quinta-feira, 13 de abril de 2017

UMA FPA MORTA



Imagem obtida no blogue “Baú dos Livros”



UMA FPA MORTA


Quando nasceu a FPA os progenitores depositaram nela todas as esperanças na solução dos problemas que afectavam o Movimento Autocaravanista de Portugal. Quase 6 anos depois da criação da FPA os problemas agravaram-se, a “vaga de fundo” do apoio porque esperavam não se verificou e o número de aderentes ao associativismo autocaravanista diminuiu, até na medida em que o eventual aumento de sócios em cada clube é ilusório, pois que muitos autocaravanistas se associam em mais que um.

Mais grave, no entanto, porque contribuiu para a diminuição do associativismo, foram as políticas e contradições com que ao longo destes quase 6 anos a FPA brindou os autocaravanistas e que os dividiram. Na realidade a criação da FPA veio dividir os autocaravanistas e contribuiu para a desconfiança latente que existe no seio do Movimento Autocaravanista de Portugal que, além de separar os autocaravanistas, os empurrou para fora do associativismo organizado e com personalidade jurídica.

A FPA, gerada (em segredo) contra o CPA (Associação Autocaravanista de Portugal), apressou-se, ainda sem existência legal (ainda no ventre materno), a alistar-se na FICM (Fédération Internationale des Clubs de Motorhomes) que o CPA tinha abandonado pouco tempo antes.

Mas, que fez a FPA ao longo destes quase 6 anos?

O negativismo que levou à criação da FPA reflectiu-se nas tentativas bastante erradas de encontrar um caminho que aliciasse os autocaravanistas:

A FPA apoiou propostas de legislação que discriminavam negativamente os veículos autocaravanas, para, algum tempo depois, talvez constatando que tinha metido a pata na poça, veio dar o dito por não dito;

A FPA esqueceu o estatuto institucional de federação (em representação de outras entidades) e na ânsia de se evidenciar respondeu a opiniões manifestadas em fóruns, em blogues, onde quer que seja, “pôs-se em bicos de pés”, disparou em todas as direcções;

A FPA culpou os autocaravanistas por se não querem organizar em Clubes e a federarem-se, alijando, assim, as responsabilidades que lhe cabiam nesse propósito;

A FPA não clarificou, nos seus comunicados, o que entende por discriminação negativa do veículo autocaravana e federou-se numa instituição que alegadamente apoia a Rede de Acolhimento de Autocaravanas no Algarve, onde, segundo os promotores da Rede, as autocaravanas devem pernoitar obrigatoriamente;

A FPA promove as Festas da FICM, mas não divulga as propostas e acções (se é que existem) desta entidade e que promovam a defesa ou o apoio ao autocaravanismo;

A FPA não hesitou, com intenções alegadamente divisionistas em apelar, através de comunicado, à rebelião de sócios de associações autocaravanistas para que obrigassem as respectivas Direcções a aderirem à FPA, numa clara (e nada ética!) ingerência na vida dessas associações;

A FPA promoveu uma Petição Pública com vista à promulgação de uma legislação autocaravanista, sem que nessa petição concretize o que pretende; contudo, em comunicado, defende que os autocaravanistas não devem poder estacionar fora de parques especializados por períodos superiores a 48 horas, ou seja, concorda com a discriminação negativa do estacionamento dos veículos autocaravanas quando estejam estacionados para além de 48 horas;

A FPA, assim, concorda, no comunicado referido anteriormente, com a política da CCDR-Algarve que defende a proibição do estacionamento de autocaravanas fora de locais destinados para o efeito;

A FPA admitiu, em comunicado e referindo-se à Petição Pública, que “tem que haver cedências de parte a parte”, esquecendo-se que os direitos fundamentais que definem a nossa civilização não se vendem, não se trocam, não se dão e que o princípio da não discriminação negativa é um direito fundamental.

A FPA promoveu confusões e contradições ao emitir comunicados que, posteriormente, algum dos respectivos dirigentes sentiram necessidade de vir publicamente negar através de interpretações altamente rebuscadas;

A FPA não pratica uma política de transparência perante o Movimento Autocaravanista de Portugal ao não divulgar os respectivos “Relatórios e Contas”;

A FPA tentou promover umas “Jornadas Autocaravanistas” que, no meio do desnorte em que se encontrava, lhe indicassem o caminho, mas, nem isso conseguiu concretizar porque não obteve qualquer resposta aos convites que fez;

A FPA deslocou-se à Assembleia da República, olvidando os reais problemas que ainda se colocam aos autocaravanistas e desaproveitando a oportunidade excepcional de os divulgar a nível nacional, para passar quase todo o tempo a criticar outra instituição; por outras palavras, a FPA foi à Assembleia da República fazer “queixinhas”;

A FPA, 6 anos depois da sua criação, continua a não representar mais que uns 300 autocaravanistas e mantém apenas as 3 associações que a fundaram.

Todas as trapalhadas desta "pseudofederação" (que podem ser aprofundadas AQUI) devem-se à inexistência de princípios orientadores que definam a política autocaravanista da FPA para Portugal. Não há revolução, não há mudanças consistentes e coerentes, sem uma prévia definição dos objectivos a atingir. A não ser (digo eu) que os objectivos sejam de natureza pessoal e que se resumam à obtenção do poder pelo poder.

Na realidade a FPA é criada sem ter subjacente um Projecto Político Autocaravanista que a defina. E porque assim continua, sem qualquer Projecto, a FPA está ao nível de qualquer outra associação de base, dedicando-se, de forma bem visível, essencialmente,  aos aspectos lúdicos do autocaravanismo (que também são importantes!) mas que não podem ser a razão principal e muito menos única, pelos quais se justifica a existência de uma Federação.

Alguns autocaravanistas de boa-vontade apercebendo das insuficiências da FPA foram, ao longo destes quase 6 anos, promovendo alterações, já através do afastamento de intervenientes que alegadamente queriam obter dividendos pessoais, já tentando substituir os dirigentes menos aptos ou egocêntricos (o que nem sempre conseguiram plenamente), já promovendo alterações pontuais, mas insuficientes, dos estatutos.

Verifica-se, porque é uma evidência, que todas as alterações efectuadas não foram as suficientes para retirar a FPA da letargia em que se encontra, subsistindo graças à aparência que o nome “federação” lhe proporciona no exterior e que esconde a realidade daquilo que realmente é: UMA FPA MORTA.

Muitos (acredito que com as melhores intenções) já se estão a esforçar para ressuscitar a FPA. Se o conseguirão, é a dúvida que se coloca. No entanto, admito que com medidas apropriadas, com algum trabalho e persistência, com honestidade política, com uma mente liberta de fantasmas e com uma clara definição de objectivos, poderão, talvez, conseguir que a FPA surja das trevas.

Como RESSUSCITAR a FPA será o tema do meu próximo artigo de opinião.



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)



2 comentários:

  1. Obrigado pela crítica! Tenho seguido às notícias com entusiasmo e preocupação! Obrigado!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sem qualquer laivo de modéstia quem agradece que acompanhe os meus escritos sou eu e permito-me enaltecer o interesse que demonstra pelo tema.

      Eliminar