segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Poesia de... D. Diniz


Ai, flores, ai, flores do verde pino


--- Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
                                                           Ai, Deus, e u é?

Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
                                                           Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
                                                           Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
                                                           Ai, Deus, e u é?

--- Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
                                                           Ai, Deus, e u é?

Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
                                                           Ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
                                                           Ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
                                                           Ai, Deus, e u é?

                                                                                              (D. Diniz - 1280-1325)

Na lírica medieval galego-portuguesa uma cantiga de amigo é uma composição breve e singela posta na voz de uma mulher apaixonada. Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo, com o sentido de pretendente, amante, esposo.

As cantigas de amigo procedem de uma reelaboração culta da lírica popular anterior. São, portanto, de origem autóctone, a partir do contacto da lírica pré-trovadoresca popular, já reelaborada nas cortes, com a lírica cortesã occitana (a cançó). A primeira contribuiu com o feminismo, o paralelismo e o refrão e a segunda com o formalismo, o esteticismo e a corte.

Ainda que todos os poetas medievais fossem homens, utilizavam o ponto de vista feminino nas cantigas de amigo, que têm como tema o erotismo feminino e os conflitos resultantes da ausência do 'amigo'. Caracterizam-se formalmente pela repetição (paralelismo, leixa-pren e refrão).

O tema fundamental é o sofrimento por amor (às vezes, a morte por amor), motivado normalmente pela ausência do 'amigo'. Às vezes apresentam-se formas em que se engana à mãe vigilante, ou se mostra alegria no regresso do amigo e outras ciúmes ou ansiedade. A voz poética é a de uma jovem que relata as suas vivências amorosas, ora num monólogo, ora num diálogo com suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe. Os estados de ânimo são diversos e incluem a alegria pela chegada do amigo, a tristeza pela sua ausência ou a ansiedade pelo seu regresso, o desejo de vingança, ciúmes, etc. Os ambientes nos qual decorrem são o campo, o mar ou a casa: a fonte, aonde foram procurar água ou lavar o cabelo, o rio ou a peregrinação.

As personagens que intervêm são:

·         A amiga, que é com frequência a voz poética. Por vezes é ingénua, outras narcisista, outras comporta-se de maneira esquiva ou é vingativa.
·         A mãe, que representa geralmente o código social proibitivo.
·         Confidentes: a mãe, uma amiga, a irmã, outras noivas, a natureza (as flores, as ondas do mar), etc.
·         O amigo, frequentemente ausente.

Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre




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