A
24 de Fevereiro de 1987, pelas 15 horas, uma Delegação Sindical do
Secretariado de Empresa do BNU depositou junto da urna contendo os
restos mortais de Zeca Afonso (José Manuel Cerqueira Afonso dos
Santos) na Escola Secundária de S. Julião, em Setúbal, uma coroa
de flores. Depois, a Delegação Sindical (da qual eu fazia parte)
acompanhou o cortejo fúnebre até ao cemitério da senhora da
Piedade, também em Setúbal.
Mais
de trinta mil pessoas acompanharam Zeca Afonso nessa última viagem.
Zeca Afonso que tinha morrido na véspera, a 23 de Fevereiro, teve,
pouco mais de 24 horas depois, de forma absolutamente espontânea,
milhares de pessoas de todos os quadrantes sociais e políticos a
prestar-lhe uma última homenagem.
Zeca
Afonso que fez das canções uma arma a favor da Liberdade recusou,
coerente com a sua forma de estar, a Ordem da Liberdade concedida ao
tempo da Presidência de Ramalho Eanes e, posteriormente, quando a
título póstumo o Presidente da República Mário Soares quis de
novo prestar-lhe a mesma honraria, a mulher de Zeca Afonso não
aceitou o que o marido em vida já tinha recusado.
Dois
dias após a morte de José Afonso o extinto Semanário “se7te”,
dirigido por Cáceres Monteiro, dedicava a quase totalidade das
respectivas páginas à evocação do homem, do autor e do
compositor.
Segundo
o “se7te” prestaram derradeira homenagem a Zeca Afonso
personalidades tão distintas como Ramalho Eanes, Lourdes
Pintassilgo, Mário Tomé, Delegações da Assembleia da República,
da Associação Académica de Coimbra e outras, foram algumas das
centenas de figuras públicas que ocorreram a Setúbal. Entre os
cantores marcaram presença Júlio Pereira, José Mário Branco,
Francisco Fanhais, Carlos do Carmo, Rodrigo, Lena d´Água, Pedro
Barroso, Sérgio Godinho, entre muitos outros. Mas, também outros
nomes, como Eunice Muñoz, Lia Gama, Maria do Céu Guerra, Fonseca e
Costa, Diamantino, Vítor Baptista, Carlos Antunes, Isabel do Carmo,
um pouco representantes de todas as áreas da cultura.
O
que sobre José Afonso (e segundo o “se7te”) à data disseram,
em síntese:
Maria
de Lourdes Pintassilgo (Engenheira, ex-Primeira Ministra e
ex-Candidata à Presidência da República) - “Zeca
Afonso sonhou e cantou uma terra diferentes; terra de todos, em
fraternidade. É esse sonho que ele nos deixa em herança”.
José
Carlos de Vasconcelos (Poeta e Jornalista, ex-Deputado à
Assembleia da República) - “E como dói,
também, que tenha morrido o velho amigo, ainda que pela força das
circunstâncias separados, o companheiro de tantas noites de Coimbra
e de tantas “sessões” de música, canto e poesia com pides e
bufos no encalço! E que tenha morrido sem sequer lhe termos podido
pagar tudo o que lhe devíamos – e devemos...”
Otelo
Saraiva de Carvalho (Militar de Abril, candidato à
Presidência da República por duas vezes e apoiado por José Afonso)
- “Figura ímpar, fulgurante, da cultura
portuguesa deste século, dotado de excepcional qualidade humana e de
envergadura humanista, o Zeca Afonso, meu irmão, meu companheiro,
meu Amigo, perdurará eternamente na memória do povo português, ao
património do qual pertence para nosso orgulho. Um grande poeta
morreu! Viva Zeca Afonso!”
Almeida
Santos (ex-Deputado do Partido Socialista) - “Calou-se
a sua voz, mas nós vamos cantar por ele os lindos gritos de protesto
que compôs”
Amália
Rodrigues – (cantora) - “O José
Afonso foi uma personalidade muito importante para a música
portuguesa”
Carlos
Paredes (Músico e compositor) - “Acabou
por criar uma canção diferente,ao nível de Brassens ou de Brel,
afinal a sua própria canção, aquela que ele sentia que tinha
obrigatoriamente de cantar (…) José
Afonso passa à História como talvez não tenha passado qualquer
outro cantor. Tornou-se uma imagem nova, tornou-se uma figura eterna
que passa a fazer parte da nossa própria formação”
Júlio
Pomar (Pintor) - “O Zeca Afonso marca
uma situação portuguesa que foi capital para a existência de
algumas gerações. Os votos que quero fazer neste momento vão no
sentido de que um novo Zeca Afonso não encontre pela frente aquilo
que o Zeca encontrou.”
