quinta-feira, 21 de abril de 2016

O SUBVERSIVO - A conspiração




O SUBVERSIVO

2ª PARTE


Uma tragicomédia em 3 Actos que fala das venturas e desventuras do Carrocismo de antanho, uma obra teatral e só comparada com as representações da Grécia antiga, de natureza orgiástica, equiparada com as atribuídas a Gil Vicente, pai do teatro em Portugal e indiscutivelmente inspirada nos mui célebres escritos de William Shakespeare, o mais influente dramaturgo do mundo

Dada a extensão da peça, equivalente às epopeias clássicas, como a de Xenofonte (A retirada dos dez mil), a de Homero (A Odisseia) e a de Camões (Os Lusíadas), a mesma é apresentada em 3 sessões distintas.

A capacidade desta obra pode também medir-se pelas caracteristicas psicológicas das personagens que se encadeiam num jogo de interesses que nos prende à cena desde as primeiras pancadas de Moliére até ao cair do pano.

PERSONAGENS (por ordem alfabética): 1º Representante do Povo, 2º Representante do Povo, Auxiliar Administrativo, Cérebro Sorridente, Narrador, Pajem, Presidente, Príncipe dos Carroceiros, Príncipe que Gostava do Rei Anterior, Rei, Representante da Nobreza e Representante do Clero.

FIGURANTES (por ordem alfabética): 9 Clientes nas Mesas da Taverna, 1 Criada das Mesas da Taverna, 1 Filha do Rei, 1 Filho do Rei, 2 Representantes da Nobreza, 4 Representantes da República, 2 Representantes do Clero, 25 Representantes do Povo e 1 Taberneiro.

Se quiser acreditar, acredite. Se não quiser, não acredite. Tanto se me dá, como se me deu. Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá sido mera coincidência. Se tiver dúvidas guarde-as para si e seja feliz.


(Imagem do Blogue “NUCEIA”)


TEATRO


O SUBVERSIVO

2º ACTO


(Abre o pano. Cortina negra à boca de cena. Holofote focado sobre o centro do palco onde se encontra o NARRADOR)


NARRADOR – Embora o reino “Fazer Cá Muito Pouco” e a república “Fazer Pouco Agora” não tenham relações diplomáticas lá conseguiram trocar mensagens e acordar uma reunião secreta, em local neutro, algures numa taverna pouco aconselhável a horas pouco normais.

Pelo reino “Fazer Cá Muito Pouco” comparecem o “Príncipe Que Gostava do Rei Anterior”, o tal que foi e é leal às políticas do antecessor do actual rei, e o “Príncipe dos Carroceiros”, o tal que super-entende ao “Real Conselho dos Carroceiros”.

Pela república “Fazer Pouco Agora” estão 4 representantes, mas só um, o “Cérebro Sorridente”, é que fala. Os outros abanam a cabeça de cima para baixo e vice-versa, para dizer sim; da esquerda para direita e vice-versa, para dizer não. E de vez enquanto emitem uns sons ininteligíveis.

Mas, basta de explicações, vamos ouvi-los…


(O NARRADOR retira-se para o lado esquerdo da boca de cena. A cortina negra sobe e luzes e sombras tomam conta do palco. Uma sala de uma taverna da época medieval, um balcão com pipas de vinho, 5 ou 6 mesas de madeira com bancos corridos, alguns homens nas mesas e numa mesa central, frente a frente, encapuçados, olhando desconfiados em redor, estão, à esquerda, os representantes do reino “Fazer Cá Muito Pouco” e à direita os representantes da república “Fazer Pouco Agora”. Ao fundo, nas laterais direita e esquerda, num plano mais elevado, sentados em poltronas, estão respectivamente o rei do “Fazer Cá Muito Pouco” e o presidente do “Fazer Pouco Agora” transmitindo a ideia que o poder está sempre presente, sem o estar.)


PRÍNCIPE QUE GOSTAVA DO REI ANTERIOR (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Ninguém pode saber desta reunião. Não foram seguidos?


(O CÉREBRO SORRIDENTE e os outros 4 do “Fazer Pouco Agora” abanam as cabeças, negando)


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - O nosso rei quer fazer as pazes. Ou uma pausa nas hostilidades. Esta guerra foi provocada por uns homens maus que se infiltraram no nosso reino e que até enganaram o meu rei que os nomeou... (levando as mãos à cabeça) Que horror! Que erro! Que injustiça! Calculem que os nomeou para o “Real Conselho dos Carroceiros”. E para chefes! Mas, não se preocupem. Já conseguimos correr com eles. Obrigámos a que se demitissem. Há um que ainda pertence às cortes... Consta que tem os favores de um grande nobre da corte. Mas, temos esperança que até à Missa do Galo… (Faz um gesto em que passa o dedo indicador da mão direita junto ao pescoço, como que se o cortasse) O único que nos preocupa é o “Subversivo”.


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Esse também nos preocupa. Ao principio subestimá-mo-lo. O “Subversivo” todas as semanas distribui clandestinamente uns panfletos que atentam contra a ordem estabelecida na minha república, perturbam o meu presidente e põem em causa a formatação ideológica da república do “Fazer Pouco Agora”. Pela surra vamos deixando cair aqui e ali umas palavrinhas, mas… os Carroceiros já duvidam dos nossos bons propósitos.


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Pois os nossos serviços secretos, à falta de melhor, também atacam o carácter do “Subversivo”. Os nossos Serviços Secretos fazem constar que as intenções malévolas do “Subversivo” passam pela destituição do rei, tomada do poder através do engano e consequente desterro de toda a corte. Nem o pobre do “perfeito do Palácio” escaparia. Alguns acreditam… mas são poucos.


