COISAS DO… ZECA
Cantigas de Maio (1971)
“Das duas vezes que foi a Paris gravar comigo, em 1971 («Cantigas do Maio») e 1973 («Venham mais cinco»), nunca ele escondeu quanto lhe desagradava e o indispunha a necessidade de ficar fechado no estúdio durante horas, e quanto ele não gostava nada de Paris nem do ambiente dos portugueses de Paris - hoje entendo como tinha razão.“
(...)
“O regime de gravações - tardes e noites - fez que, nesse principio de tarde, fosse a altura de gravar o «Cantar Alentejano», “Vamos a isto, Zeca?”, ia eu dizendo, naturalmente preocupado com a factura do estúdio. “Não tens nada para ir metendo?”, desconversava ele. Via-se que não estava pronto. “Queres ir metendo outras coisas? Faltam vozes no «Milho Verde» e no «Senhor Arcanjo»... E assim ia passando a tarde. “Está bem, vamos metendo outras vozes”. Mas não se conseguia grande coisa. A alma dele - percebi depois - estava toda no Alentejo, nos olhos de Catarina Eufémia. E, como tantas vezes acontecia, andava no estúdio para cá e para lá, em passos nervosos, como o jovem leão na sua jaula. Até que, já pela tardinha: “Eu vou até lá fora, olhar para as vacas” - o estúdio era numa quinta apalaçada, no meio dos campos. Desapareceu, uma hora ou duas. Quando voltou já era quase noite. “Vamos gravar a Catarina”. O Bóris meteu-se na pequena cabina, para o som da viola ficar isolado da voz. O Zeca, no meio do estúdio, sozinho e às escuras, cantou. Uma só vez. É essa que está no disco. Nós, os outros, os privilegiados espectadores, estávamos na central técnica, quase todos a chorar incluindo o técnico francês. “Acham que é melhor eu cantar isto outra vez?” “Não, Zeca, não. Está muito bem assim...” “
José Mário Branco
COMPOSITOR E MÚSICO
FONTE: Associação José Afonso (Ver AQUI)
Cantar Alentejano
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