TINHA
RAZÃO
À
LAIA DE INTRODUÇÃO
Foi
com alguma expectativa que escutei o recém eleito Presidente da FPA
(Manuel Bragança) numa entrevista que, conjuntamente com o
Presidente da Direcção da AAP (José Couto), deu à Rádio Regional
do Centro, no âmbito do programa “Agora Condeixa”, no passado
dia 3 de Fevereiro.
Esta
dupla e simultânea entrevista, eventualmente a primeira dada pelo
Presidente da FPA após ter sido eleito, deve ser ouvida, sem
preconceitos, mas com apurado sentido critico, pois algumas das
opiniões ali expressas coincidem com as que ao longo de muitos anos
venho divulgando.
Tenha-se,
no entanto, consciência de que as palavras de qualquer dirigente de
uma associação são importantes, mas a associação em si mesma só
deve ser responsabilizada pelas afirmações se escritas e
transcritas nos respectivos espaços oficiais. No caso em concreto
deve ser colocada no Portal da FPA, presumindo-se, assim, que toda a
Direcção aprovou e é solidária com os textos ali divulgados.
Como
se pode constatar os entrevistados misturaram as ideias ao ponto de
quem não for autocaravanista e/ou não for conhecedor das matérias
ter dificuldade em as entender, não sendo, inclusive, possível
encontrar um fio condutor. Por essa razão não segui a ordem
cronológica das respostas dadas e fui obrigado a “pescar” ao
longo de toda a entrevista, aqui e ali, as declarações que se
inserissem numa ideia tipo. Com este processo de trabalho, que melhor
me permitem exprimir algumas considerações, faço votos para que as
intenções dos entrevistados cheguem mais facilmente ao conhecimento
dos autocaravanistas.
Vejamos:
SETE
MESES PARA ELEGER OS ÓRGÃOS SOCIAIS DA FPA
É
do conhecimento geral que no fim-de-semana de 27/28 de Janeiro foram
finalmente eleitos os Órgãos Sociais da FPA, acontecimento que veio
quebrar o impasse em que se encontrava esta entidade desde Junho/2017
porquanto, não obstante terem sido marcadas várias datas para o
acto eleitoral, só sete meses depois teve lugar a eleição.
Não
estou a revelar nenhum segredo ao abordar a dificuldade que as
associações que constituem a FPA terão tido em encontrar
autocaravanistas disponíveis para fazer parte dos Órgãos Sociais
da FPA, pois que esta dificuldade foi denunciada pelo Presidente da
Direcção da AAP.
A
realidade que o agora Presidente da FPA e o Presidente da Direcção
da AAP não se coibiram de revelar, parece-me ser, além de um libelo
acusatório à anterior gestão da FPA, também o apontar de um
caminho alegadamente diferente do até então seguido.
A
AAP ADERIU A FPA PORQUE O EXECUTIVO DE CONDEIXA A DESAFIOU
Ao
longo de muitos anos muita tem sido a argumentação evocada por
muitas associações para aderirem a uma federação, mas as razões
evocadas, na entrevista, pelo Presidente da Direcção da AAP, para
que a associação aderisse à FPA foram, quanto a mim, inovadoras.
Tratou-se de um desafio. A AAP faz parte da FPA porque o Executivo de
Condeixa a desafiou! Não sou eu que o digo. É o Presidente da
Direcção da AAP que o afirmou na entrevista que deu.
Mas,
disse mais o Presidente da Direcção da AAP. Deu a conhecer que
antes da entrada da AAP na FPA contactou com a autarquia (de
Condeixa) que recebeu de “braços abertos” o Projecto.
Não
se entende muito bem de que Projecto, objectivamente, se trata:
Trata-se da filiação da AAP na FPA? Trata-se da indicação do
Presidente da FPA pela AAP? Trata-se da domiciliação da sede da FPA
em Condeixa? Trata-se da (hipótese da) realização de um Encontro
Autocaravanista Internacional em Condeixa?
O
importante, contudo, porque foi isso que foi realçado e nada mais, é
que o motivo (pelo menos o principal) que levou a AAP a federar-se na
FPA foi o desafio que foi lançado pelo Executivo de Condeixa. Somos
forçados a concluir que se o Executivo de Condeixa não tivesse
lançado o desafio a AAP não se teria federado?
A
AAP NASCEU PARA REFORÇAR A FPA,
MAS
A “VELHA” FPA NÃO ERA O QUE ESPERAVAM
Estava
convencido que a AAP tinha nascido da vontade de autocaravanistas
promoverem um tipo de associativismo turístico eventualmente
diferente daquele que era praticado pelas associações então
existentes. Fiquei surpreendido quando ouvi o Presidente da Direcção
da AAP afirmar que quando ela nasceu foi para reforçar a FPA.
