravanas, veículos que
lhes permitiam acampar em condições melhores e mais autónomas.
Veículos que muitos construiam com as próprias mãos, já porque as
condições económico-financeiras a isso obrigavam, já porque à
época o mercado de autocaravanas em Portugal era escasso ou
practicamente inexistente.
Terá sido por tudo isto (nem
eventualmente outro conceito lhes terá ocorrido) que estes
fundadores do CPA denominaram a associação como sendo um clube de
autocaravanas.
Um clube de autocaravanas (não de
autocaravanistas) cujos estatutos vinculavam o CPA à Federação de
Campismo e cujos conceitos e estrutura se baseavam no campismo.
O
CAMINHO DA CONSOLIDAÇÃO:
Só com a Direcção eleita para o
biénio de 2006/2007 (16 anos depois da constituição do CPA) se
começa a evidenciar a necessidade de mudança que alguns sócios já
vinham manifestando. Segundo esses associados o autocaravanismo devia
ter um estatuto autónomo do campismo.
Mas, também porque já nesse período
a discriminação negativa dos veículos autocaravanas se verificava,
embora pontualmente, foi criado um grupo de trabalho no seio da
Federação de Campismo, de que fez parte o CPA, para elaborar uma
proposta legislativa sobre a matéria. Infelizmente surgiram
divergências entre a Federação de Campismo e o CPA que esfriaram
as aparentemente boas relações então existentes.
Foi também nesse mandato que
começaram a surgir relevantes documentos sobre autocaravanismo e a
realizarem-se, com alguma frequência, encontros autocaravanistas no
exterior dos Parques de Campismo, a fazerem-se contactos com as
Câmaras Municipais, a promover-se o apoio à implementação de
Áreas de Serviço e a participação, de forma autónoma, na
NAUTICAMPO. O CPA voltava-se para o exterior.
Mas, foi igualmente a partir desse
mandato (2006/2007) que o CPA se estruturou internamente de forma
mais profissional e se modernizou, designadamente com a
informatização, a utilização da Internet e ainda na maior e
melhor comunicação com os associados, dando-lhes inclusive voz. O
acesso a um seguro do veículo autocaravana em condições altamente
vantajosas foi, na época (e continua a ser) um contributo de
importância decisiva para o crescimento da associação.
No entanto, o cordão umbilical
estatutário com a Federação de Campismo mantinha-se e o CPA em
termos de uma definição de política autocaravanista não campista
não parecia ter uma actuação consistente.
O
CAMINHO DO RECONHECIMENTO
O CPA deixa de ser um “clube de
amigos” para passar a ser um clube onde os amigos se encontram e
convivem.
É a partir do mandato iniciado em
2010 que as sucessivas Direcções do CPA veem progressivamente,
sempre com o apoio dos associados expresso em Assembleias Gerais, a
definir estruturalmente (veja-se a alteração profunda dos
estatutos) uma política autocaravanista não campista, mas que
também não foi e não é, anti-campista. Uma política que se pode
resumir no seguinte:
O CPA é uma associação
essencialmente vocacionada para o autocaravanismo que pratica a
inclusão de todos os autocaravanistas independentemente do conceito
que cada um tenha sobre a práctica da modalidade.
É neste âmbito que os acontecimentos
se vão desenrolar centrados numa Declaração de Princípios
subscrita pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal
(FCMP), em que novos dirigentes da FCMP (que agora são osctuais) se candidatam com base num
Programa Eleitoral no qual o autocaravanismo é apresentado como uma
modalidade autónoma, em que o novo Presidente eleito da FCMP
acompanha a Direcção do CPA nas inaugurações de Áreas de Serviço
(equipamentos municipais), em que a FCMP promove um Encontro
Autocaravanista e um Colóquio subordinado ao tema da defesa do
direito à não discriminação negativa dos veículos autocaravanas,
em que são alterados os Estatutos da FCMP, nos quais o
autocaravanismo surge como uma modalidade e não como uma disciplina
do campismo, em que no seio da FCMP é constituída uma Comissão de
Autocaravanismo, com regulamentação própria e, nos próprios
órgãos de comunicação da Federação são divulgados os valores
do autocaravanismo e as bases de uma política autocaravanista
consistente. Cabe aqui afirmar, sem falsa modéstia, que em todos
estes acontecimentos o CPA esteve presente ao longo dos 6 últimos
anos.
