Imagem
obtida no Blogue “Lições de Vida”
O
Sr. Alfredo, os restaurantes
e
os
Clubes Autocaravanistas
Há
uns anos atrás almoçava regularmente no restaurante do Sr. Alfredo,
situado algures num conhecido bairro lisboeta. Era o único
restaurante na zona, mas, felizmente, comia-se razoavelmente bem.
Talvez por isso, devido à simpatia do Sr. Alfredo, e também, como
já referi, por ser o único restaurante nas proximidades, os
clientes fidelizavam-se.
Um
dia cheguei ao restaurante mais tarde do que o habitual,
encontrando-se a sala já vazia. O Sr. Alfredo e a esposa (que também
era a cozinheira) e o único empregado que tinham (que ao que parece
era sobrinho) não obstante já se encontrarem a almoçar numa mesa
afastada, não deixaram de me atender e servir-me uma, por sinal
ainda me recordo, excelente refeição.
Terminado
o almoço o Sr. Alfredo veio sentar-se à minha mesa e presenteou-me
com um bagaço especial, daqueles que só se oferece à família mais
chegada e aos amigos. Também foi a primeira e única vez que o fez,
com grande pesar da minha parte, até porque não tive coragem de, ao
longo das vezes que ali continuei a almoçar, o pedir.
É
evidente que, naquele almoço, beberricando aquele bom bagaço,
trocámos algumas palavras, tendo ficado surpreendido com os
conhecimentos (de experiência feitos?) do Sr. Alfredo. Em dado
momento atrevi-me a comentar que ele devia estar muito satisfeito por
aquele ser o único restaurante da zona, por não ter concorrentes. E
foi aí que o Sr. Alfredo me surpreendeu. Que não, que não senhor.
Ele gostaria de ter na zona mais dois ou três ou mesmo quatro
restaurantes. Ora essa, disse-lhe eu, não tem medo que os seus
clientes se dispersem, lhe fujam. Mas que não, respondeu ele.
Haveria era mais clientes, pois as pessoas deslocam-se para onde há
maior possibilidade de escolha. Por outro lado, havendo mais
concorrência, teria cada um de se esforçar por prestar melhores
serviços. Pois eu não via, dizia-me empolgado o Sr. Alfredo, que
nesses bairros típicos onde há muitos restaurantes e tabernas, a
afluência é muita? Mais do que se houvesse só um. E então nas
zonas de restauração dos Centros Comerciais?! E continuou ele: -
Mesmo à noite, estão cheios! E aqui? Alguém vem para aqui, há
noite? Para um lugar deserto? E o Sr Alfredo terminou perentório: -
Mais três ou quatro restaurantes é que era bom. Depois, após uma
pausa, sentenciou: - Sem perder-mos as coisas de cada um, lá nos
havíamos de orientar no que fosse bom para todos.
Alguns
anos depois daquela conversa a minha actividade laboral deixou de se
centrar naquela zona e deixei de almoçar no restaurante do Sr.
Alfredo. Não sei se o restaurante ainda existe, não sei se o Sr.
Alfredo ainda é vivo, mas nunca esqueci as palavras dele. As
palavras de um homem que sabia como as “coisas” funcionam.
**********
Vem
esta pequena história à coação porque as associações
autocaravanistas de base e com personalidade jurídica há já tempo
demais que continuam sem capacidade para analisarem em conjunto os
problemas que se colocam ao Movimento Autocaravanista de Portugal.
Não
se pode assumir que a existência de mais ou de muitas associações
autocaravanistas é prejudicial, pois, como dizia o Sr. Alfredo,
haver mais restaurantes fortalece a restauração, na medida em que a
concorrência obriga a que cada um preste maiores, melhores e mais
diversificados serviços.
O
que prejudica o Movimento Autocaravanista de Portugal (as
associações, os associados e os autocarravanistas em geral) é, sem
que cada associação perca a respectiva identidade, não passar-se uma mensagem comum para o exterior do Movimento que permita criar
condições para o desenvolvimento sustentado do autocaravanismo.
Vamos
ao concreto:
As
associações concordam que ACAMPAR
é a imobilização da autocaravana, ocupando um espaço superior ao
seu perímetro, em consequência da abertura de janelas para o
exterior, uso de toldos, mesas, cadeiras e similares, para a prática
de campismo?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que acampar
só é permitido (e assim deve continuar) em locais consignados na
Lei e, consequentemente, salvo exceções, também consignadas na
Lei, é proibido na via pública, independentemente da hora a que
ocorra, devendo, na salvaguarda do interesse público, ser
penalizado?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que ESTACIONAR/PERNOITAR
é a imobilização da autocaravana na via pública, respeitando as
normas de estacionamento em vigor, designadamente o Código da
Estrada, independentemente da permanência ou não de pessoas no seu
interior?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que o
ato de estacionar/pernoitar, conforme é acima definido, deve poder
continuar a ser efetuado em qualquer local, não proibido por Lei
(nomeadamente no Código da Estrada) não podendo as autocaravanas,
pelo simples facto de o serem, nomeadamente através de sinalética
que não conste de diplomas legais (e que será discriminatória se
vier a existir), ser impedidas de o fazer?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que é
lesivo da igualdade de tratamento a que todos temos direito a
existência de diplomas que legislem de forma discriminatória,
impedindo especificamente o veículo autocaravana de estacionar onde
outros veículos de igual ou semelhante gabarito o podem fazer?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que o
turismo itinerante em autocaravana é um fator de desenvolvimento
económico para as populações que justifica em si mesmo uma
discriminação positiva do autocaravanismo?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que os
Parques de Campismo Municipais devem permitir a utilização das
Estações de Serviço para Autocaravanas neles existentes, no âmbito
de uma politica de proteção do ambiente e, consequentemente, a
preços compatíveis com o serviço prestado (abastecimento de água
potável e despejo de águas negras e cinzentas)?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
As
associações concordam que a
implementação de Áreas de Serviço para Autocaravanas, em pelo
menos uma por Concelho, preferencialmente de iniciativa autárquica,
contribui, não só para o desenvolvimento económico das populações,
como para a proteção ambiental e o melhor ordenamento do trânsito
automóvel?
Se concordam, digam-no em conjunto, porque é minha convicção que
os autocaravanistas estão de acordo.
Não
se trata de uma obsessão afirmar constantemente que se as
associações concordam o devem fazer em conjunto. Trata-se de dar
força política a conceitos que já estão interiorizados no seio do
Movimento Autocaravanismo Europeu, o que tem maior impacto se for
transmitido conjuntamente, a uma só voz, pelas associações
autocaravanistas de base e com personalidade jurídica.
Recordando,
parafraseando as ideias do Sr. Alfredo, digo:
Sem
perder as coisas de cada um, lutemos pelo que é bom para todos
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e
não só)
- AQUI)
Sem comentários:
Enviar um comentário