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do blogue “Tempestade Cerebral”
“OS
GRUPOS”
Em
Portugal, tanto quanto sei, existem 7 associações que se reclamam,
ou já na denominação, ou já nos estatutos, de autocaravanistas.
São
elas a “Associação Autocaravanista de Portugal – CPA”, a
“Associação de Autocaravanismo Portuguesa”, o “Clube de
Autocaravanismo do Centro – Cultura e lazer”, o “Clube
Autocaravanista Itinerante”, o “Clube Autocaravanista Saloio”,
o “Clube Flaviense de Autocaravanas” e o “Clube Gardingo de
Autocaravanas”.
Três
destas associações optaram por constituir uma Federação (a FPA)
que desde a fundação, em 2011, se mantém sem alterações, embora
durante cerca de um ano uma das associações tenha abandonado a FPA.
Outras três destas associações integraram-se, desde as respectivas
constituições, na Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal
(FCMP), instituição que não necessita de apresentações. Uma das
associações, das 7 referidas, não consta que tenha optado por se
inserir em qualquer instituição federativa.
Estas
são, portanto, as associações com personalidade jurídica
vocacionadas para o autocaravanismo.
Existe,
contudo, um número ainda não quantificado de grupos de
autocaravanistas, sem personalidade jurídica, com dirigentes não
eleitos, sem regras nem estatutos, sem contabilidade, recibos ou
facturas, que promovem dezenas de eventos por ano. Exceptuando um ou
dois destes grupos, nenhum dos outros promove qualquer outra
actividade que não seja turística ou com ela relacionada.
A
estes grupos, para uma melhor identificação e sem qualquer intenção
pejorativa, passarei a designá-los como “Os Grupos”
“Os
Grupos” só se mantêm e até crescem devido, essencialmente, à
Internet. A forma de comunicação fácil e abrangente que a Internet
proporciona é a semente que permite que “Os Grupos” floresçam.
Mas não só. Os participantes nos eventos promovidos por “Os
Grupos” não têm que contribuir, periodicamente, quotizando-se,
para uma manutenção que não existe e, muitas vezes, não têm que
se inscrever antecipadamente nos eventos ou sequer cumprir as regras
mínimas impostas (e bem) pelas associações com personalidade
jurídica. “Os Grupos” buscam apenas o divertimento e o convívio
(o que é perfeitamente legítimo) sem que se tenham que se esforçar
ou preocupar com as questões que estão no pensamento de muitos
autocaravanistas, nomeadamente no que respeita à discriminação
negativa dos veículos autocaravanas. “Os Grupos” são
constituídos na quase totalidade por pessoas com alguma capacidade
financeira e que estando reformadas encontram no divertimento e no
convívio o aturdimento que os liberta da solidão.
As
pessoas de “Os
Grupos” justificam a sua NÃO adesão às associações com
personalidade jurídica pelos mais diversos motivos: as quotizações
são caras, nada lhes dão em troca, não gostam do presidente, é
uma direcção do Benfica e eu sou do Sporting, são comunistas, são
de direita, são isto e aquilo e o seu contrário, são tudo e mais
alguma coisa. Todos os pretextos são bons. Não me quero “chatear”!
É a palavra final.
Contudo,
é interessante constatarmos que as pessoas de “Os Grupos”
exigem, das mesmas associações em que se recusam inscrever, que os
protejam contra a discriminação negativa de que algumas vezes (uma
já seria demais) são alvo. Chegam ao ponto de se manifestar
publicamente contra as deliberações que as associações
democraticamente tomam nos seus órgãos próprios, correspondendo à
vontade dos respectivos associados, situação que até poderia ser
eticamente aceitável se fossem sócios de alguma associação com
personalidade jurídica. Porém, curiosamente, as pessoas que não
são sócias de associações com personalidade jurídica não fazem
exigências a’“Os Grupos” que existem apenas para divertimento
e convívio. Nem exigências dessas, nem de qualquer outra natureza,
pois, sendo nesses grupos apenas convidados, a sua capacidade de
intervenção é nula. Quem põe e dispõe é o “chefe” do Grupo
assessorado por alguns amigos. O tal chefe que não é eleito, num
Grupo sem regras nem estatutos aprovados, sem contabilidade, recibos
ou facturas e que, quando o chefe se aborrecer, fecha a porta e
apaga a luz.
São
também na prática as associações autocaravanistas, com
personalidade jurídica, que vão estabelecendo e difundido conceitos
(Cartilha do Autocaravanista), esclarecendo dúvidas legislativas
(através de avenças com advogados), defendendo a livre circulação
e estacionamento das autocaravanas (junto dos municípios e das
autoridades estatais), promovendo colóquios (convidando
especialistas), estabelecendo contactos a nível internacional
(Encontros FICC), etc. etc. etc.
É
inegável que alguns d’ “Os Grupos” promovem eventos
autocaravanistas com centenas de autocaravanas.
Seria
estúlticia contestar o direito à livre associação, no caso
especifico o direito um livre convívio, entre as pessoas d’ “Os
Grupos”. Mas, não será também reprovável que as 7 associações
vocacionadas para o autocaravanismo divulguem às custas dos
dinheiros (ou do trabalho) dos respectivos associados os eventos
promovidos por “Os Grupos”? E não é incompreensível que nos
eventos promovidos pelas 7 associações possam participar as pessoas
d’ “Os Grupos”, em igualdade de circunstâncias com os sócios
dessas associações? Se os não sócios, as pessoas d’ “Os
Grupos”, têm os mesmos direitos dos sócios das associações com
personalidade jurídica, porque é que não têm as mesmas
obrigações?
A
pergunta que se coloca a cada sócio é simples: Porque é que eu
hei-de ser sócio, pagar uma quotização, se o que não é sócio
tem na prática os mesmos benefícios que eu?
A
defesa dos interesses dos autocaravanistas em geral deve ser uma
preocupação das associações com personalidade jurídica, contudo,
a defesa real desses interesses pode estar a ser posta em causa se as
associações não tiverem uma sustentação económica que é
essencialmente traduzida através das quotizações dos respectivos
associados.
Ajudar,
apoiar, tratar por igual todos os autocaravanistas, incluindo mesmo
os que se recusam a ser solidariamente associados, ser-se “bonzinho”,
passar a mensagem do politicamente correcto, será estar a contribuir
para o enfraquecimento a médio prazo das associações.
É
do interesse das 7 associações que se reclamam vocacionadas para o
autocaravanismo que delineiem neste âmbito uma práctica
autocaravanista comum. É uma questão de sobrevivência.
Sobrevivência não só das associações como do próprio
autocaravanismo como preconizamos que venha a ser.
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) - AQUI)
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