Jorge
Martins (Pintor) - “O Zeca Afonso foi
o reinventor da música popular portuguesa”
Arnaldo
Trindade (Primeiro editor das canções de José Afonso) - “Ele
e os seus colegas (entre os quais se destacou, como líder, o
malogrado Adriano Correia de Oliveira) Conseguiram fazer muito mais
do que os políticos da sua época. A música do Zeca Afonso
transcendeu-se a si própria”
Machado
Soares (Fadista de Coimbra) - “Ele foi
o poeta da música e a sua genialidade reside na circunstância de,
partindo das raízes populares, fazer uma canção plena de
intencionalidade e de empenhamento social, numa combinação
perfeita.”
Rui
Pato (Instrumentista) - “É preciso
respeitá-lo, é preciso não cometer com outros os erros que todos
cometemos com ele. O Zeca será sempre um símbolo do combate à
hipocrisia. Só a malvada doença o impediu de nos ensinar ainda
muita coisa não apenas como músico mas principalmente como homem”
Janita
(Músico e cantor) - “Tudo o que vivi com
ele foi importantíssimo para a música que eu hoje faço. E uma
coisa é certa: hei-de lembrar-me sempre do Zeca a cantar”
Luís
Represas (“Voz” dos Trovantes) - “O
que é que acham que eu posso dizer sobre o Zeca se a vida dele
constitui, ela própria, um depoimento – o melhor depoimento?”
Carlos
Alberto Moniz (Músico, cantor e compositor) - “(…) porque,
se o Zeca tinha um grande talento e uma forma de expressão
igualmente grande, tinha, acima de tudo, um coração enorme”
George
Moustaki (Intérprete e compositor francês) – O
Zeca
Afonso representava muito para mim: era o amigo, o poeta, o cantor, a
figura do 25 de Abril”
Luís
Pastor (Cantor espanhol) - “Aqui em
Madrid estamos todos tristes com a morte do Zeca Afonso. Não
deixaremos, porém, de o continuar a homenagear nos nossos
espectáculos de segundas-feiras na sala Eligene. Vamos todos cantar
para o Zeca, com o Zeca.”
Catherine
Ribeiro (Cantora francesa) - “Era
um grande amigo e nunca deixei de o cantar”
Mário
Soares (Enquanto Presidente da República)
“A
vida de Zeca Afonso foi um acto de fidelidade a princípios. Era um
homem livre, generoso e fraterno. Soube escutar a voz anónima do
povo e das sua raízes e elevá-la à altura do simbólico. Nas suas
cantigas, que não morrerão, ressoa o protesto pela injustiça e um
grito a favor da dignidade humana. Enquanto existirem homens que
choram o seu sacrifício e cantam a sua esperança, Zeca Afonso não
será esquecido.
O
seu nome está nobremente ligado a essa madrugada memorável do 25 de
Abril de 1974 em que, ao som de uma canção de fraterna
solidariedade, um povo se libertou e inaugurou uma nova época da sua
História.
a
sua integridade pessoal e a dignidade com que enfrentou doença, a
dor e a certeza da morte próxima constituem um emocionante
testemunho de coragem”
JOSÉ
AFONSO
“Estou
empenhado em que se desfaça a impressão de que me tornei uma coisa
que deve colocar-se numa redoma. Uma vez que me acusam de ser
injustamente mitificado quero apenas afirmar que sou uma pessoa
comum.
Recuso-me
terminantemente a transformar-me num mito”
O
legado cultural e político de Zeca Afonso (ver biografia AQUI)
não se poderia perder pelo que a 18 de Novembro de 1987 nasce a
Associação José Afonso (AJA) para promover as ideias deste
extraordinário intérprete e compositor (que não sabia música).
Hoje,
23 de Novembro de 2017, trinta anos após a morte de Zeca Afonso, a
associação a que ele
dá
o nome, vem
através
do Núcleo de Lisboa (ver
AQUI),
celebrar
a poesia escrita, cantada e dita num
recital conduzido por Júlia Lello e em que serão interpretadas
algumas canções por Marta Ramos acompanhada por João Parreira na
Guitarra.
Está
PRESENTE e leva outro amigo também.