Contudo, acrescentou, a FPA não era o que esperavam que fosse,
motivo, digo eu, pelo qual não aderiram à FPA e só agora o
fizeram, uns 6 anos depois. Poderemos, então, deduzir que para o
Presidente da Direcção da AAP a FPA só passou a ser o que
esperavam que fosse quando o agora actual Presidente passou a ser
alguém de confiança? De confiança da AAP, suponho!
HÁ
O RISCO DE A AAP SE DILUIR NA FPA?
Nesta
entrevista ficámos também a saber pela boca do Presidente da
Direcção da AAP que a FPA vai realizar o 1º colóquio no próximo
mês de Julho que, por coincidência, se realiza na data do
aniversário da AAP. Soubemos, igualmente, que a sede da FPA ficará
numa sala situada no mesmo local (quem sabe se a paredes meias) com a
futura sede da AAP. Mais ficámos a saber que nas festas que têm
lugar em Condeixa no mês de Fevereiro, a participação este ano é
da responsabilidade da AAP, mas que nos anos vindouros a colaboração
da FPA será uma realidade.
Perante
este tipo de interação, entre a AAP e a FPA, é significativo (ou
talvez não) que a resposta do Presidente da Direcção da AAP não
seja totalmente clara e objectiva quando o entrevistador lhe
perguntou se não existe a possibilidade de a AAP se diluir na FPA.
Note-se que a primeira reacção do Presidente da AAP foi: “Pelo
contrário”. Não posso deixar de reflectir que face às
condições em que a nova (?) FPA vai funcionar não seria surpresa
que fosse a FPA a diluir-se na AAP. Nesta questão atente-se também
nas declarações do Presidente da FPA ao longo de toda a entrevista.
MENSAGENS
DO NOVO PRESIDENTE DA FPA
O
destaque da entrevista centrou-se, contudo, no Presidente da
Federação que, contrariamente ao que eu esperava, não abordou
alguns temas que são polémicos no seio do Movimento Autocaravanismo
de Portugal.
Realço
algumas das ideias do Presidente da FPA que me fizeram sorrir.
Atente-se no que ele disse:
A
FPA estava parada, inactiva e é a entrada da AAP que veio trazer uma
nova dinâmica; nos mandatos anteriores a federação era
anímica (?)
Não
me parece muito ético, logo na primeira intervenção pública, o
Presidente da FPA vir criticar a actividade do anterior Presidente e
da anterior equipe dirigente, acusando-os de inactividade. Porém, em
boa verdade, conforme tantas vezes eu próprio o afirmei, não deixa
de ter razão.
Assumir
o compromisso de colocar o autocaravanismo acima dos projectos
pessoais
Senhor
Presidente da FPA, não quer explicar melhor? Na FPA havia projectos
pessoais? Talvez tenha razão, mas dessa alegada postura nunca eu
acusei ninguém.
Transformar
a imagem de “Feios, Porcos e Maus” que têm os autocaravanistas
Não
exagere, Senhor Presidente da FPA, também não é tanto assim. E, já
agora, se é assim, como diz, como é que vai proceder para fazer
aquilo que o anterior Presidente (e a respectiva equipe) não fizeram
e/ou não conseguiram fazer ao longo de vários anos?
A
sede da FPA tem que ser em Condeixa: (1)
porque é a sede do principal Clube da FPA (ou
seja da
AAP); (2)
porque a AAP tem um número significativo de sócios e é
(Condeixa) um lugar
geométrico (?); (3)
porque fica relativamente perto (da AAP,
deduzo)
Com
todo o respeito Senhor Presidente da FPA permita-me que alvitre que a
principal razão reside no facto de autarquia disponibilizar
instalações, eventualmente gratuitas. Não será?
Os
sócios da FPA (CAS, CAI e Gardingo)
têm o mérito de ter fundado a FPA, PONTO
Não
acredito! O Presidente de uma Federação, numa entrevista pública
dada no exercício do cargo, afirma que 75% dos clubes que constituem
a federação APENAS têm o mérito de ter sido fundadores? Se não
foi isso porque é que terminou a frase com a palavra PONTO. Ponto é
ponto final. Nada mais há a dizer. Foram fundadores, ponto!
Os
sócios do CAS, CAI e Gardingo têm no seu conjunto menos sócios que
a AAP
Se
não tivesse ouvido esta afirmação ser-me-ia muito difícil
acreditar que ela tinha sido proferida pelo Presidente da FPA, porque
ela, a afirmação, constitui em si mesma o demérito destes 3 clubes
relativamente à AAP de que, recordo, o Presidente da FPA é sócio.
