quinta-feira, 17 de maio de 2018

Sou criticado sempre que faço isto



Imagem obtida no espaço virtual de “Pinterest”




SOU CRITICADO SEMPRE QUE FAÇO ISTO


Há uns dias vi no facebook uma foto semelhante à que acima reproduzo e com um comentário que dizia mais ou menos o seguinte: Sou criticado sempre que faço isto.

A imagem e o comentário, que eram apoiados com os “gostos” de umas 3 dezenas de pessoas, pretenderiam passar a mensagem de que acampar no espaço público era um direito e que ninguém deveria ser criticado por isso.

Realmente... quem é que não gosta de parar a autocaravana mum local belo, acolhedor, abrir o toldo, colocar a mesa e as cadeiras no exterior e ir fazendo um belo assado enquanto bebe um moscatel fresquinho? E quem é que já não o fez pelo menos uma vez? (Rima e é verdade).

Imaginemos que todos os 6000 autocaravanistas portugueses e os muitos milhares de autocaravanistas estrangeiros que anualmente nos visitam, acampavam nos espaços públicos. Imaginemos também, como muitos já o fazem, que nos quedavamos no mesmo local durante, uma ou duas semanas. Então, como resolver a questão sanitária em todos os espaços públicos? As ligações a esgotos, os pontos de água, os caixotes de lixo e, obviamente, a manutenção de tudo isto. Imaginam a logistica que seria necessária? Poder-se-à argumentar que os autocaravanistas são pessoas responsáveis, logo guardariam o lixo de duas semanas na autocaravana, despejariam a sanita química em caixas plásticas que guardariam no porão e não se lavariam para não desperdiçarem água e por, obviamente, não terem local para depois a despejarem. Mas, alguém de bom senso acredita que seria assim?!

Já me esquecia!... Há quem argumente que as Áreas de Serviço para Autocaravanas podem resolver todas estas necessidades. Aquelas que os Munícipios implementam e onde, no presente real, não imaginário, as autocaravanas podem ESTACIONAR. Eu disse ESTACIONAR. Não disse ACAMPAR. Acampar nesses equipamentos municipais é uma apropriação indevida de alguns em detrimento de outros. É que não há àreas que cheguem para todos. É por isso, embora não esteja universalmente regulamentado, que em muitas Áreas de Serviço, enquanto equipamentos municipais, é aconselhado não permanecer mais que 72 horas.

Pronto! Já sei que me vão dizer que em muitas Áreas de Serviço é possível acampar. Não conheço nenhuma Área de Serviço, enquanto equipamento municipal, em que seja permitido acampar. E se as houver não estão em conformidade com a legislação existente. O que conheço são Parques de Campismo exclusivos para Autocaravanas, criados ao abrigo de legislação específica, em que, como se faz em qualquer Parque de Campismo, é permitido acampar.

Li, há já uns dias, nas “redes sociais”, que em Porto Covo tinha sido proibida a circulação de veículos autocaravanas em muitos arruamentos e encerrada a Área de Serviço (?) existente. Porque terá sido?!

Há alguns anos os autocaravanistas estacionavam (e a maior parte acampava) junto ao mar, à saída de Porto Covo e nas arribas próximas. Como era resolvida a questão sanitária? Mais uma vez imaginem! As entidades públicas terão então considerado que a situação, que se deteorava progressivamente, se não podia manter. Logo, sem discriminarem negativamente as autocaravanas, proibiram TODOS os veículos com uma altura acima de determinada medida de estacionarem nesses locais. Improvisaram, então, num largo quase no centro da freguesia, num terreno de terra batida, uma Área de Serviço. Um local, como acima referi, que se destinava ao estacionamento de autocaravanas e onde as mesmas se podiam abastecer de água e procederem aos despejos. O que se passou então? Quem, pouco tempo depois por lá passasse, contemplaria um aglomerado de autocaravanas, toldos abertos se possível, fogareiros preparando os assados, mesas e cadeiras no exterior, por vezes alguma música e o mais que a vossa imaginação permita. (Um cenário só de Porto Covo? Não! Também já vi este cenário junto de muitas praias na zona norte do País).

Percebe-se agora porque em Porto Covo surgiram os sinais de trânsito (que não deixam de ser discriminatórios) que proibem a circulação APENAS às autocaravanas. E onde estão os protestos dos autocaravanistas que naquela localidade acampavam? Eu já li o que alguns dizem que vão fazer. Dispôem-se a deixar de ir para Porto Covo (como forma de protesto) e rumar a outro local onde possam (digo eu) fazer o mesmo que fizeram em Porto Covo. E de local em local, alegremente, estes “autocaravanistas” irão criando as situações que suportam a justificação perante a opinião pública das medidas discriminatórias tomadas pelos munícipios.

O lamento (Sou criticado sempre que faço isto) de quem quer fazer campismo no espaço público fez-me sorrir. Afinal não estou só! Para alguém assim se lamentar é porque já devem ser muitos os que condenam socialmente atitudes incorrectas, atitudes que contribuem para prejudicar o Movimento Autocaravanista de Portugal. É imprescidível que muitos, muitos mais, assumam uma cidadania responsavel e façam ouvir a sua voz, criticando atitudes anti-sociais. È absolutamente necessário que as entidades intervenientes no âmbito do autocaravanismo (como as associações de autocaravanistas) se pronunciem e denunciem estas atitudes dos proprietários de autocaravanas tão assertivamente como o fazem (ou devem fazer) relativamente à condenação da discriminação negativa de que ainda continuam a ser vítimas os veículos autocaravanas.

Acima de tudo, mais do que a denúncia, mais do que a critica, é preciso ter uma atitude pedagógica que transforme os proprietários de autocarvanas em autocaravanistas. E, ser autocaravanista, é tão simples. Basta assumir o espirito e a letra da Declaração de Princípios.


(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) – AQUI)




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