No antigamente o pão era cozido em fornos de lenha |
HISTÓRIAS DE ANTANHO
(História número 5)
Introdução Permanente
No período compreendido entre 1945 e 1968 a cidade de Lisboa era bem diferente dos tempos de agora.
A relativamente pouca distância do centro da cidade de Lisboa, ficava o Martim Moniz, bem diferente do atual e a partir do qual se iniciava a Rua da Palma, logo continuada pela Avenida Almirante Reis, paralela à Rua do Benformoso que, por sua vez, terminava no Largo do Intendente, onde começava a Rua dos Anjos que atravessava a Avenida Almirante Reis e terminava no Largo de Santa Bárbara.
Este era o espaço (onde vivi) e as HISTÓRIAS DE ANTANHO se irão essencialmente localizar e a partir do qual outros espaços irão ser referidos no contexto de um ambiente humano muito peculiar.
NÃO COMER CABRITO NO DOMINGO DE PÁSCOA
Admirem-se os jovens de hoje quando lhes revelar que antigamente, há muitos muitos anos, o pão era feito nas padarias e cozido maioritariamente em fornos de lenha.
Nesses espaços o pão era feito durante a noite e uma parte colocada à venda no próprio local e outra distribuída porta a porta.
Distribuição de pão porta a porta |
Em Lisboa, os distribuidores, por norma também eles padeiros, que após o fabrico percorriam, muito cedo, utilizando algum meio de transporte (bicicleta, triciclo, carroça) ou então a pé, a zona onde a padaria se localizava para vender, a clientes pré definidos, o pão que nessa madrugada tinham feito. Os que se deslocavam a pé tinham um trabalho mais cansativo, pois transportavam ao ombro grandes cestos de verga com um enorme carrego de pão dos mais diferentes tipos,
De memória ou guiando-se por um caderninho lá iam de porta em porta, subindo a terceiros, quartos e quintos andares para deixar o pão dentro de um saco de linho que se encontrava pendurado na maçaneta do lado de fora da porta.
Por vezes, no saco colocado no exterior da porta, havia um papelinho encomendando uma quantidade maior que a habitual ou algo diferente, como umas arrufadas ou pãezinhos de leite.
No fim da semana o padeiro deixava um papelinho com a conta do pão que tinha entregue na semana anterior e no dia seguinte o cliente colocava o dinheiro no saco que o padeiro recolhia.
O sistema funcionava e nunca me constou que houvesse furtos, já de pão, já de dinheiro.
As padarias não só fabricavam e distribuíam o pão como prestavam também um serviço de apoio à comunidade como adiante referirei.
Fogão a petróleo |
Não sendo estes fogões apropriados para fazer assados, como é evidente, o recurso de muitas famílias, principalmente na Páscoa, era recorrer ao forno do padeiro. E era então que a padaria se tornava um apoio importante à comunidade.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus e Maria imaculada Rua Capitão Renato Baptista |
A padaria de que a minha família era cliente ficava na Rua capitão Renato Baptista, quase em frente da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e Maria Imaculada, inaugurada em 1910, com fachada em estilo neogótico. “A capela-mor ostentava as imagens dos patronos, uma pintura da Última Ceia, encimada por um Calvário, e tribunas laterais. No tecto e nas paredes, algumas pinturas com temática eucarística. De referir a torre sineira, nas traseiras do edifício, que albergava um carrilhão com 15 sinos”.
Calçada Conde Pombeiro na confluência com a Rua dos Anjos Ainda se veem os carris dos eléctricos que à época ainda por ali circulavam |
Da casa onde morávamos até à padaria era necessário subir a Calçada Conde Pombeiro e depois virar à esquerda para a Rua Capitão Renato Baptista. Um percurso com uns 500 metros e sempre a subir.
Se para uma mulher dos seus trinta anos e para um miúdo irrequieto já era custoso atravessar uma rua movimentada (onde ainda passavam electricos), subir uma calçada e depois percorrer uma rua também com alguma inclinação, imaginem, agora, a dificuldade adicional dos mesmos, transportando uma enorme travessa de barro, contendo um cabrito, com batatas e cebolinhas, coberta com uma pano de linho.
Mas, o transporte para a padaria era o mais fácil do mais difícil. O difícil era combinar com o padeiro a hora a que o forno estaria disponível, pois era, principalmente na Páscoa, muitos os que queriam utilizar o forno. E um cabrito demorava muito tempo… Às vezes, não muitas, devido ao forno estar superlotado, o cabrito que era para ser comido no Domingo de Páscoa tinha que ficar para o Domingo seguinte.
No regresso, quando se ia buscar o cabrito, já assado, a aventura era mais emocionante. Descer a Calçada Conde Pombeiro, com um tabuleiro grande e quente, embrulhado em panos e jornais, era arriscar uma queda espectacular, principalmente com um miúdo que não parava quieto.
Sem cabrito na mesa porque o forno da padaria estava lotado |
Hoje, no aconchego das nossas casas, é tão fácil assar um cabrito! Naquela época, assar um cabrito exigia uma programação eficiente para nos não metermos em assados. Se falhássemos a programação arriscávamo-nos a... não comer cabrito no Domingo de Páscoa.
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CRÉDITOS:
01ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Nagumo.com”
02ª Foto – Autor: Joshua Benoliel no espaço “AML” (Lisboa de Antigamente)
03ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Oportunity”
04ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Google”
05ª Foto – Autor: Machado & Souza no espaço “Lisboa de Antigamente”
06ª Foto – Autor: Desconhecido no espaço “Receitas e Menus”
07ª Foto – Autor: Inteligência Artificial