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obtida no espaço “Pensador”
AUTOCARAVANISMO
SOLIDÁRIO
Não
comprar aos Domingos e Feriados
A Lei é
escrita por homens e nem sempre foi, ao longo dos tempos, igual para
todos. Os textos da Lei não proviam as mesmas sentenças para um
mesmo crime. Existia uma discriminação (até socialmente aceite)
consoante o estatuto social do infractor, ou seja, as penas previstas
na Lei eram diferentes e, assim, eram aplicadas de acordo com o
estatuto social do criminoso.
Esta
discriminação, que existia pelo menos desde 1800 AC, constante nos
textos da Lei, só foi corrigida há relativamente muito pouco tempo.
Na actualidade, que eu conheça e pelo menos nos países ocidentais,
os textos da Lei não determinam sentenças diferentes consoante o
réu. Poder-se-à, contudo, afirmar que um juiz tem ao seu dispor, na
Lei, um mínimo e um máximo, com que pode sentenciar um réu. É
verdade. Mas, também é verdade que na definição de um mínimo e de
um máximo aplicável a um mesmo tipo de ilegalidade, o legislador
não teve a mesma intenção discriminatória do antigamente. Quis
criar, o legislador, condições que permitam a um Juiz sentenciar,
com maior ou menor “dureza”, consoante verifique, por exemplo,
(embora seja uma avaliação subjectiva) um sincero arrependimento do
réu.
Contudo, a
aplicação da Lei não conduz, necessariamente, a que se faça
justiça. Sintetizando direi que actualmente “A Lei é igual para
todos, mas a justiça AINDA não”. Para interiorizarmos esta ideia
basta pensarmos no acesso que têm à defesa, em Tribunal, as pessoas
com mais parcos meios financeiros relativamente a quem mais e melhor
os tem. É uma evidência que esta diferença económica / financeira
não afecta só o acesso à Justiça. Afecta, também, o acesso à
saúde, à alimentação, à habitação, ao conhecimento, e por aí
fora. Aliás, nem sequer a igualdade de oportunidades é uma
realidade, embora no-la queiram vender como uma verdade.
A procura de
um mundo justo é, para muitos de nós, um objectivo constante, mas,
ainda longínquo. A procura do bem estar, que numa perspectiva
biológica se resume a ter prazer, é diferente de individuo para
individuo, de grupos de indivíduos para grupos de indivíduos. Por
vezes, o prazer de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos pode
conflituar com os prazeres de outro individuo ou de outros
indivíduos. É aqui que a sociedade, não sendo possível a
auto-regulação de milhões de indivíduos, escreve textos que
regulamentam as vidas das pessoas.
O turismo,
tal como hoje o entendemos, é uma actividade, que na vida do Homem,
se pode considerar recente. E o turismo em autocaravana é também
uma forma de dar prazer aos que praticam essa actividade. Mas... há
indivíduos e Grupos de indivíduos que não sentem qualquer prazer
nessa actividade. Nem a compreendem. E quando se deparam, nalguma
localidade, mesmo que com apenas um pequeno número de autocaravanas
estacionadas, não deixam de criticar esse facto. E os argumentos são
múltiplos: os autocaravanistas estragam a beleza paisagística, sujam
o ambiente, despejam líquidos putrefactos no solo, quebram o silêncio
natural envolvente com músicas estridentes dos rádios e das
televisões, espalham lixo por tudo o que é sítio, assam alimentos
e com isso empestam o ar que invade as casas próximas, permitem que
os animais domésticos se passeiem livremente com consequente
proliferação de dejectos, roubam energia dos postes eléctricos,
ocupam com mesas e cadeiras passeios e outros espaços públicos e,
até criticam ferozmente o facto de lhes retirarem (aos autóctones)
lugares de estacionamento para as respectivas viaturas.
Todas as
acusações são facilmente rebatíveis. Primeiro, porque nem todos
os autocaravanistas têm os procedimentos de que são genericamente
acusados; segundo, porque existem leis, apropriadas a este tipo de
violações e que só não são aplicadas por manifesta incapacidade
dos agentes de autoridade. Há, no entanto, um argumento que os
autocaravanistas utilizam e para o qual não existe uma resposta
negativa por parte dos autóctones (e não só):
O
autocaravanismo contribui para o desenvolvimento local.
Este ideia,
a mais utilizada pelos autocaravanistas, tem peso argumentativo.
Talvez por isso o Presidente da Federação de Campismo e Montanhismo
de Portugal, aquando da audiência que lhes concedeu o Grupo de
Trabalho de Turismo da Comissão de Economia, Inovação e Obras
Públicas da Assembleia da República, procurou contrariar esta ideia
afirmando que os autocaravanistas, “(...) não
gastam dinheiro em lado nenhum (...)” (ver AQUI –
no vídeo ao minuto 32,53).
É evidente
que o Presidente da FCMP estava errado. Os autocaravanistas
contribuem para o desenvolvimento local. Não só por comprarem no
comércio local, como também por comprarem no pequeno comércio.
E aqui
coloca-se uma questão: Até que ponto os autocaravanistas estão a
ser solidários com o pequeno comércio local?
Falo do
comércio local e não da produção e dos produtores locais. Desses
poderemos conversar noutra ocasião. Apenas recordo que nesse
particular o CPA integra e apoia a ANIMAR (ver AQUI).
Não basta
dizer que o autocaravanismo contribui para o desenvolvimento local. É
necessário concretizar essa ideia. E apoiar ainda mais o pequeno
comércio por contrapartida às grandes superfícies comerciais.
Um pequeno
passo pode ser dado e está ao alcance de todos, sem grandes
dificuldade:
Aos
Domingos e Feriados não compre nada nas grandes superfícies
comerciais.
O
pequeno comércio, tantas vezes gerido ao nível familiar, e tantas
vezes sem empregados, não tem capacidade para estar aberto ao
Domingo, sob pena de não terem sequer um dia de descanso.
Não
comprar aos Domingos e Feriados nas grandes superfícies comerciais
pode parecer uma medida inócua, mas a médio prazo, se um número
significativo aderir, pode ajudar o pequeno comércio e os próprios
trabalhadores das grandes superfícies comerciais a terem o Domingo
como um dia de descanso em família.
No início
deste artigo de opinião falei de Lei e de Justiça porque nem sempre
uma e outra andam de mãos dadas.
Embora na Lei as grandes superfícies possam estar abertas aos
Sábados e Domingos será isso Justo? Comparativamente com as
dificuldades já referidas dos pequenos comércios? Ou os pequenos
comércios estão condenados a desaparecerem?
Se
os autocaravanistas conseguirem unir-se em torno de uma acção tão
simples e se passarem esta mensagem, estarão a ser solidários.
EM
2019
AOS
DOMINGOS
E FERIADOS
NÃO
COMPRE
NAS
GRANDES
SUPERFÍCIES
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) – AQUI)
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