E
FOI PRECISO IR A ESPANHA
(Mini
crónicas de uma viagem por Espanha)
Não
é segredo para os habitantes do norte de Portugal e para os
autocaravanistas que por lá circulam que os bois de uma raça
especifica (aquela de chifres grandes) se deslocam sozinhos pelas
estradas, num percurso que diariamente fazem entre os estábulos e as
pastagens. É vê-los ao amanhecer a caminho das pastagens e, antes
de anoitecer, naquelas estradas estreitas, em fila, pachorrentos,
bamboleantes, de regresso aos estábulos.
Quando
das duas ou três vezes que com esses bois me cruzei ou que à minha
frente seguiam, tive o especial cuidado de não os irritar e de lhes
dar total e completa prioridade.
Na
região da Cantábria (Espanha) também existem bois, embora de uma
raça diferente, que circulam nas estradas a caminho das pastagens
(ou de regresso das mesmas) mas, aparentemente, conduzidos por um
pastor (?).
A
minha imagem de um pastor, talvez errada, reside num homem envergando
uma grande e grossa capa, tendo na mão um grande pau, um grande
cajado, e ao lado um bonito cão, atento às ordens do dono.
Para
início desta história direi que conduzia a minha autocaravana na
estrada entre Potes e Celis, descontraído, quando, pela frente, à
saída de uma curva, se me deparou uma manada de uma boa dúzia de
imponentes bois, ocupando toda a largura da estrada. Afrouxei, que
remédio!
Quase
de seguida aproximou-se um carro vermelho, pequeno, velho, cuja marca
e modelo me não apercebi. Parou do lado contrário e dele saiu um
homem que começou a gesticular e conseguiu que a manada prosseguisse
encostada ao lado direito da estrada. Depois, regressou ao carro.
Um cidadão simpático que quis facilitar o trânsito, pensei.
Dispus-me
a a ultrapassar a manada, mas logo alguns bois voltaram a ocupar todo
o espaço, impedindo-me a manobra. Entretanto, um autocarro, que
vinha em sentido contrário, foi também obrigado a parar. Nesse
momento alguns bois já seguiam ao lado da autocaravana. Disse de mim
para mim, que a viagem ia ser muito lenta.
Mas,
eis que de repente, o carro vermelho me ultrapassa a apitar
estridentemente e o condutor a agitar energicamente um braço. Os
bois, talvez devido ao som da busina e ao braço que se movia
enérgico, lá se encostaram de novo à direita. De novo o condutor
saiu do carro vermelho e mantendo os bois no lado direito da estrada
proporcionou ao condutor do autocarro uma passagem fácil, embora
lenta. Depois, tornou meter-se no carro e arrancou à frente da
manada, deixando-a para trás. E de novo, para minha irritação, os
bois ocuparam toda a estrada.
Após
algum tempo, seguindo lentamente atrás dos bois, ainda tentei
ultrapassá-los, apitando e agitando um braço, a exemplo do que vira
fazer ao condutor do carro vermelho,. Não obstante alguns dos bois
se encostarem à direita, outros houve, de maior porte e mais
pachorrentos, que me ignoraram. Não passei.
Desesperado
com a lentidão com que seguia preparava-me para estacionar, logo que
possível, quando, a seguir a uma curva, lá estava o carro vermelho,
no meio da estrada, com o condutor no exterior, aos gritos e, com
gestos largos, a encaminhar os bois para fora da estrada em direcção
a um caminho de terra batida. Depois, já com os bois fora da
estrada, meteu-se no carro vermelho e seguiu na peugada da manada.
Foi
a primeira vez, e única até hoje, que vi um pastor a conduzir
uma manada de carro. E foi preciso ir a Espanha!
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) – AQUI)
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