NA MÃO DE DEUS
Na mão de Deus, na sua mão
direita,
Descansou
afinal meu coração.
Do palácio
encantado da Ilusão
Desci a passo
e passo a escada estreita.
Como as
flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil,
despojo vão,
Depus do
Ideal e da Paixão
A forma
transitória e imperfeita.
Como criança,
em lôbrega jornada,
Que a mãe
leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas,
mares, areias do deserto...
Dorme o teu
sono, coração liberto,
Dorme na mão
de Deus eternamente!
(Antero de Quental – 1842-1891)
A poesia de Antero de Quental apresenta três faces distintas:
- A das experiências juvenis, em que coexistem diversas tendências;
- A da poesia militante, empenhada em agir como “voz da revolução”;
- E a da poesia de tom metafísico, voltada para a expressão da angustia de quem busca um sentido para a existência.
A oscilação entre uma poesia de combate, dedicada ao elogio
da acção e da capacidade humana, e uma poesia intimista, direcionada para a
análise de uma individualidade angustiada, parece ter sido constante na obra
madura de Antero, abandonando a posição que costumava enxergar uma sequência
cronológica de três fases.
Antero atinge um maior grau de elaboração em seus sonetos,
considerados por muitos críticos uns dos melhores da língua e comparados aos
de Camões e aos de Bocage. Há, na verdade, alguns pontos de
contato estilísticos e temáticos entre esses três poetas: os sonetos de Antero
têm inegável sabor clássico, quer na adjetivação e na musicalidade equilibrada,
quer na análise de questões universais que afligem o homem.
Fonte: Wikipédia
– A enciclopédia livre
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