domingo, 11 de agosto de 2019

VENTURAS E DESVENTURAS - 2º Episódio





VENTURAS E DESVENTURAS

de

UM AUTOCARAVANISTA EM VIAGEM


2º Episódio



No primeiro episódio de “Venturas e Desventuras de um Autocaravanista em Viagem” (ver AQUI) escrevi que para estacionar a autocaravana tinha sido obrigado “a usar toda a minha força para mover o volante”. Porque este pormenor é importante peço-vos que o retenham na vossa memória.

Reparada que foi a avaria da minha “nova” autocaravana (como vos contei) e depois de darmos um pequeno passeio pelos Passadiços de Lobão, lá seguimos (eu e o meu Amigo, companheiro autocaravanista desta viagem) para a Área de Serviço de Autocaravanas (ASA) de São Romão do Coronado.

Esta ASA encontra-se estrategicamente bem colocada, relativamente à utilização de transportes públicos e serviços comerciais. É bastante arborizada, disponibiliza energia eléctrica e o preço é mesmo uma agradável surpresa. O facto de, por comboio, distar do centro do Porto menos de 30 minutos e a um preço muito baixo, torna-a apetecível e um lugar de excelência para quem quer visitar a capital do norte.

A ASA tem também uma particularidade, mas que a não torna única em Portugal pois que existe, pelo menos, uma outra em Chaves. O pagamento é feito com base na confiança. O que quer isto dizer? Na parede da casa da junta de Freguesia são disponibilizados envelopes onde os autocaravanistas utentes da ASA colocam o valor da estadia e introduzem os respectivos envelopes numa caixa existente para o efeito. O montante a pagar é calculado pelos próprios autocaravanistas com base num preçário escrito em três línguas que se encontra afixado.

Algumas horas depois de chegarmos anoiteceu. Jantámos, dormimos e o raiar de um novo dia anunciava-se quente e luminoso.


E aqui começaram as desventuras.

Acordei com uma dor forte no meu pulso esquerdo que me impedia de movimentar normalmente o braço e a mão. Dor que atribui de imediato à força excessiva que tinha feito para mover o volante da autocaravana aquando da avaria. Não fora o forte apoio do meu Amigo, companheiro de viagem, e teria iniciado o meu regresso a casa nesse mesmo dia.

O dia lá foi correndo, mas a dor não corria para lado nenhum, mantinha-se e cada vez mais forte. Nem mesmo as fricções com uma pomada anti inflamatória a diminuía. Um “punho elástico” que entretanto colocara ajudava, mas não muito.

Nessa noite não dormi muito bem e na manhã seguinte resolvi consultar um médico ortopedista e, se possível, constatar através de uma radiografia se não tinha nada partido ou deslocado.

Contactei telefonicamente o serviço de saúde privado de que sou beneficiário há mais de 40 anos e fui encaminhado para alguns outros serviços privados da zona do Porto. Telefonema para cá, telefonema para lá e não conseguia uma consulta de ortopedia e uma radiografia através das instituições que me tinham sugerido.

Desisti e resolvi recorrer ao Serviço Nacional de Saúde.


E aqui começaram as venturas.

Saí, a pé, da Área de Serviço, e dirigi-me para a estação da CP onde apanhei um comboio com destino ao Porto tendo descido na estação de São Bento, no centro do Porto. Depois, fui de táxi para o Hospital de São João onde cheguei às 12 horas e trinta minutos.

Na recepção das urgências do Hospital de São João procedi à inscrição e fui encaminhado para a chamada triagem. Entrei na triagem seriam umas 12 horas e 35 minutos, tendo-me sido atribuída uma pulseira de cor verde e de imediato me deram instruções para me dirigir ao serviço de ortopedia onde uma médica me ouviu e prescreveu uma radiografia que fiz no serviço de imagiologia, onde entrei cerca das 12 horas e 40 minutos. Depois de me terem feito duas radiografias ao pulso, às 12 horas e 50 minutos estava de novo a ser observado pela médica que me esclareceu que não tinha nada partido, que se tratava de uma tendinite, me aconselhou que continuasse o tratamento que já vinha fazendo. Eram 13 horas quando saí do Hospital. Ou seja, trinta minutos depois de ter entrado.

Apanhei um táxi para a Estação de São Bento, apanhei o comboio de regresso a São Romão do Coronado, caminhei durante uns 5 minutos e cheguei à Área de Serviço.

Reflectindo sobre esta situação e não acreditando que os órgãos de comunicação social mintam descaradamente quando informam que há pessoas que aguardam nas urgências dos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde cinco e mais horas para serem atendidos, considerei que era um homem com muita sorte. Talvez uma excepção.

Nos trinta minutos em que estive no Hospital de São João fui amavelmente atendido por todos os profissionais com quem privei. O diagnóstico também foi o correcto, pois passados uns 3 dias as dores desapareceram e readquiri os movimentos do braço e da mão.

Esta, para que conste, não foi a minha primeira experiência com o Serviço Nacional de Saúde. Terá sido a terceira (ou quarta?) e de todas elas fui excelentemente atendido e num tempo adequado ao meu estado de saúde.

O Serviço Nacional de Saúde nem sempre funcionará bem e muitas serão, certamente, as dificuldades e problemas. Contudo, mesmo assim, que seria da maioria dos cidadãos se não existisse o SNS? E se só existissem serviços de saúde privados? Fico-me por aqui nesta estória, pois não desejo, neste contexto, abordar os benefícios e malefícios do nosso sistema público de saúde.

No próximo Domingo contar-lhes-ei o terceiro e último episódio desta saga.

Ah!, mas já agora permitam um conselho. Se alguma vez tiverem um acidente grave, mesmo grave, peçam para serem levados para um hospital público… Talvez se “safem”.


1 comentário:

  1. Interessante do princípio ao fim. ASA a reter. Mas afinal qual foi a avaria?

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