A Europa como um Novo
Império Germânico
"Uma vez mais. Sou um europeu céptico que aprendeu tudo do
seu cepticismo com uma professora chamada Europa. Não falando da questão do
«ressentimento histórico», a que sou especialmente sensível, mas que, de todo o
modo, é ultrapassável, rejeito a denominada «construção europeia» por aquilo
que vejo estar a ser a constituição premeditada de um novo «sacro império
germânico», com objectivos hegemónicos que só nos parecem diferentes dos do
passado porque tiveram a habilidade de apresentar-se disfarçados sob roupagens
de uma falsa consensualidade que finge ignorar as contradições subjacentes, as
que constituem, queiramo-lo ou não, a trama em que se moveram e continuam a
mover-se as raízes históricas das diversas nações da Europa. A União Europeia
parece não querer compreender o que se está a passar na ex-União Soviética, nem
sequer, apesar de tão à vista dos seus míopes olhos, nos Balcãs, para não falar
do que irá passar-se amanhã em África, espaço já anunciado dos grandes
conflitos do século XXI, se uma oportuna estratégia de hegemonias partilhadas
não instaurar ali um colonialismo de novo tipo... A questão política principal
do nosso tempo deveria ser o respeito pelas nações e a dignificação de todas as
minorias étnicas, como meio de prevenir os nacionalismos xenófobos,
reconhecendo em cada povo a sua capacidade própria de alargar as suas
potencialidades criativas, naturalmente em diálogo com os outros povos, mas sem
sujeições de qualquer espécie."
José Saramago, in
“Cadernos de Lanzarote (1995)”
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