quinta-feira, 25 de agosto de 2016

FOGO: EXPERIÊNCIA TURÍSTICA

Foto do “Circuito Mato Grosso”

FOGO: EXPERIÊNCIA TURÍSTICA

(Crónicas de Itália)


O calor era intenso. Com os vidros da autocaravana abertos sentia no rosto um “ardor” e o fumo, bem como alguma fuligem, dificultava-me a visão e a respiração. Com os vidros fechados suava abundantemente.

Nos lados da estrada que me levaria a Cefalu (Sicília), vindo de Palermo, pequenas árvores em chamas tornavam o ambiente muitíssimo pouco acolhedor e quando algumas das árvores e arbustos em chamas tombavam sobre a estreita estrada obrigavam-me a diminuir a velocidade e avançar em ziguezague. Não sendo adepto de desportos automobilísticos aquela gincana não programada fazia com que surgisse em mim o desejo e a necessidade de regressar à segurança de Palermo de onde saíra há menos de uma hora.

O objectivo turístico à saída de Palermo era continuar a contornar a ilha, como o vinha fazendo, seguindo pela costa do “Mare Tirreno”, passando e visitando Cefalu e Milazzo, até atingir Messina, onde, de Ferry, atravessaria o estreito do mesmo nome, regressando à Península Itálica. À entrada de Cefalu o fumo era de tal forma espesso que não havia visibilidade além de uns 10 metros. Agentes da autoridade só permitiam a passagem de quem se dirigia para Cefalu. Decidi, então, não avançar e regressar a Palermo, fazendo inversão de marcha.

A intenção de retornar a Palermo mostrou-se também difícil. Desconhecendo as estradas e guiando-me apenas pelo GPS, era obrigado pelos agentes da autoridade a alterar constantemente a rota, pois havia estradas bloqueadas.

Quando já me encontrava a alguns quilómetros de Palermo, na estrada, a uns 50 metros na minha frente, erguia-se uma parede de fumo através da qual algumas viaturas se atreviam a passar e logo desapareciam como que engolidas. Outros carros encostavam na berma e ficavam a aguardar. Segui-lhes o exemplo. Passado algum tempo tentei outro caminho e de novo fui barrado por agentes da autoridade que me indicavam percursos que conduziam a outros desvios, e a outros, e a outros... Tive a nítida sensação que andava em círculos.

Em determinado momento, com um intenso calor e fumo espesso a rodear-me, vi um painel indicando a direcção de Catânia, que se situa no lado oposto da ilha em relação àquele em que me encontrava. Parei, consultei o mapa e verifiquei que tinha que atravessar toda a ilha, passando por Enna (que já tinha visitado) para atingir Catânia. Em Catânia, pensei, seguiria para norte, junto à costa e, percorrendo em sentido inverso uma rota que também já tinha feito, chegaria a Messina. Foi o que fiz.

Esta experiência fez-me reflectir sobre os incêndios em Portugal e o trabalho voluntário dos Bombeiros:

Primeiro reflecti na falta de apoios que obrigam as Corporações de Bombeiros a pedir “esmola”, fazer “rifas”, para que possam continuar a ajudar as comunidades em que se inserem;

Depois pensei nas pessoas que se insurgem contra os Bombeiros por demorarem no socorro mais do que (na opinião delas) deveriam, mas que não são sócias de nenhuma a Associação de Bombeiros; pessoas que exigem, que condenam a falta de apoios estatais aos Bombeiros, que a eles (Bombeiros) recorrem em momentos de aflição, mas que não estão disponíveis para pagar uma quotização equivalente a dois ou três cafés por mês.

O Movimento Autocaravanista de Portugal, através das associações autocaravanistas, poderia lançar junto de todos os autocaravanistas, até ao próximo dia 26 de Maio (Dia Nacional do Bombeiro), uma campanha de sensibilização subordinada ao lema:

SOU AUTOCARAVANISTA – APOIO OS BOMBEIROS


Mesmo que as associações autocaravanistas nada façam, cada um de nós, cada autocaravanista, por si mesmo, pode inscrever-se como sócio da Associação de Bombeiros mais próxima da localidade onde reside.


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)


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