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Já pensaram numa “solução final”, por razões de estado, para esse malévolo “Subversivo”?


PRÍNCIPE QUE GOSTAVA DO REI ANTERIOR (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Calma! O perigo ainda não é preocupante para medidas tão drásticas. Temos esperança que a contra informação seja suficiente para virar os Carroceiros contra o “Subversivo”.


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - De qualquer maneira tomem cuidado. (e num aparte para o público) Se o “Subversivo” ocupasse o trono seria o nosso fim. Os Carroceiros passariam a ter direitos iguais, deixariam de ser discriminados e a nossa república extinguia-se por desnecessária.


PRÍNCIPE QUE GOSTAVA DO REI ANTERIOR (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Bem, vamos ao que interessa. Uma das nossas proposta pode passar pelo seguinte: Vocês saem dessa organização internacional em que estão, a “Faz Isso Com Maluquice”, alteram a vossa Constituição e passam a ser uma república autónoma do reino “Fazer Cá Muito Pouco”. Então? Concordam?


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Não pode ser. Se sairmos da organização internacional “Faz Isso Com Maluquice” há a hipótese de um pequeno país, um paraíso fiscal, recém criado, ir ocupar o nosso lugar. Temos um prestigio a manter. Não podemos aceitar nesses precisos termos. Não é ainda um não. Vamos primeiro aconselhar-nos com o “Homem do Avental”.

E… o que ganhamos nós com isso? Retiram as petições que fizeram ao “Senhor da Justiça”?


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Isso não podemos. Há alguns nobres que têm um poder muito grande… Até nosso rei queria mandar regressar a embaixada enviada ao “Senhor da Justiça”, mas não tem poder para isso. Há um nobre muito importante na corte...


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Tive uma ideia! A república “Fazer Pouco Agora” alterava a constituição e permitia que os nossos Carroceiros pudessem aderir, como residentes, ao reino “Fazer Cá Muito Pouco” com todos os benefícios inerentes, incluindo o “Livre Trânsito”, nacional e internacional, para poderem entrar nas estalagens e cocheiras.


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Uma boa proposta. Implicitamente estamos a reconhecer a vossa existência embora com interesses diferentes dos nossos. E vocês e nós deixamos cair aquela palermice que o “Real Antecessor”, o rei deposto, assinou sobre a não discriminação das carroças…


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Boa! (todos os representantes do “Fazer Pouco Agora” batem palmas) E podemos fazer a “Lei do Carrocismo” a promulgar nos nossos dois países?


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Uma “Lei do Carrocismo”?… Ora aí está algo de positivo. Vamos beber a isso (e enquanto bebem, vira-se para o público e pensa em voz alta) Com as coisas como estão, uma “Lei do Carrocismo” só estará pronta daqui a uns 50 anos. Entretanto muita água passará debaixo das pontes. Mesmo que assim não seja os donos das estalagens e das cocheiras irão intervir e a lei acabará por só permitir o estacionamento diurno das carroças ou algo parecido. Ora aqui está um acordo que nos serve… Que serve os interesses dos donos das estalagens e das cocheiras… E que os Carroceiros ficarão convencidos que vai servir os interesses deles.


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Então estamos de acordo? Podemos começar a trabalhar nisto logo que as petições ao “Senhor da Justiça” sejam retiradas ou arquivadas...


PRÍNCIPE QUE GOSTAVA DO REI ANTERIOR (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - (Interrompendo o “Cérebro Sorridente”) Esta é uma primeira abordagem. Temos de ouvir a decisão do nosso rei e depois voltarmos a reunir para limar algumas arestas ou decidir outra coisa.


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Mas, atenção!, esta reunião é secreta. Se isto se souber o nosso rei pode vir a ser deposto.


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - E qual é a posição do “Real Conselho dos Carroceiros”?


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - A opinião de quem?


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - Do “Real Conselho dos Carroceiros”?


PRÍNCIPE DOS CARROCEIROS (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Ah!… desses! (encolhendo os ombros). Depois dizemos-lhes. Os que protestavam já foram corridos.


PRÍNCIPE QUE GOSTAVA DO REI ANTERIOR (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Bem, vamos então beber ao inicio de uma boa amizade, cooperação e defesa dos nossos interesses.


CÉREBRO SORRIDENTE (do “Fazer Pouco Agora”) - E dos interesses dos Carroceiros?! É por eles e para eles que trabalhamos.


PRÍNCIPE QUE GOSTAVA DO REI ANTERIOR (do “Fazer Cá Muito Pouco”) - Claro! Mas, claro!… Dos interesses dos Carroceiros, dos donos das estalagens, dos donos das cocheiras, do nosso rei, do vosso presidente, dos amigos, de todos. É para eles que trabalhamos! Bebemos à saúde de todos e aos nossos interesses que são os deles.


(Musica de fundo, em ascensão, enquanto um a um, os conspiradores saem pela direita alta, e o pano desce.)


FIM DO 2º ACTO


O 3º Acto de “O SUBVERSIVO”, tragicomédia em 3 actos, será apresentado nesta mesma sala na próxima Quinta-feira, dia 28 de Abril de 2016. Esperamos por si.

O 1º Acto de “O SUBVERSIVO”, tragicomédia em 3 actos, ainda pode visto AQUI



(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) - AQUI)



Sem comentários:

Enviar um comentário