quinta-feira, 23 de março de 2017

Querem sol na eira e chuva no nabal


Imagem obtida no blogue “OUTRASPALAVRAS”: M.C. Escher, Relatividade



Querem sol na eira e chuva no nabal
ou
(Que raio de coerência!)


Há cerca de um mês foi notícia que o recentemente encerrado Parque de Campismo de Tomar iria reabrir transformado em local destinado ao parqueamento de autocaravanas. A Câmara Municipal, impedida por qualquer disposição legal (que agora não vem para o caso) de manter aberto o Parque de Campismo (e também – ao que consta – devido às exageradas despesas), encontrou uma forma expedita de dar utilização ao local.

Pessoalmente nada tenho contra esta nova utilização daquele espaço, antes pelo contrário. Mas, também não me regozijei com o encerramento do Parque de Campismo, antes pelo contrário, pois quando um espaço que é um ponto de apoio ao turismo de ar livre encerra algo se perde e até se pode perder a favor da “floresta de cimento”. O interessante, porém, é que muitos dos puristas do autocaravanismo, que se mostraram indiferentes ao encerramento do Parque de Campismo, vieram-se congratular com a nova utilização que vai ser dada (por quanto tempo?) àquele espaço.

Recordemos que as Áreas de Serviço de Autocaravanas (ASA), enquanto equipamentos municipais, têm uma função distinta dos Parques de Campismo. As primeiras, que podem ser implementadas pelas Câmaras Municipais, não se destinam a ser utilizadas como locais de campismo. São parques de estacionamento destinados a autocaravanas e têm acoplado equipamento para abastecimento e despejo de águas (saponárias e químicas).

Já as impropriamente denominadas Áreas de Serviço, criadas ao abrigo de uma Portaria que Regulamenta o campismo, são verdadeiros Parques de Campismo exclusivos de autocaravanas e, não obstante terem algumas regras específicas, nelas pode-se acampar.

Também curiosa e contraditoriamente muitos dos puristas do autocaravanismo aplaudem a criação de Áreas de Serviço, tanto as que são equiparadas a equipamentos municipais, como as que são Parques de Campismo exclusivos a autocaravanas, mesmo que em redor dos locais onde as áreas existam seja proibido o estacionamento de veículos autocaravanas em igualdade de circunstâncias com outros veículos de igual gabarito. Ou seja, aplaudem os "guetos" onde as autocaravanas só poderão pernoitar obrigatoriamente.

A contradição, que aqui aponto, é tanto ou mais preocupante quando revela que o que está em causa, para esses puristas do autocaravanismo, não é a discriminação negativa do veículo autocaravana, não é uma questão de direitos, não é uma luta pelos valores da justiça.

Nem a existência de Parques de Campismo, nem a de Áreas de Serviço (equipamentos municipais ou campings) podem ser contrapartidas (mesmo que gratuitas) à proibição de estacionamento nos locais onde outros veículos de igual gabarito o possam fazer. Aceitá-lo é legitimar a discriminação negativa dos veículos autocaravanas.

Quando a Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal foi recebida na Assembleia da República e propôs legislação que proibia o estacionamento das autocaravanas fora de locais apropriados foi (e bem) criticada por alegadamente querer colocar em “guetos” as autocaravanas. Mas os “guetos”, caros puristas do autocaravanismo, não eram, nem são, só sinónimo de Parques de Campismo. São, também, (os “guetos”) sinónimos de Áreas de Serviço ou Parques de Estacionamento exclusivos para autocaravanas.

Nessa data algumas entidades vieram, de forma populista (o populismo está na moda), afirmar publicamente que iriam retirar das respectivas Bases de Dados a referência a Parques de Campismo como pontos de apoio ao autocaravanismo. Nada teria que criticar a essa medida se, coerentemente, tivessem tido igual procedimento relativamente às áreas de serviço cujos gestores apoiam (abertamente ou não) a proibição de estacionamento dos veículos autocaravanas fora desses locais. Um exemplo: todas as áreas de serviço que integram a auto denominada Rede de Acolhimento de Autocaravanas da Região do Algarve são, obviamente, apoiantes da discriminação negativa dos veículos autocaravanas. Então (pergunto) porque também não são retiradas das respectivas Bases de Dados as referências a essas Áreas de Serviço?



(Não me venham, à pala deste meu escrito, acusar de ser contra a existência de Áreas de Serviço ou Parques de Estacionamento para autocaravanas que são, reconheça-mo-lo, uma forma de discriminação positiva. Ninguém (?) é contra locais de estacionamento exclusivos de ambulâncias, mas o facto de os mesmos existirem não proíbe o estacionamento das ambulâncias em outros sítios).



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) -AQUI)


4 comentários:

  1. O ideal será fazer obras necessárias e reabrir o parque de campismo, criando um parque de apoio a autocaravanas à entrada da cidade aproveitando a recolocação da comunidade cigana noutro local.

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    1. Companheiro Autocaravanista Máximo Domingues,

      Por vezes o ideal não é exequível, mas compreendo a sua observação e proposta.

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  2. Concordando com o essencial tenho um ponto que deverá ser melhor analisado.
    Um investidor privado que tenha condições para abrir um parque de campismo para autocaravanas no Algarve pode não concordar com a discriminação negativa que é praticada na região.
    Deverá ser excluído da base de dados dos clubes?

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    1. Companheiro autocaravanista Paulo MB,

      A resposta à sua questão é óbvia: Não deve ser excluído da base de dados de nenhum clube nenhum proprietário de Parque de Campismo, exclusivo ou não de autocaravanas, desde que não concorde com a discriminação negativa dos veículos autocaravanas.

      Chamo, no entanto a atenção para o facto de se esse investidor tiver aderido à Rede de acolhimento da autocaravanas da região do Algarve dá um inequívoco sinal de que concorda com a política defendida pelos promotores dessa rede, logo apoia a discriminação negativa do veículo autocaravana.

      É importante ter consciência que nenhuma entidade é obrigada a aderir à referida Rede, pelo que a adesão não pode ter outro significado senão o da concordância com a discriminação negativa que venho referindo.

      Reafirmo que não devem ser retirados das bases de dados dos Clubes autocaravanistas apenas os Parques de Campismo, mas todos os espaços de entidades constantes da referida Rede, como as Áreas de Serviço.

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