segunda-feira, 18 de março de 2019

Nem de propósito...




Nem de propósito...


Desde há muitos anos que tenho o hábito de aos Sábados comprar o Semanário EXPRESSO e, num café da zona onde resido, aí pelas 10 horas, enquanto como deliciado um pastel de nata e beberrico um café quente e forte, leio o jornal.

As crónicas de Clara Ferreira Alves, Daniel Oliveira e Miguel Sousa Tavares são as primeiras que leio, quase sempre com sentido crítico. Nem sempre concordo com as crónicas que escrevem e, algumas vezes, o meu acordo é parcial. Este Sábado (16 de Março), a tradição cumpriu-se e lá li o que estes “opinion makers” (fazedores de opinião) escreveram. E, nem de propósito, o artigo de Miguel Sousa Tavares (DE COMO A LUTA DE CLASSES VAI MATAR A DEMOCRACIA – Ver AQUI) veio dar (relativa) sustentabilidade ao meu artigo de opinião, sobre o autocaravanismo e os autocaravanistas, que foi escrito no passado dia 14 Março: TRIBUNOS DO ÓDIO (ver AQUI).

Permitam-me, pois, para uma ainda maior compreensão (inclusivo do meu sentir) do que escrevi em “TRIBUNOS do ÓDIO”, transcrever um trecho do artigo de Miguel Sousa Tavares que é muito elucidativo do que se passa nas chamadas redes sociais:


Olhados de perto, todas essas inócuas redes cujos utilizadores juram só aproveitarem para reencontrar os colegas da primária ou fazerem contactos profissionais, constituem um catálogo sabiamente fundado em todos os defeitos da natureza humana, a que, mais tarde ou mais cedo, eles irão sucumbir. Depois, é claro, é conforme a educação e os princípios de cada um. Mas a grande massa dos que ali desaguam, entregue sem freio a si própria, é um espectáculo lastimável do pior da natureza humana. A tal cobardia anónima é, fatalmente, a primeira tentação irresistível: ofender, insultar, mentir, caluniar, difamar, inventar sobre o outro a coberto do anonimato, podendo tudo dizer sem nada arriscar, deve ser uma verdadeira catarse. A seguir vem o exibicionismo (a par do correspondente voyeurismo, para o qual existem os exibicionistas), e a noção de que se é tão mais importante quanto se expõe a vida aos outros, por mais idiota que ela seja.” (Sublinhados da minha responsabilidade)


Outro trecho da mesma crónica de Miguel Sousa Tavares considera que “O povo que vomita opiniões nas redes sociais (...)” é o mesmo que se não dá “(...) ao trabalho de ler livros, jornais, de ouvir os outros, de reflectir sobre os assuntos, de consultar relatórios, estudos, enfim, de ter trabalho com o assunto”. Melhor que ser eu a expor o pensamento do cronista, é lê-lo:


O povo que vomita opiniões nas redes sociais, com a mesma facilidade com que vomita perdigotos, é justamente aquele que acredita (...) que tem direito à “democratização da opinião”. E que isso o dispensa de ter uma opinião informada, dando-se ao trabalho de ler livros, jornais, de ouvir os outros, de reflectir sobre os assuntos, de consultar relatórios, estudos, enfim, de ter trabalho com o assunto. Aliás, basta seguir um qualquer debate sobre qualquer tema nas redes sociais para logo perceber que ali ninguém está interessado em debater o que quer que seja nem sequer em convencer o outro: rapidamente qualquer esboço de troca de argumentos descamba para o insulto pessoal mais rasteiro e ordinário. Não há ali sombra de democratização de opinião, de alternativa popular às elites, do que quer que seja que se possa suportar. É a mediocridade e a inveja a arrombarem a porta, já nem sequer da democracia, mas de um mundo simplesmente habitável. E é esta gente, com estes valores e esta educação cívica e política, que elege os Trumps, os Bolsonaros, as Le Pens e os Salvinis.(Sublinhados da minha responsabilidade)


Como te compreendo, meu Caro Miguel Sousa Tavares!



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