sábado, 24 de dezembro de 2016

NATAL: um dia diferente?





NATAL: um dia diferente?



Hoje é véspera de natal. Véspera do dia em que (para os cristãos) Jesus (filho de deus feito homem) nasceu. No entanto, segundo algumas pesquisas, Jesus não terá nascido a 25 de Dezembro. Mas, na realidade isso não importa. Também não importa se Jesus era (ou é) filho de deus. O importante é a filosofia da mensagem que vem sendo divulgada sob o seu nome.

Uma mensagem importantíssima que instituiu novos conceitos de vida. Contudo, estarão esses conceitos a ser integrados na sociedade em que vivemos e, muito particularmente, assumidos intrinsecamente pelos que se afirmam cristãos? Ou será apenas um faz de conta?

Nas redes sociais são muitos os que aplaudem as palavras caritativas de importantes figuras religiosas, os que condenam a existência da pobreza, os que se manifestam contra os salários absurdamente elevados em comparação com a miséria de remunerações, mas não se conhece por parte destes, por pequena que seja, qualquer ACÇÃO que promova uma mudança social que extinga tanto quanto possível os factos que veem condenando.

Infelizmente, enquanto cada um de nós não contribuir para que a sociedade mude na perspectiva da filosofia que nos vem sendo transmitida há mais de 2000 anos, o que escrevi e que aqui vou reproduzir (já lá vão 3 anos), continua actual, porque representa a postura de uma parte representativa da sociedade que valoriza mais a forma do que o conteúdo



O natal é que passou

No dia 24 de Dezembro estarei sentado a uma pequena mesa com a minha pequena família. Uma mesa farta em que não faltará o bacalhau da Noruega (espero que ainda sem fosfatos), as batatas, as couves, o ovo (devidamente carimbado), tudo regado com o bom azeite português (talvez ainda não adulterado) que faz parte da tão falada dieta mediterrânica, além, claro, de muitos e muitos doces (sem edulcorantes). Ah!, já me esquecia do bom vinho português (sem sulfitos, claro).

O meu neto estará desejoso que o jantar termine rapidamente para correr a abrir os presentes que se acumularão sob a árvore de natal, uma imitação de um pinheiro natural, que alguém da família foi buscar à arrecadação e encheu de luzes e bolas, vermelhas, e que no passado chamávamos encarnadas por causa das conotações políticas.

Se a noite estiver fria teremos o aquecimento ligado e, muito importante, a televisão sintonizada num qualquer programa apropriado. Talvez passe uma reportagem sobre os “sem-abrigo”, onde se vêm algumas dezenas de voluntários a oferecerem uma sopa quente, tudo em directo, o que nos fará sentir momentaneamente desconfortáveis, mas só momentaneamente, porque logo de seguida somos visualmente brindados com ceias de natal, verdadeiros deslumbramentos gastronómicos, servidas numas quaisquer salas decoradas a primor, para satisfação de quem as pode pagar.

Por essa altura já o meu neto terá desfeito completamente os embrulhos e regozijar-se-á com aquele presente que durante um mês ou dois se não cansou de “gritar” a toda a família que era o queria que lhe desse o pai natal (no meu tempo era o menino jesus).

Nestes jantares tradicionais não me parece que haja tempo para pensar nos mais de dois milhões de portugueses e nos muitos e muitos milhões que noutras partes deste maltratado planeta não têm uma alimentação mínima, uma habitação condigna, um acesso a cuidados de saúde elementares, uma oferta educativa quanto baste, porque, simplesmente porque, tiveram o azar de ter nascido na parte errada do mundo e da sociedade.

E haverá tempo para a solidariedade? Sabemos o que é ser-se solidário? Sabemos?


Há muitos, mesmo há muitos anos, foi atribuída a um preso a autoria deste poema:

                                                  É Natal. E pr’a meu mal,
                                                  No lugar em que estou,
                                                  Eu não passei o Natal.
                                                  O Natal é que passou…



Para todos, mesmo com o natal a passar, os meus votos de Boas Festas.



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