quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

AUTOCARAVANISMO SOLIDÁRIO - Não comprar aos Domingos e Feriados


Imagem obtida no espaço “Pensador”


AUTOCARAVANISMO SOLIDÁRIO
Não comprar aos Domingos e Feriados


A Lei é escrita por homens e nem sempre foi, ao longo dos tempos, igual para todos. Os textos da Lei não proviam as mesmas sentenças para um mesmo crime. Existia uma discriminação (até socialmente aceite) consoante o estatuto social do infractor, ou seja, as penas previstas na Lei eram diferentes e, assim, eram aplicadas de acordo com o estatuto social do criminoso.

Esta discriminação, que existia pelo menos desde 1800 AC, constante nos textos da Lei, só foi corrigida há relativamente muito pouco tempo. Na actualidade, que eu conheça e pelo menos nos países ocidentais, os textos da Lei não determinam sentenças diferentes consoante o réu. Poder-se-à, contudo, afirmar que um juiz tem ao seu dispor, na Lei, um mínimo e um máximo, com que pode sentenciar um réu. É verdade. Mas, também é verdade que na definição de um mínimo e de um máximo aplicável a um mesmo tipo de ilegalidade, o legislador não teve a mesma intenção discriminatória do antigamente. Quis criar, o legislador, condições que permitam a um Juiz sentenciar, com maior ou menor “dureza”, consoante verifique, por exemplo, (embora seja uma avaliação subjectiva) um sincero arrependimento do réu.

Contudo, a aplicação da Lei não conduz, necessariamente, a que se faça justiça. Sintetizando direi que actualmente “A Lei é igual para todos, mas a justiça AINDA não”. Para interiorizarmos esta ideia basta pensarmos no acesso que têm à defesa, em Tribunal, as pessoas com mais parcos meios financeiros relativamente a quem mais e melhor os tem. É uma evidência que esta diferença económica / financeira não afecta só o acesso à Justiça. Afecta, também, o acesso à saúde, à alimentação, à habitação, ao conhecimento, e por aí fora. Aliás, nem sequer a igualdade de oportunidades é uma realidade, embora no-la queiram vender como uma verdade.

A procura de um mundo justo é, para muitos de nós, um objectivo constante, mas, ainda longínquo. A procura do bem estar, que numa perspectiva biológica se resume a ter prazer, é diferente de individuo para individuo, de grupos de indivíduos para grupos de indivíduos. Por vezes, o prazer de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos pode conflituar com os prazeres de outro individuo ou de outros indivíduos. É aqui que a sociedade, não sendo possível a auto-regulação de milhões de indivíduos, escreve textos que regulamentam as vidas das pessoas.

O turismo, tal como hoje o entendemos, é uma actividade, que na vida do Homem, se pode considerar recente. E o turismo em autocaravana é também uma forma de dar prazer aos que praticam essa actividade. Mas... há indivíduos e Grupos de indivíduos que não sentem qualquer prazer nessa actividade. Nem a compreendem. E quando se deparam, nalguma localidade, mesmo que com apenas um pequeno número de autocaravanas estacionadas, não deixam de criticar esse facto. E os argumentos são múltiplos: os autocaravanistas estragam a beleza paisagística, sujam o ambiente, despejam líquidos putrefactos no solo, quebram o silêncio natural envolvente com músicas estridentes dos rádios e das televisões, espalham lixo por tudo o que é sítio, assam alimentos e com isso empestam o ar que invade as casas próximas, permitem que os animais domésticos se passeiem livremente com consequente proliferação de dejectos, roubam energia dos postes eléctricos, ocupam com mesas e cadeiras passeios e outros espaços públicos e, até criticam ferozmente o facto de lhes retirarem (aos autóctones) lugares de estacionamento para as respectivas viaturas.

Todas as acusações são facilmente rebatíveis. Primeiro, porque nem todos os autocaravanistas têm os procedimentos de que são genericamente acusados; segundo, porque existem leis, apropriadas a este tipo de violações e que só não são aplicadas por manifesta incapacidade dos agentes de autoridade. Há, no entanto, um argumento que os autocaravanistas utilizam e para o qual não existe uma resposta negativa por parte dos autóctones (e não só):

O autocaravanismo contribui para o desenvolvimento local.

Este ideia, a mais utilizada pelos autocaravanistas, tem peso argumentativo. Talvez por isso o Presidente da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, aquando da audiência que lhes concedeu o Grupo de Trabalho de Turismo da Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas da Assembleia da República, procurou contrariar esta ideia afirmando que os autocaravanistas, “(...) não gastam dinheiro em lado nenhum (...)” (ver AQUI – no vídeo ao minuto 32,53).

É evidente que o Presidente da FCMP estava errado. Os autocaravanistas contribuem para o desenvolvimento local. Não só por comprarem no comércio local, como também por comprarem no pequeno comércio.

E aqui coloca-se uma questão: Até que ponto os autocaravanistas estão a ser solidários com o pequeno comércio local?

Falo do comércio local e não da produção e dos produtores locais. Desses poderemos conversar noutra ocasião. Apenas recordo que nesse particular o CPA integra e apoia a ANIMAR (ver AQUI).

Não basta dizer que o autocaravanismo contribui para o desenvolvimento local. É necessário concretizar essa ideia. E apoiar ainda mais o pequeno comércio por contrapartida às grandes superfícies comerciais.

Um pequeno passo pode ser dado e está ao alcance de todos, sem grandes dificuldade:

Aos Domingos e Feriados não compre nada nas grandes superfícies comerciais.

O pequeno comércio, tantas vezes gerido ao nível familiar, e tantas vezes sem empregados, não tem capacidade para estar aberto ao Domingo, sob pena de não terem sequer um dia de descanso.

Não comprar aos Domingos e Feriados nas grandes superfícies comerciais pode parecer uma medida inócua, mas a médio prazo, se um número significativo aderir, pode ajudar o pequeno comércio e os próprios trabalhadores das grandes superfícies comerciais a terem o Domingo como um dia de descanso em família.

No início deste artigo de opinião falei de Lei e de Justiça porque nem sempre uma e outra andam de mãos dadas. Embora na Lei as grandes superfícies possam estar abertas aos Sábados e Domingos será isso Justo? Comparativamente com as dificuldades já referidas dos pequenos comércios? Ou os pequenos comércios estão condenados a desaparecerem?

Se os autocaravanistas conseguirem unir-se em torno de uma acção tão simples e se passarem esta mensagem, estarão a ser solidários.

EM 2019
AOS
DOMINGOS E FERIADOS
NÃO COMPRE
NAS
GRANDES SUPERFÍCIES



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)




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