terça-feira, 15 de julho de 2014

Recordar… “Campismo, caravanismo e autocaravanismo são práticas de um mesmo ideal”



Campismo, caravanismo e autocaravanismo são práticas de um mesmo ideal
 (Texto escrito em 23 de Outubro de 2011)


Antes de os puristas do autocaravanismo me condenarem à fogueira dêem-me o direito de me defender pela heresia (segundo os mesmos) que acabo de proferir.

O Campismo terá nascido há já alguns milhares de anos com a utilização de tendas onde os militares, nas expedições guerreiras que faziam, se abrigavam.

Posteriormente o campismo desenvolveu-se como um processo de ensino infantil e em 1908 Baden Powell concebeu o escutismo.

Recentemente, após o desenvolvimento industrial, o “campismo” sofre modificações, torna-se essencialmente turístico e é formatado e enquadrado através de associações. Os Parques de Campismo nascem, não só como uma consequência deste enquadramento, mas como uma resposta às necessidades básicas, inclusive sanitárias, dos turistas itinerantes, nomeadamente dos menos habilitados economicamente. E a formatação da prática do “campismo” e dos Parques de Campismo que passam a ser considerados um sector de turismo e, consequentemente, uma mais-valia económica, inclusive ao nível das receitas fiscais, contribuem para a promoção e a implementação de leis de natureza coerciva. Ou seja, às velhas regras autorreguladoras do “campismo”, conceitos cívicos voluntariamente aceites, juntam-se agora normas obrigatórias e cujo incumprimento é penalizado.

O chamado “Parquismo” (que nada tem a ver com campismo) é uma situação tolerada pelos Parques de Campismo para, na maior parte dos casos, prover a solvência económica dos mesmos.

Com o acesso mais fácil ao meio de transporte motorizado pessoal criam-se as condições para que o “campismo” passe a ser também feito com caravanas e autocaravanas.

Tenho vindo a colocar aspas na palavra campismo para fazer a diferença entre o antigo (campismo militar e educacional) e o novo campismo (sector de turismo).

Se o campismo e o caravanismo recorrem a Parques, aptos para a prática destas modalidades, por imposição legal, nascida da formatação e enquadramento dado ao “campismo”, por via da disciplina económica necessária à obtenção das mais-valias (que estas actividades turísticas criam), já o autocaravanismo surge como uma modalidade quase autónoma que, em teoria, parece não necessitar de apoios para a sua prática.

Porque me parece que as ideias básicas, neste particular, estão definidas, caminhemos agora por uma outra estrada que, através de uma alegoria, nos faça (talvez) compreender o ideal “campista” e o campismo, caravanismo e autocaravanismo como práticas desse mesmo ideal.

No mundo existem as religiões (ou, se preferirem, existem as igrejas) Copta, Católica, Ortodoxa, Protestante. Todas elas são diferentes, mas têm um ponto comum (ou, se preferirem, um ideal comum), o cristianismo, através de Jesus da Nazaré.

As igrejas (religiões) referidas têm formas diferentes de professar a respectiva fé, mas, têm um ideal comum: o cristianismo.

As igrejas (religiões) referidas têm formas diferentes de professar a respectiva fé, mas, têm alguns valores comuns entre elas.

A maioria dos que me leem já entendeu aonde quero chegar. Efectivamente, o mesmo se passa com o campismo, o caravanismo e o autocaravanismo.

Não existe (?) um ideal que defina exclusivamente cada uma das práticas (campista, caravanista e autocaravanista) por si só, mas, é perfeitamente compreensível e desejável que exista um ideal em que todos se revejam.

Numa mensagem escrita em 9 de Outubro passado no Fórum do CampingCar Portugal, o nosso Companheiro Autocaravanista “Mcas” avançou com uma definição que considerou poder ser o “ideal autocaravanista”, com o que não concordei, porque, essa definição adapta-se perfeitamente a um ideal comum das práticas campistas, caravanistas e autocaravanistas.

Não será assim? Adaptando a mensagem não poderemos assumir que Campistas, Caravanistas e Autocaravanistas se reveem neste ideal:

O “NOSSO IDEAL” centra-se na satisfação de viajar, na fruição dos espaços naturais ou humanizados, no prazer da contemplação artística, nos contactos multiculturais, nas manifestações folclóricas e civilizacionais, nas expressões do que é um povo, um país, uma região. É desta forma que tanto se aprecia a montanha como o mar, as cidades e as pequenas aldeias, se calcorreia diferentes países, se visita museus e monumentos, se assiste a espectáculos, feiras e romarias, se provam os produtos das regiões, e se diz, orgulhosamente, “eu estive lá, eu vi, eu sei como é”.

