quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

LIBAÇÕES - Tive muita sorte





LIBAÇÕES (1)

TIVE MUITA SORTE

(Mini crónicas de uma viagem por Espanha)


A alguns dias da passagem do ano velho para o ano novo (2018/2019), onde a alegria é muitas vezes um contributo da ingestão exagerada de bebidas fermentadas, veio-me à memória a minha passagem por Haro, uma graciosa cidade no Rio Ebro, em La Rioja (Espanha).

Entrei em Haro numa manhã solarenga e dirigi-me para um parqueamento cujas coordenadas me levaram por uma rua íngreme e estreita, com carros mal estacionados de ambos os lados. No cimo da rua o meu percurso foi impedido por um aglomerado de carros cujo estacionamento me impedia de prosseguir. Desvie-me para um rua que descia e com uma inclinação muito acentuada, para procurar fazer a inversão de marcha, o que consegui colocando as rodas do lado direito numa escadaria e recuando sobre a mesma. Uma autocaravana com 7 metros ou mais ficaria imobilizada.

Retornando pelo mesmo caminho dirigi-me para o centro da cidade e... vi-me metido no centro das festas que nesse dia tinham lugar, o que me obrigou a seguir a passo de caracol no meio da multidão e ao som de uma banda musical. Nem protestei. Também não valia a pena fazê-lo. Felizmente, ao fim de uns bons vinte minutos deparei-me com uma rua transversal e segui por ela fugindo à multidão.

Por mero acaso encontrei um estacionamento (o único possível) junto da Casa da Cultura.

Deixei a autocaravana estacionada e a pé dirigi-me para o centro da cidade. Tive sorte. MUITA SORTE! Os festejos estavam no fim e só por isso escapei à tradição.

Na principal praça e nas ruas circundantes homens e mulheres, uns vestidos com roupas brancas e outros com roupas cor de vinho passeavam, comiam, bebiam. Perguntei a um pequeno grupo o que era aquilo.

Esta cidade, Haro, está no centro de uma importante região vinícola, pelo que anualmente, em Junho, é pago um tributo a Baco.

Baco era, para os antigos romanos, o deus do vinho e dos correspondentes excessos, especialmente sexuais. As festas em homenagem ao deus Baco eram chamadas de bacanais.

Haro festeja, num dia pré determinado, o contributo que para a economia da cidade a produção vinícola proporciona, não só com os cidadãos bebendo o vinho fruto dessa produção, como o derramando uns sobre os outros. Daí as roupas de cor branca passarem a uma cor arroxeada, a cor do vinho.

Evidentemente que em Haro, pelo menos em público, os excessos sexuais não eram visíveis, mas os efeitos da ingestão excessiva de álcool, além das libações (1), eram bem patentes

Por tudo isto, tive, como disse, MUITA SORTE. Tivesse eu chegado a Haro umas 2 horas antes e estaria pingando vinho. E, sinceramente, vinho gosto muito, mas para beber, não para “tomar banho”.



(1) Libação é o ato de derramar água, vinho, sangue ou outros líquidos com finalidade religiosa ou ritual, em honra a um deus ou divindade. É uma prática comum em muitas religiões da antiguidade, incluindo o judaísmo, e continuam a ser oferecidas em várias culturas atuais.


(2) NOTA – Algumas imagens de Haro podem ser acedidas AQUI




(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)





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