AUTOCARAVANISMO: Práctica campista que permite turismo itinerante?

Imagem obtida em Macamp

AUTOCARAVANISMO:

Prática campista que permite turismo itinerante?

É muito ténue e complexa a linha de fronteira que delimita e define “campismo” e “autocaravanismo”. Tão ténue que ainda a não encontrei consciente, honesta e claramente definida.

São muitos os que afirmam que “autocaravanismo” é sinónimo de “práctica de turismo itinerante”,  embora seja um sinónimo limitativo, pois que o “turismo itinerante”, que também é praticado com caravanas, com tendas, em hotéis, em Parques de Campismo, não deixa, porém, de poder ser (o turismo itinerante) um objectivo essencial dos utilizadores de autocaravanas.

Curiosamente, uma quantidade substancial dos que definem “autocaravanismo” como uma “modalidade de turismo itinerante” tece os maiores elogios às actividades que concentram as autocaravanas durante vários dias PARADAS num mesmo local ou, o que não é de somenos, regozijam-se com as férias em que “vão a banhos” durante 15 ou mais dias, alterando assim, inconscientemente, o conceito de “turismo itinerante” para “turismo parado”.

Na realidade o “turista itinerante” é aquele que viaja, basicamente com fins de entretenimento e eventualmente com outras finalidades, permanecendo nos locais que visita pelo tempo  indispensável à finalidade da viagem. Caso viaje em grupo até pode ser denominado “excursionista”.

Mas, reafirmo e questiono, não farão também “turismo itinerante” os que viajam em caravana, ou em qualquer outro meio de transporte (numa bicicleta, por exemplo) e pernoitem num hotel ou num Parque de campismo? De realçar que a Lei em vigor em Portugal até considera os Parques de Campismo como empreendimentos turísticos.

Há, inclusive, quem afirme que o “autocaravanismo” é uma “práctica campista que permite  o turismo itinerante”, de forma mais económica e conjugada com os prazeres da natureza. Esta, também não me parece ser uma definição apropriada para definir “autocaravanismo”. O “caravanismo”, por exemplo, também pode ser uma “práctica campista que permite  o turismo itinerante”. Esta definição aplica-se, pois, a quase todas as modalidades campistas, pois todas elas possibilitam a “práctica do turismo itinerante”.

Em Outubro de 2014, num artigo de opinião intitulado “AUTOCARAVANISMO versus CAMPISMO” (ver AQUI) escrevi:

“Na Revisão Estatutária que a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal teve que fazer por imposição legal, o artigo 3º dos Estatutos foi, relativamente aos Estatutos anteriores, alterado. O Autocaravanismo deixou de ser consignado nos Estatutos da federação (e bem) como uma disciplina do campismo. Foi encontrada uma terminologia que, sem fugir ao enquadramento legal a que as federações desportivas estão sujeitas, veio considerar o autocaravanismo como uma modalidade diferente do campismo, mas sem prejuízo, porém, de o poder ser. “

CONCLUINDO: O “autocaravanismo” não pode apenas ser definido como uma “modalidade de turismo itinerante”, pois que a definição é redutora e não abrange exclusivamente o “autocaravanismo”, aplicando-se igualmente a outras modalidades. No máximo, podemos afirmar que as autocaravanas também (mas não só) podem ser utilizadas na “práctica de turismo itinerante”.

Então, o que é o “autocaravanismo”? Como defini-lo?

Regressando à ideia inicialmente expressa neste texto reafirmo, com a maior convicção, que “É muito ténue e complexa a linha de fronteira que delimita e define “campismo” e “autocaravanismo””.

Será realmente necessário e imprescindível definir “autocaravanismo” e “campismo”?

Atente-se que o texto da “Declaração de Princípios” (ver AQUI) subscrita por diversas entidades em 2010 não define o que é “autocaravanismo” e “Campismo”.

