AUTOCARAVANISMO versus
CAMPISMO
(E os Estatutos da FCMP)
O autocaravanismo não tem nada a ver com o campismo, dizem
uns.
O autocaravanismo é uma disciplina do campismo ou, mais
recentemente, o autocaravanismo é uma modalidade de campismo, dizem outros.
Uns afirmam-no sem nunca se terem debruçado sobre o tema;
outros repetem apenas o que ouvem dizer a quem admiram ou de quem são amigos;
outros ainda dizem uma coisa e o seu contrário.
Quando se lhes é colocada, feita, uma pergunta concreta, ou
apresentada uma contradição, disfarçam a sua ignorância atacando o
interlocutor.
Afirmar que o autocaravanismo nada tem a ver com o campismo
não passa numa análise séria, como também afirmar que o autocaravanismo é uma
disciplina do campismo (ou seja um ramo do campismo) ou ainda uma modalidade de
campismo (ou seja uma forma de fazer campismo) é, no mínimo redutor e também
não passa por uma análise séria.
Os ideais, os códigos e os hinos
Mas o tema não fica apenas neste dualismo de posições. Há
quem até considere que existe um ideal autocaravanista que é obviamente,
segundo dizem, distinto do ideal campista. Só que não conseguem, pelo menos que
eu saiba, definir um ideal autocaravanista que seja distinto de um ideal
campista.
E, para enredar ainda mais o assunto, criam-se no âmbito do
autocaravanismo as cartilhas, as regras de ouro e até se importam de além
Pirenéus o respeito. Procura-se, com
estas criações, um distanciamento do Código
Campista com o possível intuito de fazer a diferença entre campismo e
autocaravanismo. Uma análise superficial evidencia que todos estes textos podem
ser perfeitamente assumidos por quem quer que se intitule campista ou
autocaravanista.
Mas, o mais risível, neste afã de autonomia a todo o custo,
é que as associações criam hinos que os identifiquem. Os hinos que conheço
identificam perfeitamente o que se quer que seja o campismo ou o que se quer
que seja o autocaravanismo. Basta, apenas, trocar no texto da canção a palavra Campismo
por autocaravanismo ou vice-versa.
O curioso é que também no afã de se procurar autonomizar o
autocaravanismo se recorra aos símbolos e tradições que têm origem no campismo.
Como se constata as contradições são mais que muitas, mas,
no entanto, felizmente, há sempre alguém de bom senso, há sempre alguém
coerente.
Bem prega Frei Tomás
Os autocaravanistas “puros” e as respectivas associações que
fazem a apologia do autocaravanismo como uma modalidade de turismo itinerante
vão, simultaneamente, na maior das contradições, elogiando a criação de locais públicos
onde as autocaravanas se quedam sedentarizadas e acampadas. E se perto houver
um rio, ainda melhor. Nesses locais abrem-se os toldos, colocam-se mesas,
cadeiras e fogareiros no exterior das autocaravanas e convive-se e fazem-se
grandes “patuscadas”
É isto errado? Claro que não! É isto campismo? Claro que
sim!
Então, o autocaravanismo também pode ser uma actividade
campista? A resposta afirmativa é dada pela prática campista que os
autocaravanistas “puros” praticam (e gostam) nos locais públicos que elogiam e
divulgam. A grande, a incomensurável contradição desses autocaravanistas
“puros”, das associações em que se integram e da federaçãozinha que criaram, é
que divulgam uma filosofia autocaravanista que se quer afirmar por um ideal que
não conseguem definir e, muito menos, concretizar. A filosofia que defendem é apresentada
pela negativa: não sou campista, afirmam.
Mudanças sem roturas
Em contrapartida a este sectarismo incompreensível há
organizações que vão fazendo um percurso que é demasiado lento na minha
opinião, mas é cada vez mais consequente com as necessidades do Movimento
Autocaravanista de Portugal. Refiro-me à Federação de Campismo e Montanhismo de
Portugal.
Na Revisão Estatutária que a Federação de Campismo e
Montanhismo de Portugal teve que fazer por imposição legal, o artigo 3º dos
Estatutos foi, relativamente aos Estatutos anteriores, alterado. O Autocaravanismo deixou de ser consignado nos Estatutos da federação (e bem) como uma disciplina
do campismo. Foi encontrada uma terminologia que, sem fugir ao enquadramento
legal a que as federações desportivas estão sujeitas, veio considerar o
autocaravanismo como uma modalidade diferente do campismo, mas sem prejuízo,
porém, de o poder ser. É através desta procura dos entendimentos que as
mudanças se vão operando, sem roturas, criando espaços onde todos os que
usufruem da actividade autocaravanista se sintam integrados e que fazem da
Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal uma associação onde o diálogo,
embora difícil, se vai fazendo com resultados positivos para todos os
autocaravanistas, qualquer que seja a vertente que perfilhem.
