LIBAÇÕES
(1)
TIVE
MUITA SORTE
(Mini
crónicas de uma viagem por Espanha)
A
alguns dias da passagem do ano velho para o ano novo (2018/2019),
onde a alegria é muitas vezes um contributo da ingestão exagerada
de bebidas fermentadas, veio-me à memória a minha passagem por
Haro, uma graciosa cidade no Rio Ebro, em La Rioja (Espanha).
Entrei
em Haro numa manhã solarenga e dirigi-me para um parqueamento cujas
coordenadas me levaram por uma rua íngreme e estreita, com carros mal
estacionados de ambos os lados. No cimo da rua o meu percurso foi
impedido por um aglomerado de carros cujo estacionamento me impedia
de prosseguir. Desvie-me para um rua que descia e com uma inclinação
muito acentuada, para procurar fazer a inversão de marcha, o que
consegui colocando as rodas do lado direito numa escadaria e recuando
sobre a mesma. Uma autocaravana com 7 metros ou mais ficaria
imobilizada.
Retornando
pelo mesmo caminho dirigi-me para o centro da cidade e... vi-me
metido no centro das festas que nesse dia tinham lugar, o que me
obrigou a seguir a passo de caracol no meio da multidão e ao som de
uma banda musical. Nem protestei. Também não valia a pena fazê-lo.
Felizmente, ao fim de uns bons vinte minutos deparei-me com uma rua
transversal e segui por ela fugindo à multidão.
Por
mero acaso encontrei um estacionamento (o único possível) junto da
Casa da Cultura.
Deixei
a autocaravana estacionada e a pé dirigi-me para o centro da cidade.
Tive sorte. MUITA SORTE! Os festejos estavam no fim e só por isso
escapei à tradição.
Na
principal praça e nas ruas circundantes homens e mulheres, uns
vestidos com roupas brancas e outros com roupas cor de vinho
passeavam, comiam, bebiam. Perguntei a um pequeno grupo o que era
aquilo.
Esta
cidade, Haro, está no centro de uma importante região vinícola,
pelo que anualmente, em Junho, é pago um tributo a Baco.
Baco
era, para os antigos romanos, o deus do vinho e dos correspondentes
excessos, especialmente sexuais. As festas em homenagem ao deus Baco
eram chamadas de bacanais.
Haro
festeja, num dia pré determinado, o contributo que para a economia
da cidade a produção vinícola proporciona, não só com os
cidadãos bebendo o vinho fruto dessa produção, como o derramando
uns sobre os outros. Daí as roupas de cor branca passarem a uma cor
arroxeada, a cor do vinho.
Evidentemente
que em Haro, pelo menos em público, os excessos sexuais não eram
visíveis, mas os efeitos da ingestão excessiva de álcool, além das
libações (1),
eram bem patentes
Por
tudo isto, tive, como disse, MUITA SORTE. Tivesse eu chegado a Haro
umas 2 horas antes e estaria pingando vinho. E, sinceramente, vinho
gosto muito, mas para beber, não para “tomar banho”.
(1)
Libação é
o ato de derramar água, vinho, sangue ou outros
líquidos com finalidade religiosa ou ritual, em honra
a um deus ou divindade. É uma prática comum em
muitas religiões da antiguidade,
incluindo o judaísmo, e continuam a ser oferecidas em várias
culturas atuais.
(2)
NOTA
–
Algumas imagens de Haro podem ser acedidas AQUI
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) – AQUI)
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