HOMENAGEM
A UM AMIGO
Foi
hoje a enterrar um grande Amigo.
Conheci
Sebastião Fagundes em 1973, já lá vão 45 anos, integrado num
Grupo de Teatro constituído no âmbito do Grupo Desportivo de um
Banco. Pouco tempo depois ocorreu o 25 de Abril de 1974 e devido às
muitas solicitações da época o teatro ficou para trás, mas não
foi esquecido. O convívio entre as pessoas desse grupo terá
contribuído para enraizar hábitos democráticos.
Entretanto, o tempo foi passando e as nossas vidas foram decorrendo, umas vezes
no mesmo “barco”, outras em “barcos” diferentes, mas sempre
procurando alcançar objectivos comuns, não obstante, muitas vezes,
por caminhos diferentes.
Contribuímos
para a criação da 1ª Comissão de Trabalhadores do Banco, para a
1ª Comissão de Delegados Sindicais, a que pertencemos em momentos
diferentes. A nossa candidatura aos Corpos Gerentes de uma Cooperativa não obteve os resultados que desejávamos, pois não conseguimos ser eleitos.
Ao
longo de muito tempo fomos candidatos, em listas diferentes, aos
Corpos Gerentes do Sindicato, até que numa mesma lista, por fim, tivemos o
apoio dos trabalhadores que nos elegeram
Podemos
dizer que Sebastião Fagundes esteve presente em todas as acções na
defesa dos interesses, direitos e regalias dos trabalhadores e,
especificamente, dos trabalhadores bancários. Esteve na primeira
linha da ocupação do Palacete que veio a albergar os Serviços
Clínicos dos SAMS. Já antes do 25 de Abril, aquando da ocupação e
encerramento do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, no
seguimento da prisão do dirigente sindical Daniel Cabrita pela
polícia política de Salazar, desenvolveu esforços para que os
vencimentos dos trabalhadores do Sindicato fossem pagos na própria
agência onde trabalhava, através do Director de Serviços do Sindicato, sentado numa mesa colocada no exterior do balcão da agência bancária. Algo que hoje
nos parece simples, mas que à época não era.
Ao
longo de todo este percurso discutíamos, almoçávamos, petiscávamos,
frequentemente falávamos do que nos unia e do que estávamos em
desacordo e umas vezes sentimo-nos incompreendidos e outras
regozijávamo-nos por pequenas vitórias
Com
a extinção da tendência sindical “Listas Unitárias”, no
Sindicato dos Bancários, desenvolvemos esforços no sentido de
criarmos o que veio a ser a tendência sindical “MUDAR” (que
quase foi a força politico-sindical mais votada no sector bancário)
que englobou trabalhadores com diferentes projectos sociais,
nomeadamente sociais-democratas, socialistas, comunistas, membros do
Bloco de Esquerda e sindicalistas sem partido.
Sebastião
Fagundes dedicou grande parte da sua existência, com prejuízo da
vida pessoal, à defesa dos direitos, interesses e garantias dos
trabalhadores, através, também, do Sindicato dos Bancários do Sul
e Ilhas, sindicato de que foi dirigente ao mais alto nível
Foi nos seus mandatos que se inauguraram o Hospital, a Casa de Repouso em Azeitão e inúmeras Delegações Sindicais e de Saúde, além do Centro de Férias em Ferreira do Zêzere. Quando saiu do cargo de dirigente sindical estava em franco progresso de o ínicio das obras das actuais instalações do Centro Clínico de Lisboa.
Os estudos e as dinâmicas sindicais foram, no período em que Sebastião Fagundes foi Vice-Presidente da Direcção do SBSI, as maiores até então alcançadas e a solidariedade com os países de expressão portuguesa (antigas colónias) atingiram níveis nunca vistos anteriormente.
Toda a actividade relatada não se deve exclusivamente a Sebastião Fagundes, mas seguramente que a sua passagem pelos Corpos Gerentes do seu sindicato fez a diferença... para melhor.
O Amor (não tenhamos medo da palavra) de Sebastião Fagundes pelos trabalhadores e por um sindicalismo de intervenção fez com que fosse “expulso” do partido, partido a que tinha aderido logo a seguir ao 25 de Abril. Parafraseando Afonso de Albuquerque digo: “Mal com o partido por amor dos trabalhadores, mal com os trabalhadores por amor do partido”. Na realidade, contudo, Sebastião Fagundes optou SEMPRE pelos trabalhadores.
A opção de Sebastião Fagundes pelo SBSI foi mais evidenciada quando, como trabalhador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) (após a extinção do BNU), ter optado por ficar inscrito nos Serviços de Assistência Médico Social (SAMS) em prejuízo dos Serviços Sociais da CGD. Serviços Sociais que alegadamente lhe dariam mais direitos que os SAMS. Esta opção é bem demonstrativa da expressão do pensamento e da Acção de Sebastião Fagundes que lhe conferiu o inquestionável direito, por mérito próprio, de ter a bandeira do seu sindicato sobre o caixão onde esta manhã, finalmente, “repousava”. Bom seria, também, que os actuais dirigentes do SBSI reconhecessem à família (mulher e filhos) a honra de ficarem com essa mesma Bandeira no espólio sindical de Sebastião Fagundes
E a pergunta que neste doloroso momento se coloca a muitos de nós é saber qual foi a resposta solidária, concreta, por parte do seu sindicato do coração, aquando das dificuldades pessoais que teve e cujo desfecho hoje se verificou?
Possivelmente,
no próximo Conselho Geral do SBSI, será feito um minuto de silêncio
em memória de Sebastião Fagundes. A revista “O Bancário” não
deixará de trazer um elaborado panegírico. Que pelo menos isso
sirva para apaziguar momentaneamente as consciências, pois dentro de
pouco tempo, não tenho dúvidas, só a família e os Amigos o
recordarão.
Sebastião
Fagundes não foi um santo. Foi simplesmente um homem, com dúvidas e
convicções, que se esforçou por lutar contra as injustiças e a
favor dos mais desfavorecidos. Por vezes até terá lutado contra os
próprios desfavorecidos para defender os direitos, interesses e
regalias desses mesmos desfavorecidos.
Falar
a quente, emocionado, horas depois do funeral, da vida de Sebastião
Fagundes, não é fácil. Contudo, a
melhor forma que encontro para definir em poucas palavras o homem que
foi Sebastião Fagundes, leva-me a dizer, consciente de que muito mais ele mereceria, apenas...
MORREU
UM HOMEM BOM.
Sem dúvida um homem bom e um bom amigo.
ResponderEliminarNunca o vou esquecer.
Elsa
Merecia sem dúvida mais reconhecimento do que teve neste último ano e meio de vida.
ResponderEliminarAs pessoas devem ser valorizadas em vida.
A sua "sorte" foi ter uma família que sempre acreditou e lutou por ele.
Infelizmente só o conheci neste último ano de vida e marcou-me para o resto da vida!
Excepcionalmente, dado o contexto, vou permitir um comentário anónimo.
EliminarNão era suposto ser anónimo.
EliminarPensei que ao seleccionar o email apareceria o meu nome.
Chamo-me é Marta Carido e fui eu que escrevi o comentário anterior.
Depois de ler o que o Rui acabou de escrever, resta-me concordar que morreu um bom homem, que merecia ter sido apoiado na doença, na Instituição que ele próprio ajudou a criar enquanto dirigente e lhe foi negada a sua estadia por razões inconfessáveis. O destaque da bandeira do SBSI, post mortem não abafa a vergonha de lhe terem negado os serviços de saúde do Lar de Idosos de Azeitão.
ResponderEliminarAntonieta Cabanas