Não é compreensível que um dirigente, não obstante poder não
estar a mentir, subalternize alguns dos associados que o elegeram com
afirmações absolutamente desnecessárias porque despropositadas
No
entanto, esta informação do Presidente da FPA, conjugada com a
informação do Presidente da AAP de que seu clube tem 347 sócios,
faz-nos concluir, fazendo as contas, que a FPA através dos seus
quatro clubes federados representa, indirectamente e
no máximo, 693 autocaravanistas. Ou seja, a FPA representa
indirectamente 11,55% dos autocaravanistas num universo
presumível de 6000.
Para
conhecimento registe-se que a “Associação Autocaravanista de
Portugal – CPA”, no mesmo presumível universo de
autocaravanistas, representa, directamente, pelo menos, 16,66%
de autocaravanistas.
FICM
– FÉDÉRATION INTERNATIONALE DES CLUBS DE MOTORHOMES
Lembram-se
da FICM? Aquela entidade na qual o CPA foi federado por deliberação
exclusiva de uma Direcção presidida pelo actual secretário da Mesa
da Assembleia Geral da FPA (Ruy Figueiredo) e à revelia dos sócios
do CPA que não foram chamados a pronunciar-se? Aquela entidade da
qual o CPA acabou por se retirar por deliberação dos sócios? A
mesma entidade a que, quase após o CPA a ter abandonado, a FPA
correu a federar-se? Pois sobre essa federação pronunciou-se na
generalidade o Presidente da Direcção da AAP de uma forma um pouco
confusa. Mesmo muito confusa...
Não
quero, no entanto, deixar, de realçar algumas referências que o
Presidente da FPA fez sobre a FICM. São dele estas observações:
A
FPA irá organizar um Encontro autocaravanista MUNDIAL em Condeixa,
com o apoio da Câmara Municipal; este encontro tem a designação de
EUROCC e estima-se que participem 500, 600, 700, 800 autocaravanas.
Descodificar
a linguagem do Presidente da FPA não é difícil, mas é necessário.
Esclareço
que não se trata de um Encontro mundial, como o disse o Presidente da
Direcção da FPA, mas de um Encontro europeu e, por isso mesmo, estes
Encontros designam-se, genericamente, por EUROCC (Euro de Europa e CC
de Camping Cars)
Já
quanto à quantidade previsível de eventuais participantes, pelo que
adiantou o Presidente da FPA, tanto podem ser 500, como 600, como
700, como 800. Ou será um número entre 500 e 800? Ou será um
número qualquer?!...
A
FPA irá apresentar ainda este ano na Assembleia da FICM a proposta
de realização do EUROCC em Portugal
Não
façam já planos, não reservem lá lugar, porque afinal
o Encontro em Condeixa ainda não é uma realidade. É apenas uma
proposta de candidatura para se realizar ainda se
não sabe em que ano, mas,
esclareceu o Presidente da FPA, será para um ano relativamente
breve.
Ficámos todos esclarecidos!
Na
FICM são federados todos os países da Europa ou praticamente todos.
O
Senhor Presidente da FPA peca pelo exagero. Primeiro, declarou que
era um Encontro autocaravanista mundial, mas logo corrigiu para um
Encontro Europeu. Depois, no decorrer da mesma entrevista, vem
considerar que a FICM tem a representação de todos os países da
Europa ou, condescendeu logo de imediato, de quase todos.
Na
realidade os países com organizações aderentes à FICM são,
presentemente, apenas 10 (dez). A saber: Alemanha, Bélgica,
Espanha, França, Grã-Bretanha, Grécia, Itália, Luxemburgo,
Portugal e Suíça. Que eu saiba a Europa é constituída por muitos
mais países. Mais que o quádruplo, Senhor Presidente! Precisamente
por 46 países.
Por
uma questão de curiosidade
esclareço que a
FICM teve alguns revezes com algumas organizações que eram
aderentes. A título de
exemplo: Em Portugal o “CPA”
abandonou a FICM tendo a
FPA, ainda sem existência legal, corrido a candidatar-se;
em Espanha a “Federacion
Española de Asociaciones Autocaravanistas” abandonou
a FICM e aderiu
à Federação
Internacional de Campismo, Caravanismo e Autocaravanismo,
tendo
sido ocupado o lugar, à época, por uma única associação; já
na
Holanda o “Nederlandese Kamperauto Club”, com 15000 associados,
abandonou a FICM não se tendo nenhum outro clube Holandês
candidatado ao lugar.
POLÍTICA
AUTOCARAVANISTA
Estava
com alguma (não muita) esperança que o Presidente da FPA nos
revelasse a política autocaravanista que a Direcção da FPA tinha
acordado e que iria desenvolver em defesa dos direitos, interesses e
garantias dos autocaravanistas.
