NATAL:
um dia diferente?
Hoje
é véspera de natal. Véspera do dia em que (para os cristãos)
Jesus (filho de deus feito homem) nasceu. No entanto, segundo algumas
pesquisas, Jesus não terá nascido a 25 de Dezembro. Mas, na
realidade isso não importa. Também não importa se Jesus era (ou é)
filho de deus. O importante é a filosofia da mensagem que vem sendo
divulgada sob o seu nome.
Uma
mensagem importantíssima que instituiu novos conceitos de vida.
Contudo, estarão esses conceitos a ser integrados na sociedade em
que vivemos e, muito particularmente, assumidos intrinsecamente pelos
que se afirmam cristãos? Ou será apenas um faz de conta?
Nas
redes sociais são muitos os que aplaudem as palavras caritativas de
importantes figuras religiosas, os que condenam a existência da
pobreza, os que se manifestam contra os salários absurdamente
elevados em comparação com a miséria de remunerações, mas não
se conhece por parte destes, por pequena que seja, qualquer ACÇÃO
que promova uma mudança social que extinga tanto quanto possível os
factos que veem condenando.
Infelizmente,
enquanto cada um de nós não contribuir para que a sociedade mude na
perspectiva da filosofia que nos vem sendo transmitida há mais de
2000 anos, o que escrevi e que aqui vou reproduzir (já lá vão 3
anos), continua actual, porque representa a postura de uma parte
representativa da sociedade que valoriza mais a forma do que o
conteúdo
O
natal é que passou
No
dia 24 de Dezembro estarei sentado a uma pequena mesa com a minha
pequena família. Uma mesa farta em que não faltará o bacalhau da
Noruega (espero que ainda sem fosfatos), as batatas, as
couves, o ovo (devidamente carimbado), tudo regado com o bom
azeite português (talvez ainda não adulterado) que faz parte da tão
falada dieta mediterrânica, além, claro, de muitos e muitos doces
(sem edulcorantes). Ah!, já me esquecia do bom vinho
português (sem sulfitos, claro).
O
meu neto estará desejoso que o jantar termine rapidamente para
correr a abrir os presentes que se acumularão sob a árvore de
natal, uma imitação de um pinheiro natural, que alguém da família
foi buscar à arrecadação e encheu de luzes e bolas, vermelhas, e
que no passado chamávamos encarnadas por causa das conotações
políticas.
Se
a noite estiver fria teremos o aquecimento ligado e, muito
importante, a televisão sintonizada num qualquer programa
apropriado. Talvez passe uma reportagem sobre os “sem-abrigo”,
onde se vêm algumas dezenas de voluntários a oferecerem uma sopa
quente, tudo em directo, o que nos fará sentir momentaneamente
desconfortáveis, mas só momentaneamente, porque logo de seguida
somos visualmente brindados com ceias de natal, verdadeiros
deslumbramentos gastronómicos, servidas numas quaisquer salas
decoradas a primor, para satisfação de quem as pode pagar.
Por
essa altura já o meu neto terá desfeito completamente os embrulhos
e regozijar-se-á com aquele presente que durante um mês ou dois se
não cansou de “gritar” a toda a família que era o queria que
lhe desse o pai natal (no meu tempo era o menino jesus).
Nestes
jantares tradicionais não me parece que haja tempo para pensar nos
mais de dois milhões de portugueses e nos muitos e muitos milhões
que noutras partes deste maltratado planeta não têm uma alimentação
mínima, uma habitação condigna, um acesso a cuidados de saúde
elementares, uma oferta educativa quanto baste, porque, simplesmente
porque, tiveram o azar de ter nascido na parte errada do mundo e da
sociedade.
E
haverá tempo para a solidariedade? Sabemos o que é ser-se
solidário? Sabemos?
Há
muitos, mesmo há muitos anos, foi atribuída a um preso a autoria
deste poema:
É
Natal. E pr’a meu mal,
No
lugar em que estou,
Eu
não passei o Natal.
O
Natal é que passou…
Para
todos, mesmo com o natal a passar, os meus votos de Boas Festas.
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