Imagem
obtida
no blogue “OUTRASPALAVRAS”:
M.C. Escher, Relatividade
Querem
sol na eira e chuva no nabal
ou
(Que
raio de coerência!)
Há
cerca de um mês foi notícia que o recentemente encerrado Parque de
Campismo de Tomar iria reabrir transformado em local destinado ao
parqueamento de autocaravanas. A Câmara Municipal, impedida por
qualquer disposição legal (que agora não vem para o caso) de
manter aberto o Parque de Campismo (e também – ao que consta –
devido às exageradas despesas), encontrou uma forma expedita de dar
utilização ao local.
Pessoalmente
nada tenho contra esta nova utilização daquele espaço, antes pelo
contrário. Mas, também não me regozijei com o encerramento do
Parque de Campismo, antes pelo contrário, pois quando um espaço que
é um ponto de apoio ao turismo de ar livre encerra algo se perde e
até se pode perder a favor da “floresta de cimento”. O
interessante, porém, é que muitos dos puristas do autocaravanismo,
que se mostraram indiferentes ao encerramento do Parque de Campismo,
vieram-se congratular com a nova utilização que vai ser dada (por
quanto tempo?) àquele espaço.
Recordemos
que as Áreas de Serviço de Autocaravanas (ASA), enquanto
equipamentos municipais, têm uma função distinta dos Parques de
Campismo. As primeiras, que podem ser implementadas pelas Câmaras
Municipais, não se destinam a ser utilizadas como locais de
campismo. São parques de estacionamento destinados a autocaravanas e
têm acoplado equipamento para abastecimento e despejo de águas
(saponárias e químicas).
Já
as impropriamente denominadas Áreas de Serviço, criadas ao abrigo
de uma Portaria que Regulamenta o campismo, são verdadeiros Parques de Campismo
exclusivos de autocaravanas e, não obstante terem algumas regras
específicas, nelas pode-se acampar.
Também
curiosa e contraditoriamente muitos dos puristas do
autocaravanismo aplaudem a criação de Áreas de Serviço,
tanto as que são equiparadas a equipamentos municipais, como as que
são Parques de Campismo exclusivos a autocaravanas, mesmo que em
redor dos locais onde as áreas existam seja proibido o
estacionamento de veículos autocaravanas em igualdade de
circunstâncias com outros veículos de igual gabarito. Ou seja, aplaudem os "guetos" onde as autocaravanas só poderão pernoitar obrigatoriamente.
A
contradição, que aqui aponto, é tanto ou mais preocupante quando
revela que o que está em causa, para esses puristas do
autocaravanismo, não é a discriminação negativa do veículo
autocaravana, não é uma questão de direitos, não é uma luta
pelos valores da justiça.
Nem
a existência de Parques de Campismo, nem a de Áreas de Serviço
(equipamentos municipais ou campings) podem ser contrapartidas (mesmo
que gratuitas) à proibição de estacionamento nos locais onde
outros veículos de igual gabarito o possam fazer. Aceitá-lo é legitimar a discriminação negativa dos veículos autocaravanas.
Quando
a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal foi recebida na
Assembleia da República e propôs legislação que proibia o
estacionamento das autocaravanas fora de locais apropriados foi (e
bem) criticada por alegadamente querer colocar em “guetos” as
autocaravanas. Mas os “guetos”, caros puristas do
autocaravanismo, não eram, nem são, só sinónimo de Parques de
Campismo. São, também, (os “guetos”) sinónimos de Áreas de
Serviço ou Parques de Estacionamento exclusivos para autocaravanas.
Nessa data algumas entidades vieram, de forma populista (o
populismo está na moda), afirmar publicamente que iriam retirar das
respectivas Bases de Dados a referência a Parques de Campismo como
pontos de apoio ao autocaravanismo. Nada teria que criticar a essa medida
se, coerentemente, tivessem tido igual procedimento relativamente às
áreas de serviço cujos gestores apoiam (abertamente ou não) a
proibição de estacionamento dos veículos autocaravanas fora desses
locais. Um exemplo: todas as áreas de serviço que integram a
auto denominada Rede de Acolhimento de Autocaravanas da Região do
Algarve são, obviamente, apoiantes da discriminação
negativa dos veículos autocaravanas. Então (pergunto) porque também
não são retiradas das
respectivas Bases de Dados as referências a essas
Áreas de Serviço?
(Não
me venham, à pala deste meu escrito, acusar de ser contra a
existência de Áreas de Serviço ou Parques de Estacionamento para
autocaravanas que são, reconheça-mo-lo, uma forma de discriminação
positiva. Ninguém (?) é contra locais de estacionamento exclusivos
de ambulâncias, mas o facto de os mesmos existirem não proíbe o
estacionamento das ambulâncias em outros sítios).
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) -AQUI)