ALGUÉM
Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.
Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!
Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.
Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!
(Gonçalves
Crespo – 1846-1883)
António Cândido Gonçalves Crespo (Rio
de Janeiro, 11 de Março de 1846 — Lisboa, 11 de Junho de 1883) foi um jurista e
poeta de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas
do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de
Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 10 anos de idade e
estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se
essencialmente à poesia e ao jornalismo. Faleceu em Lisboa com apenas 37
anos de idade.
Nasceu nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, filho de um
comerciante português António José Gonçalves Crespo e de Francisca Rosa da
Conceição, uma mestiça escrava à data do seu nascimento. Aos 10 anos de idade
mudou-se para Portugal.
Depois de estudos preparatórios em Lisboa,
matriculou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde se formou
em 1877.
Fixou-se em Lisboa, onde apesar de ter adquirido a nacionalidade
portuguesa, ao tempo requisito para o exercício da advocacia, pouco exerceu
aquela profissão, optando antes pelo jornalismo.
Foi colaborador de diversos periódicos, entre os quais O Ocidente (1877-1915)
e a Folha, o jornal de Coimbra em que era director João
Penha, o poeta que introduziu o parnasianismo em Portugal, e
também nas revistas A Mulher (1879), Jornal do
domingo (1881-1888), A Leitura ((1894-1896), Branco e
Negro (1896-1898) e Serões (1901-1911) Como poeta estreou-se com
a colectânea Miniaturas, publicada em 1870. Também se dedicou à
tradução, publicando versões em português de poemas de Heinrich
Heine.
Em 1874, ainda estudante, casou com a poetisa e escritora Maria Amália Vaz de Carvalho,
ingressando, graças a ela e ao seu círculo de amigos, no mundo das tertúlias
intelectuais de Lisboa. Nesses círculos a avançou na sua carreira como poeta e
publicista, ganhando grande nomeada. Influenciado pela escola parnasiana, nas
suas obras poéticas abandonou a estética
romântica, afirmando-se como poeta de grande
qualidade, particularmente após a publicação póstuma da sua obra completa
(1887). A sua colectânea Nocturnos conheceu várias edições (1882,
1888, 1897, 1923, 1942). Em colaboração com a esposa publicou o
livro Contos para os Nossos Filhos (1886).
Foi também atraído para o mundo da política e em 1879 foi eleito
deputado às Cortes pelo
círculo do Estado da Índia. Faleceu em 1883, vítima da tuberculose,
com apenas 37 anos de idade.
A sua afirmação como poeta foi reforçada em 1887, quando foram
publicadas as suas Obras Completas, com prefácio de Teixeira de Queirós e de Maria Amália Vaz de Carvalho.
Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre
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