O mundo avança exponencialmente no campo das tecnologias e não surpreenderá que no próximo século o turismo espacial seja uma realidade e que surjam as “Espaçocaravanas” com necessidades e problemas semelhantes às dos autocaravanistas do nosso tempo, mas com um ideal igual ao acima transcrito. E, em vez de 3 formas diferentes de praticar o mesmo ideal teremos quatro.

O “tipo” (ou outra palavra menos bonita) ensandeceu, exclamarão entre gargalhadas alguns (muitos?) dos que me leem. Em todas as épocas há quem ria e, porque são mortais, não ficam por aqui para ver a concretização do que motivou as extemporâneas gargalhadas.

Outra questão com que nos deparamos é a designação que as associações e as leis dão a estas práticas. As associações, na sua maioria, auto-designam-se por campistas e caravanistas. Tenhamos consciência que nas épocas da constituição das associações o autocaravanismo ou não existia ou era praticamente desconhecido. Posteriormente, a mudança de nome das associações não é feita ou por questões emocionais dos associados ou pelo reconhecimento que nome tem como marca que valoriza a associação ou, até, por uma questão financeira. Contudo, muitas já são as que alteraram os respectivos estatutos e assumem a prática do autocaravanismo no seio de associações que se identificam como campistas e caravanistas.

Uma designação que inserisse as três práticas de um mesmo ideal (campismo, caravanismo e autocaravanismo) seria a solução desejável. Enquanto isso se não verifica continuaremos a chamar-lhe “campismo”.

Quanto aos valores comportamentais (campistas, caravanistas e autocaravanistas) já afirmei que cerca de 70 a 80% das regras estabelecidas para os comportamentos que os campistas, caravanistas e autocaravanistas devem seguir são quase, senão mesmo iguais, às que o “código campista”, as “Boas práticas campistas”, a “Cartilha do Autocaravanista”, as “Regras de Ouro” ou o “Respeito Autocaravanista” preconizam entre si. E são semelhantes ou iguais porquê? Porque as normas são regras de civismo e, como tal, aplicam-se a qualquer cidadão.

A questão última, com que pretendo encerrar a minha participação neste tópico, prende-se com o saber se o Movimento Campista, Caravanista e Autocaravanista está disponível para adoptar um ideal comum, o “NOSSO IDEAL”.

Vale a pena lutar em unidade e pela unidade deste Movimento com práticas distintas?



(Todas as Terças-feiras, neste espaço (Papa Léguas Portugal), estarei a “RECORDAR…” e a transcrever alguns escritos antigos que assinalam um período importante (pelo menos para mim) dos meus pensamentos e forma de estar na vida.)

2 comentários:

  1. DEVIDO A DIFICULDADES DE INSERÇÃO TRANSCREVO INTEGRALMENTE O TEXTO ABAIXO A PEDIDO DO RESPETIVO AUTOR.

    “Gostei muito do que li. Felicito-o por ter reabilitado este texto que devia ser de leitura "obrigatória". Este artigo de esclarecimento e simples chamada de atenção acaba por ser um tratado sobre o assunto. Fica tudo dito. Dificilmente se dirá melhor neste contexto de tentar informar e reunir para unir. De facto o ideal é o mesmo e as regras e deveres são para cumprir por todos os que acampam ou praticam o autocaravanismo em parques ou fora deles.

    Custa ouvir alguns comentários acerca do purismo do autocaravanismo e das heresias inerentes às entradas nos parques de campismo. Não sofro destas alergias fundamentalistas. Por vezes é bom ter estado nos dois lados. Cada um deve poder escolher a forma e o modo como quer usar e viajar com a sua AC. Sozinho, em grupo, pernoitando por aí em AS, no litoral ou nos parques sem que a sua opção o leve a ser carimbado pela opinião do Companheiro discordante.

    Grato pelo que me possibilitou ler e continue nesta linha e sem medo. O medo sempre foi um grande mentiroso e apesar de discordâncias não creio haver inquisidores entre os que gostam e percorrem a Natureza.

    José Galante”

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