Foto do “Circuito Mato Grosso”
FOGO: EXPERIÊNCIA TURÍSTICA
(Crónicas de
Itália)
O calor era intenso. Com os vidros da autocaravana abertos
sentia no rosto um “ardor” e o fumo, bem como alguma fuligem, dificultava-me a
visão e a respiração. Com os vidros fechados suava abundantemente.
Nos lados da estrada que me levaria a Cefalu (Sicília), vindo
de Palermo, pequenas árvores em chamas tornavam o ambiente muitíssimo pouco
acolhedor e quando algumas das árvores e arbustos em chamas tombavam sobre a estreita estrada obrigavam-me a diminuir a velocidade e avançar em ziguezague. Não sendo adepto de desportos automobilísticos
aquela gincana não programada fazia com que surgisse em mim o desejo e a
necessidade de regressar à segurança de Palermo de onde saíra há menos de uma
hora.
O objectivo turístico à saída de Palermo era continuar a
contornar a ilha, como o vinha fazendo, seguindo pela costa do “Mare Tirreno”,
passando e visitando Cefalu e Milazzo, até atingir Messina, onde, de Ferry,
atravessaria o estreito do mesmo nome, regressando à Península Itálica. À
entrada de Cefalu o fumo era de tal forma espesso que não havia visibilidade
além de uns 10 metros. Agentes da autoridade só permitiam a passagem de quem se
dirigia para Cefalu. Decidi, então, não avançar e regressar a Palermo, fazendo inversão
de marcha.
A intenção de retornar a Palermo mostrou-se também difícil.
Desconhecendo as estradas e guiando-me apenas pelo GPS, era obrigado pelos
agentes da autoridade a alterar constantemente a rota, pois havia estradas
bloqueadas.
Quando já me encontrava a alguns quilómetros de Palermo, na
estrada, a uns 50 metros na minha frente, erguia-se uma parede de fumo através
da qual algumas viaturas se atreviam a passar e logo desapareciam como que engolidas. Outros
carros encostavam na berma e ficavam a aguardar. Segui-lhes o exemplo. Passado
algum tempo tentei outro caminho e de novo fui barrado por agentes da
autoridade que me indicavam percursos que conduziam a outros desvios, e a outros, e a outros... Tive a nítida sensação que andava
em círculos.
Em determinado momento, com um intenso calor e fumo espesso a
rodear-me, vi um painel indicando a direcção de Catânia, que se situa no lado
oposto da ilha em relação àquele em que me encontrava. Parei, consultei o mapa
e verifiquei que tinha que atravessar toda a ilha, passando por Enna (que já
tinha visitado) para atingir Catânia. Em Catânia, pensei, seguiria para norte,
junto à costa e, percorrendo em sentido inverso uma rota que também já tinha feito,
chegaria a Messina. Foi o que fiz.
Esta experiência fez-me reflectir sobre os incêndios em
Portugal e o trabalho voluntário dos Bombeiros:
Primeiro reflecti na falta de apoios que obrigam as
Corporações de Bombeiros a pedir “esmola”, fazer “rifas”, para que possam
continuar a ajudar as comunidades em que se inserem;
Depois pensei nas pessoas que se insurgem contra os
Bombeiros por demorarem no socorro mais do que (na opinião delas) deveriam, mas
que não são sócias de nenhuma a Associação de Bombeiros; pessoas que exigem,
que condenam a falta de apoios estatais aos Bombeiros, que a eles (Bombeiros) recorrem
em momentos de aflição, mas que não estão disponíveis para pagar uma quotização
equivalente a dois ou três cafés por mês.
O Movimento Autocaravanista de Portugal, através das
associações autocaravanistas, poderia lançar junto de todos os
autocaravanistas, até ao próximo dia 26 de Maio (Dia Nacional do Bombeiro), uma
campanha de sensibilização subordinada ao lema:
SOU AUTOCARAVANISTA –
APOIO OS BOMBEIROS
Mesmo que as associações autocaravanistas nada façam, cada um de nós, cada autocaravanista, por si mesmo, pode inscrever-se como sócio da Associação de Bombeiros mais próxima da localidade onde reside.
(O autor, todas as Quintas-feiras,
no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos
relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)
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