quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O TER e o SER




O TER e o SER


Se meus inimigos pararem de dizer mentiras a meu respeito,
 eu paro de dizer verdades a respeito deles.
(Adlai Stevenson)




Tenho vindo neste espaço (Papa Léguas Portugal), a “RECORDAR…” e a transcrever alguns escritos antigos que assinalam um período importante (pelo menos para mim) dos meus pensamentos e forma de estar na vida.

No passado dia 5 de Agosto recordei o que em 6 de Maio de 2012 escrevi acerca de um Protocolo acordado entre a “Associação Autocaravanista de Portugal – CPA” e o “Clube de Campismo de Lisboa” (ver AQUI) manifestando a minha concordância através do título do texto: “CPA e CCL no bom caminho”.

Como já vem sendo hábito alguns intervenientes virtuais procuram de qualquer forma denegrir a imagem e as acções do CPA e, muitas vezes o caracter do autor deste texto. E o pretexto surgiu com a divulgação do Protocolo assinado entre o CPA e o CCL. E a sanha persecutória é tanta que fazem afirmações (ou levantam questões) que demonstram que não leram minimamente o Protocolo.

Não me disporia a pronunciar-me neste artigo de opinião sobre o assunto não fosse alguns outros Companheiros Autocaravanistas virem dar o apoio a quem se exprime sem conhecimentos, reflexões sobre a matéria e, como atrás disse, sem terem lido o Protocolo ou, pior ainda, sem interpretarem o que leram, numa indiscutível demonstração de iliteracia. É essencialmente devido a esses Companheiros Autocaravanistas (e a todos os Companheiros de boa-vontade) que decidi escrever sobre este assunto.

Principiaram esses detratores do CPA e do autor deste texto por elogiar (?) o CCL, denegrindo o CPA (avançando inclusive com a ideia falsa de que sócios fundadores abandonam a associação) e considerando que o CPA não tem nada a dar ao CCL, logo, segundo os mesmos, o Protocolo prejudicou o CCL. E, corroborando de certa forma estas afirmações, perguntam, candidamente, se o Protocolo permite a permuta de direitos e de deveres, o que demonstra uma vez mais que ou não leram o Protocolo ou são… (?).


O TER E O SER

Charles Chaplin disse que “Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais” e, entendo eu, este mesmo conceito pode ser alargado e abranger também as instituições.

No entanto verifica-se que ao nível de muitos que se assumem como defendendo os ideais campistas é o TER que mais relevância tem.

Os amigos do TER equacionam os bens em detrimento dos valores, ou seja dão preferência quase absoluta ao TER comparativamente ao SER.

Mas, o mais deprimente é quando se coloca exclusivamente a filosofia do TER sobre quaisquer outras razões, como, por exemplo, a solidariedade ou mesmo as obrigações sociais que muitas instituições dizem perfilhar, mas que na prática, não cumprem.

Mais triste ainda é constatar que muitos estão formatados por ideias neoliberais, que apenas analisam os números, não tendo o discernimento de ver para além deles.


QUEM DÚVIDA QUE O CCL É UMA GRANDE ASSOCIAÇÃO?

É inegável que o Clube de Campismo de Lisboa (CCL) é “um dos maiores (senão o maior) Clube essencialmente vocacionado para o campismo“ e que “a elevada diferença do número de sócios entre estas duas associações não constituiu um óbice ao acordo firmado” como afirmei no texto intitulado “CPA e CCL no bom caminho” (ver AQUI). Tal afirmação deveria ser o suficiente para que os apoiantes do TER reconhecessem a mais-valia moral do CCL. Infelizmente, não. Mas, felizmente, os dirigentes do CCL, entre os quais ainda se conta o presidente do Conselho Diretivo, são homens de visão, que vai para além dos números, e interiorizam que o ideal de companheirismo tem que ter uma expressão prática e que não corresponda unicamente a palavras de circunstância.

E foi o caminho do SER, em detrimento do TER, que prevaleceu e que, mais do que as dimensões físicas e patrimoniais do CCL, são as dimensões morais consubstanciadas em valores (que o CCL pratica, como é o caso em apreço) que lhe dão uma grandeza e mérito incontestáveis.


O PROTOCOLO ENTRE O CPA E O CCL NÃO É CLANDESTINO

Mas, terá este protocolo entre o CPA e o CCL sido feito na clandestinidade? Assinado nalgum vão de escada?

A assinatura do Protocolo foi anunciada publicamente com uns 15 dias de antecedência e concretizada no dia 5 de Maio, por ocasião do Acampamento 2012 (comemorativo dos 71 anos do CCL) que teve lugar em Mora. E assim aconteceu perante o olhar e aplauso de algumas centenas de pessoas. Possivelmente com os aplausos dos detractores do CPA caso tenham estado presentes.

Mas os apoiantes do TER e, consequentemente das políticas neoliberais, não quiseram ficar por aqui e, numa demonstração clara que não sabem “ler” o que está escrito, designadamente no Protocolo, acusam também, embora sub-repticiamente, os dirigentes do CCL de não terem acautelado devidamente os interesses dos respetivos associados ao concederem a terceiros mais privilégios do que os que têm associados do CCL, o que é falso.

Comportaram-se como pessoas que agem preconceituosamente, sem um espirito aberto e sem qualquer tipo de análise minimamente correta. Os ideais do Companheirismo, da procura da verdade, do benefício da dúvida, desparecem perante uma necessidade de destruir a qualquer custo quem não perfilhe das mesmas ideias neoliberais, da mesma filosofia do TER.


