Foto
de Pedro
Agostinho Cruz obtida no blogue “Outra
Margem”
POR
MORRER UM CAMPING NÃO ACABA O CAMPISMO
(Por
morrer uma andorinha não acaba a Primavera)
A
minha primeira experiência como campista foi há tantos anos que
tenho algumas dificuldades em relembrar todos os pormenores. No
entanto, o campismo, para mim, permitia-me (permite-me) alcançar,
pelo menos três objectivos distintos: contacto directo com a
natureza e simultaneamente desenvolver e praticar valores
comportamentais de entre-ajuda, férias mais económicas e, não
menos importante, turismo itinerante com a utilização de material
campista. Estes valores levaram-me a diferentes fases da practica
campista, nomeadamente com a utilização de tendas canadianas e
posteriormente de uma tenda familiar em cuja montagem (imaginem!)
despendia mais de duas horas.
A
opção de uma tenda familiar, que utilizei como alojamento
temporário de férias em vários Parques de Campismo e que tentei
usar em permanência no Parque de Campismo de Almornos, rapidamente
foi abandonada, pois o “campismo parquista” que se praticava, não
foi (e continua a não ser) do meu agrado.
Já
a tenda canadiana, bem como um atrelado tenda, permitiram-me,
utilizando Parques de Campismo, não só conhecer Portugal, como uma
parte significativa de França.
Nada
tenho, pois, contra o campismo. Considero que o campismo até é uma boa
opção para a juventude adquirir mais e melhores valores solidários
e mais e melhor respeito pelo semelhante. E, neste particular,
refiro-me, sobremaneira, ao campismo associativo.
Quando
em 2002 adquiri uma autocaravana tive como objectivo conhecer outras
realidades através do turismo. Não reneguei o campismo, cuja
practica procuro manter, quando o entendo, e com a utilização de
material mais confortável para a minha idade: a autocaravana.
Infelizmente há alguns autocaravanistas que professam um “ódio de estimação”
contra o campismo. Porém, honra lhe seja feita, a mais antiga associação
vocacionada para o autocaravanismo – o CPA – nunca deixou de acolher o autocaravanismo em todas as vertentes. Na verdade (não obstante o “ataque” feito pela Direcção da Federação de
Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) ao autocaravanismo), o CPA sempre manteve inalterável a postura
institucional de aceitação do campismo em autocaravana ao longo de
toda a existência.
É
importante, também, não esquecer que todas as “regras de ouro”
ou todas as “cartilhas autocaravanistas” ou quaisquer outras
regras cívicas dos autocaravanistas, foram “bebidas” no Código
Campista. E, ainda mais importante, é necessário ter consciência
que, muitas e muitas vezes, os Parques de Campismo, em Portugal e no
Estrangeiro, são importantes pontos de apoio ao autocaravanismo.
Por
tudo isto nenhum autocaravanista se deve regozijar quando
um Parque de Campismo (especialmente
se for associativo) desaparece, como esteve para
acontecer com um Parque no norte do País e como aconteceu com outro
na zona centro.
Mas,
presentemente, há um Parque de Campismo, com mais de 30 anos de
existência, que está em risco de desaparecer. Vejamos, na
cronologia do tempo, o que se passa.
Em
Dezembro de 2016 a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) lançou um
concurso
público para
obras
costeiras no Cabedelo
(Figueira
da Foz), zona onde se situa um Parque de Campismo gerido pela FCMP.
Infelizmente, para a APA, a área em
que
pretendia intervir
situava-se sob a alçada de
jurisdição portuária o que terá
obrigado esta
Agência,
em Outubro de 2017, a desistir da obra.
Da
desistência da APA não resultou
que a Câmara Municipal da Figueira da Foz deixasse de querer manter
a obra, antes
pelo contrário, embora
introduzisse
algumas
modificações no
projecto.
Assim, a continuação do Parque de Campismo mantinha-se duvidosa.
A
única
postura oficial, que eu conheça, da FCMP resume-se a um comunicado
de Novembro de 2017 em que refere “Relativamente
à situação do Parque de Campismo, a FCMP está em diálogo com a
APFF e com a Edilidade no sentido de encontrar soluções que venham
ao encontro dos interesses dos seus federados e salvaguardem os
postos de trabalho”.
Posteriormente,
em Dezembro de 2017, cerca
de uma centena de pessoas, eventualmente os campistas que sairão lesados com o encerramento do Parque de Campismo, compareceram numa
sessão da Assembleia Municipal para protestarem e apresentarem
razões contra o encerramento. Este protesto e os argumentos, não
foram suficientes, porquanto o
Presidente da Câmara Municipal, segundo a LUSA, afirmou:
“Não
vemos grande vantagem em prol da cidade na manutenção deste parque
de campismo, no nosso projeto não está integrado nem tem de ser
integrado”
Refutou
ainda o autarca que pudesse haver qualquer “direito adquirido”
por parte dos campistas, bem
como considerou que não
havia necessidade de haver
um Parque de Campismo onde
outros, também existentes na Figueira da Foz, podem
suprir a procura em termos de campismo.
No
passado dia 31 de Dezembro terminou a concessão do Parque de
Campismo, pelo que a FCMP teria de devolver o
espaço, não fora a
concessão passar a ser renovada
por períodos de 3 meses, até as obras de requalificação não
chegarem ao local
onde se encontra o Parque.
A
única nota de esperança (ou será de óptimismo?) foi dada ao
“Diário das Beiras” pelo Presidente da FCMP que referiu estar
“muito
otimista que vai ser encontrada uma solução que satisfaça todas as
partes”.
Em
toda esta problemática situação há que
realçar, não obstante a postura do Presidente da FCMP (ver
AQUI), que há ainda um significativo número de autocaravanistas, bem como a "Associação Autocaravanista de Portugal – CPA", que não vêem o
campismo e os Parques de Campismo, enquanto tal, como “inimigos”
(ver Artigo 1º e 3º dos Estatutos).
Consequentemente,
não se regozijam os autocaravanistas com o encerramento de Parques
de Campismo e, não fora o “ataque” ao autocaravanismo por parte
dos dirigentes da FCMP, poder-se-ia estar, agora, em unidade, a lutar pela
manutenção do Parque de Campismo de Cabedelo (Figueira da Foz). Se
assim não acontece, que o saibam os campistas (porque
é importante recordá-lo)
que a responsabilidade é exclusivamente
da FCMP.
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) - AQUI)
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