Ai, flores, ai, flores do verde pino
--- Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai,
Deus, e u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai,
Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai,
Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai,
Deus, e u é?
--- Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
Ai,
Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
Ai,
Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
Ai,
Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai,
Deus, e u é?
(D. Diniz - 1280-1325)
Na lírica medieval galego-portuguesa uma cantiga
de amigo é uma composição breve e singela posta na voz de uma mulher apaixonada.
Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo,
com o sentido de pretendente, amante, esposo.
As cantigas de amigo procedem de uma reelaboração culta da
lírica popular anterior. São, portanto, de origem autóctone, a partir do
contacto da lírica pré-trovadoresca popular, já reelaborada nas cortes, com a lírica
cortesã occitana (a cançó). A primeira contribuiu com o
feminismo, o paralelismo e o refrão e a segunda com o
formalismo, o esteticismo e a corte.
Ainda que todos os poetas medievais fossem homens,
utilizavam o ponto de vista feminino nas cantigas de amigo, que têm como tema o
erotismo feminino e os conflitos resultantes da ausência do 'amigo'.
Caracterizam-se formalmente pela repetição (paralelismo, leixa-pren e
refrão).
O tema fundamental é o sofrimento por amor (às vezes, a
morte por amor), motivado normalmente pela ausência do 'amigo'. Às vezes
apresentam-se formas em que se engana à mãe vigilante, ou se mostra alegria no
regresso do amigo e outras ciúmes ou ansiedade. A voz poética é a de
uma jovem que relata as suas vivências amorosas, ora num monólogo, ora num diálogo com
suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe. Os estados de ânimo são diversos e
incluem a alegria pela chegada do amigo, a tristeza pela sua ausência ou a
ansiedade pelo seu regresso, o desejo de vingança, ciúmes, etc. Os ambientes
nos qual decorrem são o campo, o mar ou a casa: a fonte, aonde foram procurar
água ou lavar o cabelo, o rio ou a peregrinação.
As personagens que intervêm são:
·
A amiga,
que é com frequência a voz poética. Por vezes é ingénua, outras narcisista,
outras comporta-se de maneira esquiva ou é vingativa.
·
A mãe, que
representa geralmente o código social proibitivo.
·
Confidentes:
a mãe, uma amiga, a irmã, outras noivas, a natureza (as flores, as ondas do
mar), etc.
·
O amigo,
frequentemente ausente.
Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre
Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre
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