Antes Sinal Ilegal |
Depois Sinal Legal |
O ANTES e o DEPOIS
da
FPA
exigir
o
pictograma
OS
QUEIXINHAS
Estava
eu muito interessado a ver o vídeo da audiência concedida à FPA
pelo Grupo de Trabalho de Turismo da Comissão de Economia, Inovação
e Obras Públicas da Assembleia da República (ver AQUI)
quando, sem acreditar no que estava a ouvir, resolvi, para reflectir,
fazer uma interrupção.
Ter-me-ia
enganado?! Estaria a ver imagens de uma sala de aulas de outrora em
que uns meninos faziam queixinhas à Sra professora?
Retomei
o visionamento das imagens esperando que os alegados representantes
dos autocaravanistas assumissem uma postura institucional, condizente
com o local em que se encontravam. Mas, há medida que os minutos
passavam, comecei a sentir-me… triste.
A
forma como os representantes da FPA se dirigiam aos deputados, no
decorrer da audiência, quase que os considerando ignorantes, levou a
determinado momento, como se impunha, que a Presidente do Grupo de
Trabalho de Turismo fosse forçada a diplomaticamente esclarecer que
a experiência dos deputados não pressupunha que pudessem ser
enganados (naquela matéria, acrescento eu).
O
meu imaginário transportava-me daquela sala da Assembleia República
para uma sala de aulas dos tempos da outra senhora em que os meninos
queixinhas imploravam pela compreensão da professora: “Sô
pessora”, a culpa é dos meninos que cá estiveram. Eles são maus!
Nós somos os bonzinhos. Nós é que merecemos os rebuçados.”
Pois
não é que desde a primeira intervenção e no decorrer de quase
toda a audição, os representantes da FPA, com uma persistência
inadmissível, com uma postura que se desejaria institucional perante
um órgão de soberania, exprimiam os seus estados de alma
relativamente à Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal
esquecendo-se que aquele não era o momento e muito menos o local,
para o fazer. Pediram
uma audiência a um órgão de soberania para passarem uma grande
parte do tempo a criticar outra instituição?! Os dirigentes da FPA
que façam a catarse das respectivas frustrações de política
autocaravanista no seio de grupos de autoajuda e não ocupem
inutilmente o tempo dos deputados.
É evidente que este tipo de intervenção conduziria, como conduziu,
a um auto-elogio consubstanciado na ideia de que a FPA (e os
respectivos dirigentes) são os únicos, os verdadeiros, OS
representantes do autocaravanismo em Portugal. Aos dirigentes da FPA
só lhes faltou afirmar, parafraseando Luís XIV perante os
parlamentares franceses, nós
somos o autocaravanismo. Na
realidade a FPA que representa menos que 5% dos autocaravanistas,
cuja existência em Portugal se estima em 6000, não devia
aventurar-se por caminhos onde pode tropeçar.
Uma
outra mensagem que a FPA, um pouco atabalhoadamente, procurou
transmitir motiva-me, antes de prosseguir, a fazer uma declaração
de interesses: Eu
não sou rico e tenho uma autocaravana.
Os
representantes da FPA esclareceram (?) os deputados que os
autocaravanistas não são uns pobrezinhos, pois que uma autocaravana
custa uns bons milhares de euros, valor que corresponderia a um
pequeno apartamento em Portugal. Pretenderiam elevar o estatuto
social dos autocaravanistas perante quem os denigre e os apouca? Ou
queriam que os autocaravanistas não fossem confundidos com as etnias
nómadas (leia-se ciganos)? Mas, ser pobre, ou ser cigano, é algo de
que alguém se deva envergonhar? A imagem que poderá ter passado,
com este tipo de considerações e sem nenhum enquadramento prévio,
é péssima.
A
credibilidade de uma instituição também se faz pela postura
e
pela
coerência dos respectivos dirigentes.
Ao
longo dos tempos a FPA sempre se recusou a subscrever a Declaração
de Princípios (ver AQUI).
Contudo, no decorrer da audição, não deixou de, por outras
palavras, evocar os princípios que ali se consignam: acampar é
diferente de estacionar; estacionar com ou sem pessoas no interior do
veículo é um direito; uma área de serviço pelo menos em cada
concelho.
Na
audição realizada na Assembleia da República a FPA exigiu que
fosse criado o pictograma de uma autocaravana (que legalmente não
existe) para fazer parte da sinalização. Querem, e disseram-no com
veemência, sinalização de trânsito dirigida às autocaravanas,
para que deixe, quiçá, de haver sinais ilegais. Num período em
que a correlação de forças é desfavorável para os
autocaravanistas, vir solicitar a criação de sinais, para que
possam ficar legais os sinais que agora são ilegais, só pode passar
pela cabeça dos dirigentes da FPA. Os dirigentes da Federação de
Campismo e Montanhismo de Portugal e das Associações de Parques de
Campismo podem ficar descansados.