Há esperança.
(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)
Boa tarde.
ResponderEliminarConcordo e não concordo com a analise efectuada. Isto é confuso? Talvez.
Antes de mais não se poderá esquecer que o mundo não é a preto e branco. Ainda bem!
Assim provavelmente nunca haverá consenso nesta matéria. Ainda bem acrescento eu!
Quanto ao tema em concreto, considero o seguinte:
1) A autocaravana é um veiculo automóvel, que naturalmente poderá circular e estacionar nos termos previstos do Código da Estrada.
2) Com uma autocaravana os seus utilizadores poderão praticar campismo ou não. Não se poderá considerar que os utilizadores de uma autocaravana estão a praticar campismo se as actividades que desenvolvem são idênticas ás dos utilizadores de veículos automóveis "normais" ou seja que não autocaravanas.
3) A pratica de campismo está regulada em Portugal e também nos restantes Países, pelo menos nos minimamente "desenvolvidos". Assim a pratica de campismo violando as leis, regulamentos e regras, em vigor deve ser punida independentemente ser feita por utilizadores de autocaravanas ou não. Não poderá dado tratamento diferenciado aos utilizadores de autocaravanas. Devem ser tratados sem qualquer tipo de descriminação positiva ou negativa.
4) Se os utilizadores de uma autocaravana quando estão no seu interior comem, dormem, lêem um livro ou um jornal, ou fazem qualquer outra actividade que não perturbe a ordem pública, qual é problema?
5) Se os utilizadores de autocaravanas praticam campismo fora dos locais apropriados devem ser penalizados. Mas exactamente da mesma forma e com o mesmo critério que os não utilizadores de autocaravanas!
6) Se os utilizadores de autocaravanas efectuam despejos na via pública ou nos locais impróprios para tal devem ser penalizados. Mas exactamente da mesma forma e com o mesmo critério que os não utilizadores de autocaravanas!
Concluindo: os utilizadores de autocaravanas devem ter o mesmo tipo de tratamento que os não utilizadores de autocaravanas! Qual é a dúvida?
Assim não vejo qual a necessidade de "legislar", "regulamentar" ou "inventar cartilhas ou regras de ouro". De facto já está "inventado" tudo o que é necessário para regular a utilização de autocaravanas.
Mais confusão parece-me desnecessária.
Devemos apelar a que as Autoridades actuem com o necessário critério. Penalizem quem não cumpre as regras (legislação e regulamentação) independentemente de quem o faz.
Quando as autoridades tem que penalizar, autuando, bloqueando ou rebocando uma viatura automóvel irregularmente estacionada só o fazem à(s) que se encontra(m) nesta situação e não a todas as que se encontram estacionadas não é verdade? É isto que têm que fazer também com os utilizadores das autocaravanas. Sem mais!
Cumprimentos a todos os companheiros.
José António Queirós.
Poderá parecer que o comentário de José António Queirós é contrário ao artigo de opinião “Autocaravanismo versus Campismo”, mas não é.
EliminarÉ um comentário absolutamente concordante com a Declaração de Princípios subscrita pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (http://cpa-autocaravanas.com/upload/CPA%20-%20declaracao%20de%20principios%20-%20portugues.pdf) e que desde sempre apoiei
É um comentário absolutamente concordante com a minha opinião sobre a NÃO necessidade de leis específicas para o autocaravanismo, conforme pode ser lido no último parágrafo do artigo de opinião “Cuidado com a língua” (http://papa-leguas-portugal.blogspot.pt/2014/10/cuidado-com-lingua.html), pois as que existem são suficientes.
Assim, a única parte do comentário de José António Queirós que não entendi, está contido na seguinte frase. “Concordo e não concordo com a analise efectuada.” Qual é o ponto que não concorda?
O que é uma autocaravana? Naturalmente é uma caravana com meios de propulsão próprios. Logo a questão pode ser colocada de outra forma: "Será o caravanismo uma modalidade de campismo?". É evidente que há por aí quem circule com caravana e não tenha nada a ver com o campismo. Mas eu não me quero misturar com essa gente.
ResponderEliminarAbsolutamente de acordo com o descrito, como também absolutamente de acordo que é hora das Autoridades, Administrativas e Policiais, começarem a intervir e a aplicar as respectivas coimas, dos 150€ aos 200€, deveriam também apreender todo o material envolvido na Prática de Campismo na Via Pública, viatura automóvel inclusive se esta tiver o toldo aberto fora de um Parque de Campismo!
ResponderEliminarQuando as Autoridades decidirem intervir, terminará a tremenda confusão entre "autocaravanismo" e "auto-campismo"!
Minha opinião à mais de 25 anos!
Um abraço e até sempre,
José Gonçalves