Campismo, caravanismo e
autocaravanismo são práticas de um mesmo ideal
(Texto escrito
em 23 de Outubro de 2011)
Antes de os puristas do autocaravanismo me condenarem à
fogueira dêem-me o direito de me defender pela heresia (segundo os mesmos) que
acabo de proferir.
O Campismo terá nascido há já alguns milhares de anos com a
utilização de tendas onde os militares, nas expedições guerreiras que faziam,
se abrigavam.
Posteriormente o campismo desenvolveu-se como um processo de
ensino infantil e em 1908 Baden Powell concebeu o escutismo.
Recentemente, após o desenvolvimento industrial, o
“campismo” sofre modificações, torna-se essencialmente turístico e é formatado
e enquadrado através de associações. Os Parques de Campismo nascem, não só como
uma consequência deste enquadramento, mas como uma resposta às necessidades
básicas, inclusive sanitárias, dos turistas itinerantes, nomeadamente dos menos
habilitados economicamente. E a formatação da prática do “campismo” e dos
Parques de Campismo que passam a ser considerados um sector de turismo e,
consequentemente, uma mais-valia económica, inclusive ao nível das receitas
fiscais, contribuem para a promoção e a implementação de leis de natureza
coerciva. Ou seja, às velhas regras autorreguladoras do “campismo”, conceitos
cívicos voluntariamente aceites, juntam-se agora normas obrigatórias e cujo
incumprimento é penalizado.
O chamado “Parquismo” (que nada tem a ver com campismo) é
uma situação tolerada pelos Parques de Campismo para, na maior parte dos casos,
prover a solvência económica dos mesmos.
Com o acesso mais fácil ao meio de transporte motorizado
pessoal criam-se as condições para que o “campismo” passe a ser também feito
com caravanas e autocaravanas.
Tenho vindo a colocar aspas na palavra campismo para fazer a
diferença entre o antigo (campismo militar e educacional) e o novo campismo
(sector de turismo).
Se o campismo e o caravanismo recorrem a Parques, aptos para
a prática destas modalidades, por imposição legal, nascida da formatação e
enquadramento dado ao “campismo”, por via da disciplina económica necessária à
obtenção das mais-valias (que estas actividades turísticas criam), já o
autocaravanismo surge como uma modalidade quase autónoma que, em teoria, parece
não necessitar de apoios para a sua prática.
Porque me parece que as ideias básicas, neste particular,
estão definidas, caminhemos agora por uma outra estrada que, através de uma
alegoria, nos faça (talvez) compreender o ideal “campista” e o campismo,
caravanismo e autocaravanismo como práticas desse mesmo ideal.
No mundo existem as religiões (ou, se preferirem, existem as
igrejas) Copta, Católica, Ortodoxa, Protestante. Todas elas são diferentes, mas
têm um ponto comum (ou, se preferirem, um ideal comum), o cristianismo, através
de Jesus da Nazaré.
As igrejas (religiões) referidas têm formas diferentes de
professar a respectiva fé, mas, têm um ideal comum: o cristianismo.
As igrejas (religiões) referidas têm formas diferentes de
professar a respectiva fé, mas, têm alguns valores comuns entre elas.
A maioria dos que me leem já entendeu aonde quero chegar.
Efectivamente, o mesmo se passa com o campismo, o caravanismo e o
autocaravanismo.
Não existe (?) um ideal que defina exclusivamente cada uma
das práticas (campista, caravanista e autocaravanista) por si só, mas, é
perfeitamente compreensível e desejável que exista um ideal em que todos se
revejam.
Numa mensagem escrita em 9 de Outubro passado no Fórum do
CampingCar Portugal, o nosso Companheiro Autocaravanista “Mcas” avançou com uma
definição que considerou poder ser o “ideal autocaravanista”, com o que não
concordei, porque, essa definição adapta-se perfeitamente a um ideal comum das
práticas campistas, caravanistas e autocaravanistas.
Não será assim? Adaptando a mensagem não poderemos assumir
que Campistas, Caravanistas e Autocaravanistas se reveem neste ideal:
O “NOSSO IDEAL” centra-se na satisfação de viajar, na
fruição dos espaços naturais ou humanizados, no prazer da contemplação
artística, nos contactos multiculturais, nas manifestações folclóricas e
civilizacionais, nas expressões do que é um povo, um país, uma região. É desta
forma que tanto se aprecia a montanha como o mar, as cidades e as pequenas
aldeias, se calcorreia diferentes países, se visita museus e monumentos, se
assiste a espectáculos, feiras e romarias, se provam os produtos das regiões, e
se diz, orgulhosamente, “eu estive lá, eu vi, eu sei como é”.
