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Poema dum funcionário
cansado
A noite trocou-me os sonhos e as
mãos
dispersou-me
os amigos
tenho o
coração confundido e a rua é estreita
estreita em
cada passo
as casas
engolem-nos
sumimo-nos
estou num
quarto só num quarto só
com os sonhos
trocados
com toda a
vida às avessas a arder num quarto só
Sou um
funcionário apagado
um
funcionário triste
a minha alma
não acompanha a minha mão
Débito e
Crédito Débito e Crédito
a minha alma
não dança com os números
tento
escondê-la envergonhado
o chefe
apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me
na minha conta de empregado
Sou um funcionário
cansado dum dia exemplar
Por que não
me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me
sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro
velhas palavras generosas
Flor rapariga
amigo menino
irmão beijo
namorada
mãe estrela
música
São as
palavras cruzadas do meu sonho
palavras
soterradas na prisão da minha vida
isto todas as
noites do mundo numa só noite comprida
António Victor Ramos
Rosa (Faro, 17 de
Outubro de 1924 - Lisboa, 23 de
Setembro de 2013), foi um poeta, tradutor e desenhador português.
Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino
secundário por questões de saúde . Em 1958 publica no jornal «A Voz de
Loulé» o poema "Os dias, sem matéria". No mesmo ano sai o seu
primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1 da colecção de poesia «A Palavra»,
editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro
de Brito. Ainda nesse ano inicia a publicação da revista «Cadernos do
Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição por ordem da polícia política.
Foi um dos fundadores da revista de
poesia Árvore existente entre 1951 e 1953.
Fez parte do MUD Juvenil .
O seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro3 .
Em 2003, a Universidade do Algarve, atribui-lhe o grau
de Doutor Honoris Causa
Prémios
- Prémio Fernando Pessoa, da Editora Ática (Segundo Lugar ex-aequo), 1958 (Viagem através duma nebulosa)
- Prémio Nacional de Poesia, da Secretaria de Estado de Informação e Turismo (recusado pelo autor), 1971 (Nos seus olhos de silêncio)
- Prémio Literário da Casa da Imprensa (Prémio Literário), 1971 (A pedra nua)
- Prémio da Fundação de Hautevilliers para o Diálogo de Culturas (Prémio de Tradução), 1976 (Algumas das Palavras: antologia de poesia de Paul Éluard)
- Prémio P.E.N. Clube Português de Poesia, 1980 (O incêndio dos aspectos)
- Prémio Nicola de Poesia, 1986 (Volante verde)
- Prémio Jacinto do Prado Coelho, do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, 1987 (Incisões oblíquas)3
- Prémio Pessoa, 19883
- Grande Prémio de Poesia APE/CTT, 1989 (Acordes)
- Prémio da Bienal de Poesia de Liége, 1991
- Prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia traduzido em França, 1992
- Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Poesia), 1992 (As armas imprecisas)
- Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen (Prémio de Poesia), São João da Madeira, 2005 (O poeta na rua. Antologia portátil)
Obra
- 1958 - O Grito Claro
- 1960 - Viagem Através duma Nebulosa
- 1961 - Voz Inicial
- 1961 - Sobre o Rosto da Terra
- 1963 - Ocupação do Espaço
- 1964 - Terrear
- 1966 - Estou Vivo e Escrevo Sol
- 1969 - A Construção do Corpo
- 1970 - Nos Seus Olhos de Silêncio
- 1972 - A Pedra Nua
- 1974 - Não Posso Adiar o Coração (vol.I, da Obra Poética)
- 1975 - Animal Olhar (vol.II, da Obra Poética)
- 1975 - Respirar a Sombra (vol.III, da Obra Poética)
- 1975 - Ciclo do Cavalo
- 1977 - Boca Incompleta
- 1977 - A Imagem
- 1978 - As Marcas no Deserto
- 1978 - A Nuvem Sobre a Página
- 1979 - Figurações
- 1979 - Círculo Aberto
- 1980 - O Incêndio dos Aspectos
- 1980 - Declives
- 1980 - Le Domaine Enchanté
- 1980 - Figura: Fragmentos
- 1980 - As Marcas do Deserto
- 1981 - O Centro na Distância
- 1982 - O Incerto Exacto
- 1983 - Quando o Inexorável
- 1983 - Gravitações
- 1984 - Dinâmica Subtil
- 1985 - Ficção
- 1985 - Mediadoras
- 1986 - Volante Verde
- 1986 - Vinte Poemas para Albano Martins
- 1986 - Clareiras
- 1987 - No Calcanhar do Vento
- 1988 - O Livro da Ignorância
- 1988 - O Deus Nu(lo)
- 1989 - Três Lições Materiais
- 1989 - Acordes
- 1989 - Duas Águas, Um Rio (colaboração com Casimiro de Brito)
- 1990 - O Não e o Sim
- 1990 - Facilidade do Ar
- 1990 - Estrias
- 1991 - A Rosa Esquerda
- 1991 - Oásis Branco
- 1992 - Pólen- Silêncio
- 1992 - As Armas Imprecisas
- 1992 - Clamores
- 1992 - Dezassete Poemas
- 1993 - Lâmpadas Com Alguns Insectos
- 1994 - O Teu Rosto
- 1994 - O Navio da Matéria
- 1995 - Três
- 1996 - Delta
- 1996 - Figuras Solares
- 1997 - Nomes de Ninguém
- 1997 - À mesa do vento seguido de As espirais de Dioniso
- 1997 - Versões/Inversões
- 1998 - A imagem e o desejo
- 1998 - A imobilidade fulminante
- 1999 - Pátria soberana seguido de Nova ficção
- 2000 - O princípio da água
- 2001 - As palavras
- 2001 - Deambulações oblíquas
- 2001 - O deus da incerta ignorância seguido de Incertezas ou evidências
- 2001 - O aprendiz secreto
- 2002 - Os volúveis diademas
- 2002 - O alvor do mundo. Diálogo poético, em col.
- 2002 - Cada árvore é um ser para ser em nós
- 2002 - O sol é todo o espaço
- 2003 - Os animais do sol e da sombra seguido de O corpo inicial
- 2003 - Meditações metapoéticas, em col. c/ Robert Bréchon
- 2003 - O que não pode ser dito
- 2004 - Relâmpago do nada
- 2005 - Génese seguido de Constelações
- 2007 - Horizonte a Ocidente
- 2007 - Rosa Intacta
- 2011 - Prosas seguidas de diálogos (única obra em prosa)
Em Espanhol -La herida intacta / A intacta ferida. Ediciones
Sequitur, Madrid, 2009
Revistas em que colaborou
- 1952 -1954 - Árvore
- 1956 - Cassiopeia4
- 1958 -1960 - Cadernos do Meio-dia
- 1964 - Poesia Experimental, Cadernos de Hoje (Ver: Poesia Experimental Portuguesa)
- Esprit
- Europa Letteraria
- Colóquio-Letras
- Ler
- O Tempo e o Modo
- Raiz & Utopia
- Seara Nova
- Silex
- Revista Vértice
- A Capital
- Artes & Letras
- Comércio do Porto
- Diário de Lisboa
- Diário de Notícias
- Diário Popular
- O Tempo
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre
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