O
SUBVERSIVO
1ª
PARTE
Uma
tragicomédia em 3 Actos que fala das venturas e desventuras do
Carrocismo de antanho, uma obra teatral e só comparada com as
representações da Grécia antiga, de natureza orgiástica,
equiparada com as atribuídas a Gil Vicente, pai do teatro em
Portugal e indiscutivelmente inspirada nos mui célebres escritos de
William Shakespeare, o mais influente dramaturgo do mundo
Dada
a extensão da peça, equivalente às epopeias clássicas, como a de
Xenofonte (A retirada dos dez mil), a de Homero (A Odisseia) e a de
Camões (Os Lusíadas), a mesma é apresentada em 3 sessões
distintas.
A
capacidade desta obra pode também medir-se pelas caracteristicas
psicológicas das personagens que se encadeiam num jogo de interesses
que nos prende à cena desde as primeiras pancadas de Moliére até
ao cair do pano.
PERSONAGENS
(por ordem alfabética): 1º Representante do Povo, 2º Representante
do Povo, Auxiliar Administrativo, Cérebro Sorridente, Narrador,
Pajem, Presidente, Príncipe dos Carroceiros, Príncipe que Gostava
do Rei Anterior, Rei, Representante da Nobreza e Representante do
Clero.
FIGURANTES
(por ordem alfabética):
9
Clientes nas Mesas da Taverna, 1 Criada das Mesas da Taverna, 1 Filha
do Rei, 1 Filho do Rei, 2 Representantes da Nobreza, 4 Representantes
da República, 2 Representantes do Clero, 25 Representantes do Povo e
1 Taberneiro.
Se
quiser acreditar, acredite. Se não quiser, não acredite. Tanto se
me dá, como se me deu. Esta é uma obra de ficção, qualquer
semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real
terá sido mera coincidência. Se tiver dúvidas guarde-as para si e
seja feliz.
(Imagem
do Blogue “Artecuero”)
TEATRO
O
SUBVERSIVO
1º
ACTO
(Abre
o pano. Cortina negra à boca de cena. Holofote focado sobre o centro
do palco onde se encontra o NARRADOR)
NARRADOR
– No “Fazer Cá Muito Pouco”,
pequeno país situado lá para os confins do mundo, estavam reunidos
os representantes do povo, da nobreza e do clero sob o olhar atento
do rei, preocupado com o avanço do “Fazer Pouco Agora”,
país vizinho liderado por um presidente republicano com ideias
conquistadoras.
O
rei do “Fazer Cá Muito Pouco”
já tinha enviado emissários ao “Senhor da Justiça” para que
extinguisse o “Fazer Pouco Agora”,
mas sem qualquer resultado. Voltou, por isso, por exigência de
alguma nobreza, a enviar nova representação ao “Senhor da
Justiça”.
Senhoras
e Senhores, o que ides ver compete-vos, a vós e só a vós, ajuizar.
Será verdade? Será mentira? Será um sonho? Será fruto da
imaginação?...
Mas,
vamos ouvi-los…
(O
NARRADOR retira-se para o lado esquerdo da boca de cena. A cortina
negra sobe e as luzes iluminam todo o palco. Ao centro, ao fundo, de
frente para o público, o rei, sentado no seu trono, tendo aos pés
os 3 filhos e 1 filha; à esquerda, de lado para o público,
sentavam-se por ordem de importância, os 27 representantes do povo;
à direita, também de lado para o público os 3 representantes da
nobreza e os 3 representantes do clero.)
1º
REPRESENTANTE DO POVO
– (De
pé, dirigindo-se ao rei)
– Majestade, sabemos que o Presidente do “Fazer Pouco Agora”
está a difundir ideias divisionistas entre os Carroceiros de Vossa
Majestade e a espalhar a notícia de que a primeira petição do
Vosso “Real Antecessor” ao “Senhor da Justiça” foi arquivada
e que as outras duas que se seguiram também o serão. (Senta-se)
REPRESENTANTE
DA NOBREZA
– (De
pé, dirigindo-se ao rei)
– Majestade, é importante continuarmos neste capítulo a política
do “Real Antecessor” de Vosso Majestade: uma no cravo e outra na
ferradura. Lembro a esta ilustre corte e com todo o respeito a Vossa
Majestade que já são muitos os que neste reino querem o regresso do
anterior rei. Muitos foram os que se opuseram ao desterro do “Real
Antecessor” de Vossa Majestade, um dos quais, perdoe-me Vossa
Majestade tamanho desiderato, o “Príncipe Que Gostava do Rei
Anterior”, que é o augusto filho que Vossa Majestade adoptou.
Perdoe-me Vossa Majestade o meu atrevimento, mas só a lealdade e a
estima que nutro por Vossa Majestade me leva a ousar dizer que
“Príncipe Que Gostava do Rei Anterior” nunca concordou que
Vossa Majestade tenha desterrado o Vosso “Real Antecessor”. Por
isso é do interesse do reino prosseguir com as petições ao “Senhor
da Justiça”...