Em
17 de Dezembro de 2015, num artigo de opinião intitulado “Legalizar
a discriminação negativa” (ver AQUI),
atribuía-se a Nuno
Marques, vice-presidente da CCDR-Algarve, a afirmação que “(...)
em
termos legais, a sinalética que proíbe o acesso de auto-caravanas a
determinados locais, muito utilizada na Região do Algarve, não tem
enquadramento legal”
e,
nessa perspectiva, eu, perguntava
se ainda havia “autocaravanistas
dispostos a reivindicar a alteração da sinaléctica actual correndo
o risco de as alterações serem contrárias aos interesses dos
autocaravanistas?”
Pois, para meu espanto, ainda há! Há, ainda, quem queira alterar a
sinalética actual: os dirigentes da FPA.
Curiosamente,
também se ouviu estes mesmos dirigentes da FPA apoiar a
implementação de uma rede nacional de acolhimento ao
autocaravanismo. Curiosamente, digo-o uma vez mais, a justificação
desse apoio talvez se compreenda pelo facto de a FPA estar filiada na
Associação Nacional de Turismo, entidade alegadamente participante,
directa ou indirectamente, na “Rede
de Acolhimento ao Autocaravanismo na Região do Algarve”
que
é uma iniciativa da responsabilidade directa da CCDR-Algarve que
promove a discriminação negativa dos veículos autocaravanas.
Curiosamente, ou talvez não, uma das deputadas presentes enalteceu o
apoio da FPA a uma rede de acolhimento nacional, adiantando
IMEDIATAMENTE que devem existir regras para as autocaravanas.
Mas,
CURIOSAMENTE, (que foi a palavra mais usada pelos representantes da
FPA) é dito na audição, por estes dirigentes, que deve ser o
Código da Estrada a regular o estacionamento do veiculo
autocaravana. Não podia estar mais de acordo. Existem leis
suficientes para que o veículo autocaravana seja tão legalmente
enquadrado como qualquer outro tipo de viatura. Leis de ruído, leis
de salubridade, leis de trânsito... O que é necessário é que as
leis sejam CORRECTAMENTE aplicadas, os transgressores sejam multados
e, sempre que possível, no momento da transgressão.
O
que não é entendível é que os dirigentes da FPA tenham vindo, ao
longo destes poucos anos da pouca existência desta associação,
reclamar mais legislação, promover petições, apoiar (como o
fizeram) projectos de Lei que discriminavam negativamente o veículo
autocaravana.
E
sobre a postura e coerência dos representantes da FPA, na audição
realizada na Assembleia da República, ficamos esclarecidos.
A
mensagem que não passou
A
mensagem que a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal
passou para o exterior e para os seus associados, quando esteve a ser
ouvida pelo mesmo Grupo de Trabalho de Turismo, foi absolutamente
clara nas intenções, concorde-se ou não.
Não
fez queixinhas, apresentou uma proposta de legislação em que quer
que os veículos estacionados à noite com pessoas no interior só o
possam fazer em Parques de Campismo e justificou a proposta
essencialmente com os maus comportamentos de autocaravanistas e com a
segurança nacional. Propôs ainda mais legislação que não deve
preocupar muito os autocaravanistas enquanto tal.
A
mensagem que a FPA passa para o exterior e para os respectivos
associados é confusa e levanta dúvidas sobre os objectivos
pretendidos e preocupações sobre a estratégia.
Ao
fazer queixinhas sobre a FCMP, ao longo de toda audição, a FPA
passou para o exterior a mensagem de que o que está em causa é
saber-se quem representa o autocaravanismo, é marcar no terreno o
respectivo território. Relativamente a legislação, que é o que
importa na casa das leis, a mensagem que sobressaiu foi a da
exigência de sinalização de trânsito para as autocaravanas o que,
em termos estratégicos, como acima referi, pode ser muito mau para
os autocaravanistas na actual conjuntura.
O
importante, neste tipo de audições, será sempre a simplicidade da
mensagem em que se demonstre a justiça e a clareza dos propósitos.
Política
autocaravanista foi o que a FPA não fez.
REPITO
O QUE VENHO DIZENDO DESDE 2010:
Justifica-se,
agora mais do que nunca, uma acção concertada do Movimento
Autocaravanista de Portugal que passa pela criação de uma
Plataforma de Entendimento inorgânica, constituída por todas as
associações de base, vocacionadas para o autocaravanismo e com
personalidade jurídica.
(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)
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