O mundo avança exponencialmente no campo das tecnologias e
não surpreenderá que no próximo século o turismo espacial seja uma realidade e
que surjam as “Espaçocaravanas” com necessidades e problemas semelhantes às dos
autocaravanistas do nosso tempo, mas com um ideal igual ao acima transcrito. E,
em vez de 3 formas diferentes de praticar o mesmo ideal teremos quatro.
O “tipo” (ou outra palavra menos bonita) ensandeceu,
exclamarão entre gargalhadas alguns (muitos?) dos que me leem. Em todas as
épocas há quem ria e, porque são mortais, não ficam por aqui para ver a
concretização do que motivou as extemporâneas gargalhadas.
Outra questão com que nos deparamos é a designação que as
associações e as leis dão a estas práticas. As associações, na sua maioria,
auto-designam-se por campistas e caravanistas. Tenhamos consciência que nas
épocas da constituição das associações o autocaravanismo ou não existia ou era
praticamente desconhecido. Posteriormente, a mudança de nome das associações
não é feita ou por questões emocionais dos associados ou pelo reconhecimento
que nome tem como marca que valoriza a associação ou, até, por uma questão
financeira. Contudo, muitas já são as que alteraram os respectivos estatutos e
assumem a prática do autocaravanismo no seio de associações que se identificam
como campistas e caravanistas.
Uma designação que inserisse as três práticas de um mesmo
ideal (campismo, caravanismo e autocaravanismo) seria a solução desejável. Enquanto
isso se não verifica continuaremos a chamar-lhe “campismo”.
Quanto aos valores comportamentais (campistas, caravanistas
e autocaravanistas) já afirmei que cerca de 70 a 80% das regras estabelecidas
para os comportamentos que os campistas, caravanistas e autocaravanistas devem
seguir são quase, senão mesmo iguais, às que o “código campista”, as “Boas
práticas campistas”, a “Cartilha do Autocaravanista”, as “Regras de Ouro” ou o
“Respeito Autocaravanista” preconizam entre si. E são semelhantes ou iguais
porquê? Porque as normas são regras de civismo e, como tal, aplicam-se a
qualquer cidadão.
A questão última, com que pretendo encerrar a minha
participação neste tópico, prende-se com o saber se o Movimento Campista,
Caravanista e Autocaravanista está disponível para adoptar um ideal comum, o
“NOSSO IDEAL”.
Vale a pena lutar em unidade e pela unidade deste Movimento
com práticas distintas?
(Todas as Terças-feiras, neste
espaço (Papa Léguas Portugal), estarei a “RECORDAR…” e a transcrever alguns escritos
antigos que assinalam um período importante (pelo menos para mim) dos meus
pensamentos e forma de estar na vida.)
Totalmente de acordo
ResponderEliminarDEVIDO A DIFICULDADES DE INSERÇÃO TRANSCREVO INTEGRALMENTE O TEXTO ABAIXO A PEDIDO DO RESPETIVO AUTOR.
ResponderEliminar“Gostei muito do que li. Felicito-o por ter reabilitado este texto que devia ser de leitura "obrigatória". Este artigo de esclarecimento e simples chamada de atenção acaba por ser um tratado sobre o assunto. Fica tudo dito. Dificilmente se dirá melhor neste contexto de tentar informar e reunir para unir. De facto o ideal é o mesmo e as regras e deveres são para cumprir por todos os que acampam ou praticam o autocaravanismo em parques ou fora deles.
Custa ouvir alguns comentários acerca do purismo do autocaravanismo e das heresias inerentes às entradas nos parques de campismo. Não sofro destas alergias fundamentalistas. Por vezes é bom ter estado nos dois lados. Cada um deve poder escolher a forma e o modo como quer usar e viajar com a sua AC. Sozinho, em grupo, pernoitando por aí em AS, no litoral ou nos parques sem que a sua opção o leve a ser carimbado pela opinião do Companheiro discordante.
Grato pelo que me possibilitou ler e continue nesta linha e sem medo. O medo sempre foi um grande mentiroso e apesar de discordâncias não creio haver inquisidores entre os que gostam e percorrem a Natureza.
José Galante”