(O
rei irritado faz um gesto para que se cale; o 1º REPRESENTANTE DA
NOBREZA senta-se; o Príncipe Que Gostava do Rei Anterior, filho
adotivo, mostra-se incomodado)
REI
–
(Sentado)
– O meu “Real Antecessor” estava a levar o reino para a
destruição, por isso, tendo eu sido aconselhado pela nobreza e
pelo clero, mas com o apoio do povo e dos Carroceiros a quem muito
prometi, o destituí. E em boa hora o fiz, porque vim encontrar os
cofres do reino muito depauperados e os funcionários deste reino
muito pouco eficientes. Alegrai-vos, porém, meus bons súbditos. O
meu augusto filho que foi encarregue do tesouro real já me informou
que os cofres começaram a encher. Os funcionários do reino que
quando fui coroado tremiam de medo, logo se submeteram ao saber da
minha real boca que não seriam despedidos. Mas, ai deles se não
obedecerem cegamente às ordens do “Perfeito do Palácio” que
nomeei para os controlar, recompensando-o pela vassalagem
incondicional que me jurou e pelo trabalho meritório que teve na
destituição do meu “Real Antecessor”.
Quero
que fiquem desde já a saber que por mim, Vosso Rei, as petições
que enviei, mal aconselhado, ao “Senhor da Justiça”, já teriam
sido retiradas e a embaixada regressado ao reino.
(Ouvem-se
algumas palmas ténues e o 2º REPRESENTANTE DO POVO levanta-se e
dirige-se ao público)
2º
REPRESENTANTE DO POVO
– Com um rei que não sabe o que quer e sem vontade própria, temos
um reino “sem rei nem roque” (Senta-se)
REPRESENTANTE
DO CLERO - (De
pé, dirigindo-se ao rei) – Majestade,
a paz, a todo o custo, sempre foi a máxima ambição deste Vosso
humilde súbdito. Por isso, sempre aconselhei Vossa Majestade a não
promulgar éditos sobre os locais livres onde as carroças, tipóias,
carruagens e outros veículos pudessem obter apoios. Pois se Vossa
Majestade promulgasse tais éditos iria contra os interesses dos
donos das estalagens e das cocheiras que são o suporte deste reino e
em maior número enchem os cofres do tesouro real.
1º
REPRESENTANTE DO POVO
– (Levanta-se e com voz irada dirige-se
ao rei)
– Majestade, quando fostes coroado rei, em substituição do Vosso
deposto “Real Antecessor”, assumistes o real compromisso de
proteger todos os Vossos súbditos por igual e promulgastes um édito
em que prometestes igual tratamento, justiça e benefícios a todos
os Vossos leais súbditos. Quereis agora, Majestade, dar o dito por
não dito e não cumprirdes o que prometestes? Pode a palavra de rei
voltar atrás?
REPRESENTANTE
DO CLERO - (De
pé, dirigindo-se ao rei e ao público) – Majestade,
pensai nos Vossos cofres e nos donos das estalagens e das cocheiras…
(Senta-se)
1º
REPRESENTANTE DO POVO
– (De
pé, dirigindo-se ao rei) – Majestade,
é por se pensar também nos interesses dos donos das estalagens e
das cocheiras e, muito principalmente, nas estalagens e cocheiras
reais, que um édito indicando os locais livres onde as carroças,
tipóias carruagens e outros veículos pudessem ter apoios se
promoveria de muito a modernização e adaptação às mudanças que
os novos tempos aconselham e são impossíveis de parar e se
justifica que as estalagens e cocheiras providenciem. (Senta-se)
2º
REPRESENTANTE DO POVO
– (levanta-se
e dirige-se ao público)
– Este rei que tem um “Real Conselho dos Carroceiros”, onde tem
assento o “Príncipe dos Carroceiros” e apoiante do Partido Real,
não lhes terá pedido conselho? Ao que parece, não terão sido
instados a pronunciarem-se. Serão conselheiros apenas de nome para
satisfação das suas vaidades? Deles, que se saiba em sua honra,
pelo menos já três se escusaram a continuar num mister que só
gastava numerário ao tesouro real, sem proveito para o reino. Não
eram ouvidos e é do interesse dos negócios deste reino saber-se se
o “Príncipe dos Carroceiros” é entendido neste mister.
(senta-se)
REI
–
(Levanta-se
irritado)
– Que todos me ouçam, porque esta é a minha vontade:
Fui
aconselhado e assim farei, salvo se em contrário a isso as cortes me
obrigarem, a não promulgar nenhum édito indicando os locais livres
onde as carroças, tipóias, carruagens e outros veículos possam ter
apoios.
Irei
nomear dois dos meus reais príncipes para estabelecerem contactos
com a república “Fazer Pouco Agora”.
Nomeio, para tanto, o “Príncipe Que Gostava do Rei Anterior”,
que infelizmente foi leal às políticas do meu “Real Antecessor”,
e também nomeio o “Príncipe dos Carroceiros”, que super-entende
ao “Real Conselho dos Carroceiros”. Nesta real missão que lhes
destino responderão perante mim e só perante mim. O rei falou.
(O
1º e 2º Representantes do Povo fizeram menção de se dirigir ao
rei, mas foram impedidos com um gesto brusco do rei. O rei, seguido
dos 3 filhos e da filha, prepara-se para sair pela direita alta.
Imediatamente antes de sair vira-se para os presentes e…)
REI
–
(De
dedo ameaçador)
- Que tudo o que aqui se disse é segredo de estado. Já outras
cabeças rolaram por menos. (Sai)
(Musica
de fundo, em ascensão enquanto o rei, seguido dos 3 filhos e da
filha, sai pela direita alta, os representantes do povo, do clero e
da nobreza, de pé, fazem uma vénia e o pano desce)
FIM
DO 1º ACTO
O
2º Acto de “O SUBVERSIVO”, tragicomédia em 3 actos, será
apresentado nesta mesma sala na próxima Quinta-feira, dia 21 de
Abril de 2016. Esperamos por si.
(O
autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal,
emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo
(e não só) - AQUI)
Ok, e porque não saímos e fazemos uma Federação do autocaravanismo só nossa?
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