Neste
período surge a FPA pela mão de 3 associações, tendo, até, uma
das associações sido criada propositadamente para o efeito. Pelo
menos três razões (entre outras inclusive de natureza mais pessoal)
estiveram na origem da constituição da FPA: (a)
a saída do CPA da FICM que fez com que alguns, desesperadamente,
corressem, ainda antes da constituição formal da FPA, a ocupar na
FICM o lugar abandonado pelo CPA ; (b)
a recusa de integrar uma plataforma inorgânica formada por todas as
associações de base vocacionadas para o autocaravanismo e (c)
o desconhecimento da realidade social autocaravanista que fez os
fundadores da FPA sonhar que acorreriam à nova federação alguns
milhares de associados. Infelizmente (para os construtores de uma FPA
anti-CPA) esta convicção não se concretizou e, presentemente, não
aderiram à FPA mais clubes, nem sequer a quantidade de associados
dos clubes aumentou, antes pelo contrário.
As
Direcções posteriores a 2010 sabiam que o CPA não tinha total capacidade
para isoladamente combater a discriminação negativa do veículo
autocaravana e que qualquer legislação que fosse proposta viria
negar o direito de pernoita aos autocaravanistas. Também aqui a FPA
abriu a Caixa de Pandora ao propor medidas legislativas cujos
objectivos nunca foram factualmente expressos e que abriram caminho
às ideias de alteração da legislação que a CCDR-Algarve
anunciava como imprescindível. Com a força que lhe advinha de ser uma entidade que oficialmente tutela o autocaravanismo a FCMP
veio, para também obstar a esse aventureirismo legislativo,
divulgar publicamente que não se tornavam necessárias mais leis,
pois que as existentes eram suficientes.
O CPA que procurava divulgar e racionalizar os
objectivos políticos de combate à discriminação negativa do
autocaravanismo conseguia, a nível nacional, ter na FCMP um aliado
institucional poderoso e, a nível internacional, o apoio da
Federação Internacional de Campismo, Caravanismo e Autocaravanismo.
Porém,
nunca é demais repetir, ao longo desse período de 6 anos o CPA
nunca deixou de pugnar pela constituição de uma plataforma
inorgânica congregando as associações de base vocacionadas para o
autocaravanismo, procurando o diálogo e participando (até para criar pontes) nos eventos
dessas associações, sempre que convidado. Não o fazia porque e para que dessa
plataforma pudesse vir a obter dividendos próprios, mas porque os
interesses do autocaravanismo aconselhavam que se alcançasse esse
propósito de unidade na acção.
O
CAMINHO DA DIGNIDADE E DO RESPEITO:
Nos
finais de Junho deste ano, sem qualquer diálogo com o CPA, sem
qualquer informação prévia, em segredo, a FCMP foi recebida em
audiência na Assembleia da República, onde propôs alterações
legislativas contrárias a toda a política autocaravanista que tinha
publicamente assumido e, inclusive, se comprometido.
O
teor da audição, patenteada num vídeo divulgado no Portal da Assembleia da República, é deprimente e ficámos a saber que a FCMP também já tinha junto do Governo feito
idênticas propostas legislativas.
Não está em causa, apenas, o teor
das propostas de legislação e o absurdo que resultaria da aplicação
integral das mesmas, mas, também, a postura e a acção, criticável,
dos dirigentes da FCMP
O
CPA é ostensivamente empurrado pela FCMP para a saída.
Será,
ainda, possível os sócios do CPA manterem-se na FCMP? Muito
dificilmente, pois está em causa a dignidade e respeito que há que manter perante a atitude da FCMP. Mas, afirmo, é possível o CPA
manter-se na FCMP. Tudo depende do Presidente da Federação de
Campismo (ou de outro representante da FCMP) que se comprometeu a
participar na Assembleia Geral do CPA, para (digo eu) dar as
explicações que possam justificar (se é que isso é possível) as
propostas legislativas que fez..
Os
sócios do CPA seguramente irão votar favoravelmente, na Assembleia
Geral do
próximo dia 19 de Novembro,
a saída da FCMP, por este ser o único caminho, o caminho da
dignidade e do respeito, que temos que ter por nós próprios.
Para
memória futura e para a história do autocaravanismo em Portugal que
fique registado que a cessação da filiação da Associação
Autocaravanista de Portugal – CPA na Federação de Campismo e
Montanhismo de Portugal será única e exclusivamente da
responsabilidade dos dirigentes desta federação.
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) - AQUI)