VENTURAS
E DESVENTURAS
de
UM
AUTOCARAVANISTA EM VIAGEM
2º
Episódio
No
primeiro episódio de “Venturas e Desventuras de um Autocaravanista
em Viagem” (ver AQUI) escrevi que para estacionar a autocaravana
tinha sido obrigado “a
usar toda a minha força para mover o volante”.
Porque este pormenor é importante peço-vos que o retenham na vossa
memória.
Reparada
que foi a avaria da minha “nova” autocaravana (como
vos contei) e
depois de darmos um pequeno passeio pelos Passadiços de Lobão, lá
seguimos (eu e o meu Amigo, companheiro
autocaravanista desta viagem)
para a Área de Serviço de Autocaravanas (ASA) de São Romão do
Coronado.
Esta
ASA encontra-se estrategicamente bem colocada, relativamente à
utilização de
transportes públicos e serviços comerciais. É bastante arborizada,
disponibiliza energia eléctrica e o preço é mesmo uma agradável
surpresa. O
facto de, por
comboio, distar
do centro do Porto menos de 30 minutos e a um preço muito baixo,
torna-a
apetecível e
um lugar de excelência para
quem quer visitar
a
capital do norte.
A
ASA tem
também uma particularidade, mas que a não
torna
única
em Portugal pois que existe, pelo menos, uma outra em Chaves.
O pagamento é feito com base na confiança. O
que quer isto dizer? Na
parede da casa da junta
de Freguesia
são disponibilizados envelopes onde os
autocaravanistas
utentes da ASA
colocam
o valor da estadia e introduzem
os respectivos envelopes
numa caixa existente para o efeito. O montante a pagar é calculado
pelos
próprios
autocaravanistas
com base num preçário escrito
em três línguas que
se encontra afixado.
Algumas
horas depois de chegarmos anoiteceu.
Jantámos, dormimos e o
raiar de um novo dia anunciava-se quente
e luminoso.
E
aqui começaram as desventuras.
Acordei
com uma dor forte no meu pulso esquerdo que me impedia de movimentar
normalmente o braço e a mão. Dor
que atribui de imediato à força excessiva que tinha feito
para mover o volante da autocaravana aquando da avaria. Não
fora o forte
apoio
do meu Amigo, companheiro
de viagem,
e teria iniciado o meu regresso a casa nesse mesmo dia.
O
dia lá foi correndo, mas a dor não corria para lado nenhum,
mantinha-se e cada vez mais forte. Nem mesmo as fricções com uma
pomada anti inflamatória a diminuía. Um “punho elástico” que
entretanto colocara ajudava, mas não muito.
Nessa
noite não dormi muito bem e na manhã seguinte resolvi consultar um
médico ortopedista e, se possível, constatar
através de uma radiografia se não tinha nada partido ou deslocado.
Contactei
telefonicamente o serviço de saúde privado de que sou beneficiário
há mais de 40 anos e fui encaminhado para alguns outros serviços
privados da zona do Porto. Telefonema para cá, telefonema para lá e
não conseguia uma consulta de ortopedia e uma radiografia através
das instituições que me tinham sugerido.
Desisti
e resolvi recorrer ao Serviço Nacional de Saúde.
E
aqui começaram as venturas.
Saí,
a pé, da Área de Serviço, e dirigi-me para a estação da CP onde
apanhei um comboio com destino ao Porto tendo descido na estação de
São Bento, no centro do Porto. Depois, fui de táxi para o Hospital
de São João onde cheguei às 12 horas e trinta minutos.
Na
recepção das urgências do Hospital de São João procedi à
inscrição e fui encaminhado para a chamada triagem. Entrei na
triagem seriam umas 12 horas e 35 minutos, tendo-me sido atribuída
uma pulseira de cor verde e de imediato me
deram instruções para me dirigir ao serviço
de ortopedia onde uma médica me ouviu e prescreveu
uma radiografia
que
fiz no
serviço de imagiologia,
onde entrei cerca das 12 horas e 40
minutos. Depois
de me terem feito duas
radiografias ao pulso, às
12
horas e 50 minutos estava de novo a ser observado pela médica que me
esclareceu
que não tinha nada partido, que se tratava de uma tendinite, me
aconselhou
que continuasse o
tratamento
que
já vinha fazendo. Eram
13 horas quando
saí
do Hospital. Ou
seja, trinta minutos depois de ter entrado.
Apanhei
um táxi para a Estação de São Bento, apanhei o comboio de
regresso a São Romão do Coronado, caminhei durante uns 5 minutos e
cheguei à Área de Serviço.
Reflectindo
sobre esta situação e não acreditando que os órgãos de
comunicação social mintam descaradamente quando informam que há
pessoas que aguardam nas urgências dos Hospitais do Serviço
Nacional de Saúde cinco e mais horas para serem atendidos,
considerei que era um homem com muita sorte. Talvez uma excepção.
Nos
trinta minutos em que estive no Hospital de São João fui
amavelmente atendido por todos os profissionais com quem privei. O
diagnóstico também foi o correcto, pois passados uns 3 dias as
dores desapareceram e readquiri os movimentos do braço e da mão.
Esta,
para
que conste,
não foi a minha primeira
experiência
com o Serviço Nacional de Saúde. Terá sido a terceira (ou
quarta?) e de todas elas fui
excelentemente atendido e num tempo adequado ao meu estado de saúde.
O
Serviço Nacional de Saúde nem sempre funcionará bem e muitas
serão, certamente, as dificuldades e problemas. Contudo, mesmo
assim, que seria da maioria dos cidadãos se não existisse o SNS? E
se só existissem serviços de saúde privados? Fico-me por aqui
nesta estória, pois não desejo, neste contexto, abordar os
benefícios e malefícios do nosso sistema público de saúde.
No
próximo Domingo contar-lhes-ei o terceiro e último episódio desta
saga.
Ah!,
mas já agora permitam um conselho. Se alguma vez tiverem um acidente
grave, mesmo grave, peçam para serem levados para um hospital
público… Talvez se “safem”.