A discriminação negativa do veículo autocaravana, com que se vinham confrontando os autocaravanistas (e que ainda hoje se confrontam), justificava a existência de uma Declaração com Princípios que servissem de orientação. É com esse propósito que se acordou por escrito, logo nos quatro primeiros pontos da Declaração, o que  é acampar EM AUTOCARAVANA para contrapor ao que é estacionar/pernoitar EM AUTOCARAVANA.

Na “Declaração de Princípios” é definido o que é acampar em autocaravana; não é definido o que é “autocaravanismo” e “campismo”.

A “Associação Autocaravanista de Portugal – CPA” (CPA) ao ter subscrito a “Declaração de Princípios”, além de assumir a importância dos Parques de Campismo e das Áreas de Serviço quanto apoio às autocaravanas e, igualmente, consignar objectivos turísticos, campistas, culturais, desportivos e lúdicos nos respectivos Estatutos, estava (e continua a estar) a promover a não discriminação negativa do veículo autocaravana e, simultaneamente, a praticar uma política inclusiva relativamente aos respectivos associados. Todos os cidadãos que pratiquem actividades em autocaravana, independentemente de se considerarem turistas, campistas ou o quer que se assumam, são bem-vindos ao CPA. Está-se perante uma associação que não divide, antes pelo contrário, que integra.

A “Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal” (FCMP) tendo igualmente subscrito a “Declaração de Princípios”, além de com essa subscrição também assumir a importância dos Parques de Campismo e das Áreas de Serviço no apoio às autocaravanas, não exclui, nem as associações vocacionadas essencialmente para o autocaravanismo, nem os cidadãos que pratiquem actividades em autocaravana, independentemente de os mesmos se considerarem turistas, campistas ou o quer que se assumam.

A “Federação Internacional de Campismo, Caravanismo e Autocaravanismo” (FICC) está igualmente imbuída da mesma filosofia inclusiva, não só por ter subscrito a “Declaração de Princípios” (embora com as modificações estruturais inerentes a uma organização mundial), como por acolher  a filiação de associações vocacionadas essencialmente para o autocaravanismo, de que é um exemplo a Federación Española de Asociaciones Autocaravanistas (ver AQUI) e integrar, através do Camping Card International, pessoas de todo mundo, incluindo autocaravanistas, quer se reivindiquem campistas ou turistas ou… uma qualquer outra adjectivação. Esta integração, esta assimilação, foi ao ponto de incluir na antiga denominação da FICC o vocábulo “autocaravanismo” que antes não existia e ao símbolo da FICC foi acrescida a imagem estilizada de uma autocaravana, com o propósito claro de evidenciar que os ideais campistas, caravanistas e autocaravanistas são semelhantes ou mesmo iguais.

A abertura associativa, não sectária, não divisionista, mas abrangente e aglutinadora, faz com que estas três entidades, o CPA (associação de base vocacionada essencialmente para o autocaravanismo), a FCMP (associação federativa e tutelar de expressão nacional) e a FICC (associação de âmbito mundial abrangendo o campismo, o caravanismo e o autocaravanismo), tenham uma tal expressão numérica de associados, directos e indirectos, que lhes permite emitir opiniões sobre as respectivas áreas de intervenção que, além de escutadas e respeitadas, são levadas em conta na formulação de decisões.

E, finalmente, qual a resposta à pergunta que deu título a este texto (AUTOCARAVANISMO: Práctica campista que permite turismo itinerante?)?

Quero lá saber da resposta!!! Só quem pretende separar se preocupa com questões que promovem a divisão.

O que os autocaravanistas querem é estacionar na via pública a respectiva autocaravana em igualdade de circunstâncias com outros veículos de igual gabarito e que as associações converjam na obtenção desse propósito

O que realmente importa é que através de uma estratégia comum se consiga a unidade mínima indispensável para fazer cessar (com base na filosofia constante da “Declaração de Princípios”) a discriminação negativa de que são vítimas os veículos autocaravanas.

O resto são desculpas de maus pagadores.

(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)