Nem
de propósito...
Desde há
muitos anos que tenho o hábito de aos Sábados comprar o Semanário
EXPRESSO e, num café da zona onde resido, aí pelas 10 horas,
enquanto como deliciado um pastel de nata e beberrico um café quente
e forte, leio o jornal.
As crónicas
de Clara Ferreira Alves, Daniel Oliveira e Miguel Sousa Tavares são
as primeiras que leio, quase sempre com sentido crítico. Nem sempre
concordo com as crónicas que escrevem e, algumas vezes, o meu acordo
é parcial. Este Sábado (16 de Março), a tradição cumpriu-se e lá
li o que estes “opinion makers” (fazedores de opinião)
escreveram. E, nem de propósito, o artigo de Miguel Sousa Tavares
(DE COMO A LUTA DE CLASSES VAI MATAR A DEMOCRACIA
– Ver AQUI)
veio dar (relativa)
sustentabilidade ao meu artigo de opinião, sobre o autocaravanismo e os autocaravanistas, que foi escrito no passado dia 14 Março:
TRIBUNOS DO ÓDIO
(ver AQUI).
Permitam-me,
pois, para uma ainda maior compreensão (inclusivo do meu sentir) do
que escrevi em “TRIBUNOS do ÓDIO”, transcrever um trecho do
artigo de Miguel Sousa Tavares que é muito elucidativo do que se
passa nas chamadas redes sociais:
“Olhados
de perto, todas essas inócuas redes cujos utilizadores juram só
aproveitarem para reencontrar os colegas da primária ou fazerem
contactos profissionais, constituem um catálogo sabiamente fundado
em todos os defeitos da natureza humana, a que, mais tarde ou mais
cedo, eles irão sucumbir. Depois, é claro, é conforme a educação
e os princípios de cada um. Mas a grande massa dos que ali desaguam,
entregue sem freio a si própria, é um espectáculo lastimável do
pior da natureza humana. A tal cobardia anónima é, fatalmente, a
primeira tentação irresistível: ofender,
insultar, mentir, caluniar, difamar, inventar sobre o outro a
coberto do anonimato, podendo
tudo dizer sem nada arriscar, deve ser uma verdadeira catarse.
A seguir vem o exibicionismo (a par do correspondente voyeurismo,
para o qual existem os exibicionistas), e a noção de que se é tão
mais importante quanto se expõe a vida aos outros, por mais idiota
que ela seja.”
(Sublinhados da
minha responsabilidade)
Outro
trecho da mesma crónica de Miguel Sousa Tavares considera que “O
povo que vomita opiniões nas redes sociais (...)”
é o mesmo que se não dá “(...) ao
trabalho de ler livros, jornais, de ouvir os outros, de reflectir
sobre os assuntos, de consultar relatórios, estudos, enfim, de ter
trabalho com o assunto”.
Melhor que ser eu a expor o pensamento do cronista, é lê-lo:
“O
povo que vomita opiniões nas redes sociais, com a mesma facilidade
com que vomita perdigotos, é justamente aquele que acredita
(...) que
tem direito à “democratização da opinião”. E que isso o
dispensa de ter uma opinião informada, dando-se ao trabalho de ler
livros, jornais, de ouvir os outros, de reflectir sobre os assuntos,
de consultar relatórios, estudos, enfim, de ter trabalho com o
assunto. Aliás, basta
seguir um qualquer debate sobre qualquer tema nas redes sociais para
logo perceber que
ali ninguém está interessado em debater o que quer que seja nem
sequer em convencer o outro: rapidamente
qualquer esboço de troca de argumentos descamba para o insulto
pessoal mais rasteiro e ordinário.
Não há ali sombra de democratização de opinião, de alternativa
popular às elites, do que quer que seja que se possa suportar. É a
mediocridade e a inveja a arrombarem a porta, já nem sequer da
democracia, mas de um mundo simplesmente habitável. E é esta gente,
com estes valores e esta educação cívica e política, que elege os
Trumps, os Bolsonaros, as Le Pens e os Salvinis.”
(Sublinhados
da minha responsabilidade)
Como te
compreendo, meu Caro Miguel Sousa Tavares!
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