quinta-feira, 29 de novembro de 2018

UMA CAPOEIRA NA CATEDRAL






UMA CAPOEIRA NA CATEDRAL

(Mini crónicas de uma viagem por Espanha)


Entrar numa catedral e encontrar no interior uma capoeira com dois galináceos vivos não é espectavel e “cheira” a milagre.

Lendas e milagres associados a galos só conhecia o de Barcelos (Portugal).

Para quem não conheça a Lenda do Galo de Barcelos aqui a dou a conhecer de forma muito resumida:

Em Barcelos tinha sido cometido um crime e foi acusado um galego que passava em peregrinação a Santiago de Compostela. Preso, foi julgado e condenado à morte e, enquanto aguardava que a sentença fosse cumprida foi, a seu pedido, presente ao juiz que que almoçava com uns amigos e disse apontando o galo assado que estava no prato do juiz: É tão verdade eu estar inocente como esse galo cantar quando eu for enforcado.

O galego foi de imediato levado para o local da forca e quando estava a ser enforcado o galo ergueu-se no prato e cantou.

Felizmente houve um problema qualquer com a corda da forca e tendo o juiz acorrido ao local onde a sentença estava a ser cumprida conseguiu chegar a tempo de soltar o condenado e mandá-lo em paz.



Na minha digressão em autocaravana pelo norte da Península Ibérica (2018), parei em Santo Domingo da la Calzada (na comunidade de La Rioja) para uma breve visita à Catedral, não imaginando que iria encontrar no interior do templo um galinheiro. E dentro do galinheiro um galo e uma galinha, vivos. Não um galinheiro qualquer. Foi construído em estilo gótico do século XV e situa-se em frente do sepulcro de Santo Domingo de la Calzada.

Porque razão se encontra uma capoeira, com galináceos vivos, no interior de uma catedral? Mais uma vez a lenda e o milagre explicam:

Foi encontrado na bagagem de um jovem alemão um cálice de prata que tinha desaparecido da casa onde pernoitara (com os pais) em peregrinação a Santiago de Compostela. Evidentemente que o jovem alemão estava inocente da acusação de roubo que lhe foi feita, pois o cálice tinha sido colocado na bagagem, por vingança, por uma jovem mulher que tinha sido repudiada quando o assediara.

O jovem alemão foi preso, julgado e enforcado. Os pais, que tinham continuado a peregrinação, ao regressarem, voltaram chorosos ao local onde o jovem ainda continuava pendurado na forca e ouviram-no dizer-lhes para não chorarem mais porque ele estava vivo.

Estava o juiz a almoçar um galo e uma galinha (porque era um homem de muito alimento) quando lhe chegou a informação do que se passava e, rindo, exclamou que o jovem alemão estava tão vivo como os galináceos assados no prato. E eis que o milagre aconteceu: Os galináceos saíram do prato voando.

Depois disto, era óbvio que o juiz libertasse o jovem alemão e se apressasse a  levar o galo e a galinha para a igreja, onde foi construída uma capoeira para as aves que passaram a ser a prova viva do milagre.

Veja-se a semelhança entre as duas histórias: a de Barcelos e a de Santo Domingo de la Calzada.

Estas duas histórias têm alguns pontos que realço: Ambas falam numa peregrinação a Santiago de Compostela; ambas têm nos galos o ressurgir da verdade através de milagres; ambas têm como protagonistas (além dos galos) cidadãos estrangeiros; ambas se reportam a erros judiciários que condenam à morte inocentes, mas que são salvos por intervenção divina.

Que comentário final posso eu fazer?

Que já não há milagres como os de antigamente!? Ou há? Talvez que numa próxima viagem encontre mais milagres.



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)

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