UMA
CAPOEIRA NA CATEDRAL
(Mini
crónicas de uma viagem por Espanha)
Entrar
numa catedral e encontrar no interior uma capoeira com dois
galináceos vivos não é espectavel e “cheira” a milagre.
Lendas
e milagres associados a galos só conhecia o de Barcelos (Portugal).
Para
quem não conheça a Lenda do Galo de Barcelos aqui a dou a
conhecer de forma muito resumida:
Em
Barcelos tinha sido cometido um crime e foi acusado um galego que
passava em peregrinação a Santiago de Compostela. Preso, foi
julgado e condenado à morte e, enquanto aguardava que a sentença
fosse cumprida foi, a seu pedido, presente ao juiz que que almoçava
com uns amigos e disse apontando o galo assado que estava no prato do juiz: É
tão verdade eu estar inocente como esse galo cantar quando eu for
enforcado.
O
galego foi de imediato levado para o local da forca e quando estava a
ser enforcado o galo ergueu-se no prato e cantou.
Felizmente
houve um problema qualquer com a corda da forca e tendo o juiz acorrido ao local onde a sentença estava a ser cumprida conseguiu
chegar a tempo de soltar o condenado e mandá-lo em paz.
Na
minha digressão em autocaravana pelo norte da Península Ibérica
(2018), parei em Santo Domingo da la Calzada (na comunidade de La
Rioja) para uma breve visita à Catedral, não imaginando que iria
encontrar no interior do templo um galinheiro. E dentro do galinheiro
um galo e uma galinha, vivos. Não um galinheiro qualquer. Foi
construído em estilo gótico do século XV e situa-se em frente do
sepulcro
de Santo Domingo de la Calzada.
Porque
razão se encontra uma capoeira, com galináceos vivos, no interior
de uma catedral? Mais uma vez a lenda e o milagre explicam:
Foi
encontrado na bagagem de um jovem alemão um cálice de prata que
tinha desaparecido da casa onde pernoitara (com os pais) em
peregrinação a Santiago de Compostela. Evidentemente que o jovem
alemão estava inocente da acusação de roubo que lhe foi feita, pois o cálice tinha sido colocado na
bagagem, por vingança, por uma jovem mulher que tinha sido repudiada
quando o assediara.
O
jovem alemão foi preso, julgado e enforcado. Os pais, que tinham
continuado a peregrinação, ao regressarem, voltaram chorosos ao
local onde o jovem ainda continuava pendurado na forca e ouviram-no
dizer-lhes para não chorarem mais porque ele estava vivo.
Estava
o juiz a almoçar um galo e uma galinha (porque era um homem de muito
alimento) quando lhe chegou a informação do que se passava e,
rindo, exclamou que o jovem alemão estava tão vivo como os
galináceos assados no prato. E eis que o milagre aconteceu: Os
galináceos saíram do prato voando.
Depois
disto, era óbvio que o juiz libertasse o jovem alemão e se apressasse a levar o galo e a galinha para a igreja, onde foi construída uma
capoeira para as aves que passaram a ser a prova viva do milagre.
Veja-se
a semelhança entre as duas histórias: a de Barcelos e a de Santo
Domingo de la Calzada.
Estas
duas histórias têm alguns pontos que realço: Ambas falam numa
peregrinação a Santiago de Compostela; ambas têm nos galos o ressurgir da verdade através de milagres; ambas têm como
protagonistas (além dos galos) cidadãos estrangeiros; ambas se
reportam a erros judiciários que condenam à morte inocentes, mas que são salvos por intervenção divina.
Que
comentário final posso eu fazer?
Que
já não há milagres como os de antigamente!? Ou há? Talvez que numa próxima viagem encontre mais milagres.
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) – AQUI)
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