Rapidamente
a esperança desvaneceu-se perante a pequenez dos objectivos de
política autocaravanista revelados na entrevista.
Do
que o Presidente da FPA disse sobre esta temática extraí as
seguintes ideias:
Os
autocaravanistas devem associar-se nos Clubes para lhes dar mais
força
É
um óptimo desejo expresso pelo Presidente da FPA. Fazer subir a
percentagem de cerca dos actuais 11,55% de autocaravanistas que são
sócios dos Clubes federados na FPA, para uns 30 ou 40% seria muito
bom e possivelmente
daria
mais força ao Movimento Autocaravanista de Portugal. Mas, para isso,
o Senhor Presidente da FPA está a esquecer-se de que é necessário
fomentar
a confiança dos autocaravanistas nesses
Clubes e apontar os caminhos para o conseguir. E é também
imprescindível que o Presidente da FPA não faça afirmações que
sobrevalorizem um clube em detrimento dos restantes, como atrás
referi.
As
autocaravanas devem estar no
local que pretendem visitar
48/72 horas
Quis
mesmo dizer isto Senhor Presidente da FPA? É que esta era a política
do seu antecessor que
em Comunicado da FPA defendia que as autocaravanas não
devem poder estacionar fora de parques especializados por períodos
superiores a 48 horas. Não
quero acreditar que esta seja a sua política, porque a sê-lo
constitui uma discriminação negativa do veículo autocaravana. Como
é do conhecimento de quem tem Carta de Condução
os
veículos, desde que não haja disposição camarária em contrário,
podem estar estacionados até 30 dias. Se viesse a haver uma
disposição Camarária dirigida apenas às autocaravanas seria
ilegal. E as ilegalidades, segundo afirmou o
Presidente da FPA na
entrevista, tiram-no do sério.
O
Código da Estrada tem que ser cumprido
Pois
tem, Senhor Presidente da
FPA,
pois tem. Desde 2010 que o ando a dizer, contrariando a política da
FPA que propõe uma lei especifica para o autocaravanismo. A FPA,
inclusive, exortou os autocaravanistas a subscreverem uma Petição
de apoio a essa legislação específica que,
presentemente, conta com “assinatura” de 888 pessoas, incluindo
as de
dirigentes dos fundadores da FPA. O que vai agora dizer a
essas 888 pessoas,
Senhor Presidente da FPA?
À
LAIA DE CONCLUSÃO
Estes
meus comentários já vão longos e mais longos iriam não fora com
isso poder enfadar os que me leem. Esforcei-me, acreditem!, para ser
o mais sintético possível. Não consegui.
Da
entrevista ressalta a ideia de que o Presidente da FPA quer fazer um
corte com o passado. Estarei errado? Se estiver errado iremos ter na
FPA mais do mesmo. Se estiver certo, não duvido que a mudança, para
melhor se for para diferente, só será possível com alterações
significativas e profundas na política até aqui seguida e que
promovam, por isso, se é que ainda é viável, a credibilidade da
FPA.
Para
que exista credibilidade é imprescindível haver transparência nos
processos de mudança e não só. Não bastam declarações,
eventualmente bem intencionadas, dos dirigentes da FPA. É
necessário que no espaço virtual oficial da FPA seja transcrita de
forma muito clara a política autocaravanista. Para tanto sugiro,
desde já, uma resposta positiva a, pelo menos, os seguintes
quesitos:
P:
Que política autocaravanista para Portugal?
R:
Uma política baseada na Declaração de Princípios.
P:
Um autocaravanista campista deve ser discriminado?
R:
A discriminação negativa nunca deve ser assumida.
P:
Os objectivos associativos devem ser limitados?
R:
Não, para todos se sentiram integrados.
P:
A filiação na FICM serve os autocaravanistas?
R:
Não! Não serve os interesses dos autocaravanistas.
P:
A igualdade discrimina as associações?
R:
Sim, se o binómio quota/voto não for ponderado.
P:
Justifica-se haver uma lei para o autocaravanismo?
R:
Para pior, embora ilegalmente, já basta o que basta.
P:
Mandatos limitados e transparência associativa?
R:
Sim, sem dúvida.
Digamos
que se resolvidos satisfatoriamente estes sete pecados capitais da
FPA (ver AQUI o desenvolvimento) será possível avançar para
um estágio superior de acreditação, mas, antes, é ainda
necessário um acto de contrição do Presidente, em nome da FPA:
Pedir
humildemente desculpa aos 888 subscritores da Petição da FPA em que
se exigia a aprovação de uma lei específica para o
autocaravanismo.
NOTA:
A entrevista aos Presidentes da FPA e da Direcção da AAP pode ser
acedida AQUI ou AQUI
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e
não só)
- AQUI)