PROTOCOLO COM DIREITOS E OBRIGAÇÕES

Numa leitura, mesmo que superficial, do artigo de opinião “CPA e CCL no bom caminho”, escrito em 6 de Maio de 2012, poderiam (qualquer pessoa pode) constatar que no Protocolo, na Clausula 2ª, está exarado que “CADA UM DOS OUTORGANTES CONCEDE AOS ASSOCIADOS DO OUTRO OUTORGANTE, portadores de cartão de associado devidamente atualizado, pela utilização dos meios de lazer ou outros de que disponha para utilização dos respetivos associados, bem como para a inscrição e participação NOS EVENTOS QUE REALIZE, OS MESMOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES ESTABELECIDOS PARA OS SEUS PRÓPRIOS ASSOCIADOS.” (sublinhado meu)

Porque os apoiantes do TER podem não entender, permito-me “traduzir”, embora de forma redutora, para que fique mais acessível: Os sócios do CPA só podem, por exemplo, acampar num Parque de Campismo do CCL, com os mesmos direitos dos sócios do CCL se cumprirem as mesmas obrigações. Se uma das obrigações for ter Licença Desportiva da FCMP (vulgo carta Campista), então os sócios do CPA têm que ter Licença Desportiva.

Caso ainda não tenham compreendido, depois de todas estas explicações, o que está escrito no artigo de opinião e no próprio Protocolo, tenho muita pena, porque não entendo que haja, infelizmente, quem possa ter alguma dificuldade em assumir os ideais de solidariedade se não compreender determinadas ações.

E assumir os ideais de solidariedade não tem significado para os amigos do TER. Enfim, formas de estar na vida!


"O QUE TEM O CPA PARA DAR"? (questionam os “amigos” do CPA)

Seria tão fácil responder no registo do “TER”! Mas, isso seria “jogar” no campo do neoliberalismo.

Toda a argumentação do TER se baseia, como é notório, numa filosofia mercantilista.

Efetivamente na sociedade atual existe uma formatação intelectual em que o TER é a filosofia predominantemente seguida por muito boa gente. São pessoas que não têm a necessária abertura a outras ideias e que são egoístas. A relação com a sociedade é um contrato comercial: deve e haver, débito e crédito, dá isto se em troca me deres aquilo.

Para os seguidores do TER tudo tem um preço, tudo tem um retorno. Este é o mundo em que eles querem viver… até que um dia a realidade os faz sentir injustiçados e lhes faz compreender. Mas, então, já é tarde.

O sonho, aquele sonho de que fala António Gedeão, é pelos seguidores do TER apenas compreendido como uma figura poética.


UM CAMPISTA DE TENDA PODE PARTICIPAR NUM ENCONTRO DO CPA?

Princípio por chamar a atenção para a demagogia desta pergunta feita por um perseguidor feroz do CPA, que faz perguntas pouco inteligentes.

O CPA é uma associação de autocaravanistas (façam os sócios do CPA campismo em autocaravana ou não) logo é pressuposto que apenas os autocaravanistas (campistas ou não) podem participar nos Encontros promovidos pelo CPA se o fizerem, logicamente, em autocaravana.

Esta é a filosofia (e bem) defendida e implementada pelo CPA desde 2010, contudo foi aberta uma excepção relativa a todos os sócios do CPA inscritos anteriormente a essa data, por razões tão óbvias que me dispenso de o explicar.

Não é entendível que qualquer associação com a denominação de Autocaravanista aceite no respectivo seio a utilização de tendas ou caravanas, pois que nesse caso teria uma denominação social enganosa. Uma associação cuja denominação contenha exclusivamente a palavra Autocaravanista não pode aceitar a utilização de tendas ou caravanas. Se o quiser fazer, para ser coerente, para não enganar ninguém, deve alterar a respectiva denominação.

Há também que relembrar que a maioria esmagadora dos Encontros promovidos pelo CPA se realizam na via pública ou em Áreas de Serviço para Autocaravanas. Seria irrealista que um campista de tenda fosse, por exemplo, colocar a tenda na Praça do Comércio, em Lisboa, onde até já se realizou um Encontro do CPA. É também por essa razão que nos Encontros promovidos pelo CPA, na via pública ou em Áreas de Serviço para Autocaravanas, não é permito acampar.

Por último, para que fique tudo dito, os autocaravanistas também podem ser campistas, utilizando as respectivas autocaravanas, mas para isso devem recorrer a Parques de Campismo ou locais onde seja previamente autorizado acampar.

E para quem não saiba o que é acampar em Autocaravana aconselho a leitura da Declaração de Princípios subscrita pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal e (com adaptações) pela Federação Internacional de Campismo, Caravanismo e Autocaravanismo. (ver AQUI).


E AGORA O QUE SE SEGUE?

Perante um artigo (“CPA e CCL no bom caminho”) que elogia o CCL na sua dimensão moral e solidária que fizeram os apoiantes do TER? Procuraram desesperadamente todas as formas de denegrir o artigo indo ao ponto de não o sabendo “ler”, nem ao Protocolo, inventarem problemas onde eles não existem.

Não me admiro, pois, que depois destas explicações, que retiram qualquer substância às afirmações dos apoiantes do TER, para os quais os ideais de solidariedade não passam de verborreia, sejam apresentados novos “factos” ou juízos de valor não fundamentados.

Aguardemos.

(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o autocaravanismo (e não só) –  AQUI)

1 comentário:

  1. Como sempre, resta-me aplaudir a forma precisa e concisa com que este Companheiro exprime os seus pontos de vista, partilhados por muitas dezenas de Companheiros Autocaravanistas, e coloca "a nu" as questões com que alguns tentam denegrir a Luta pelo Ãutocaravanismo Itinerante, na vertente Legal, como que querendo subverter o sentido das palavras e até das Leis.

    Partilho em absoluto a ideia e o princípio aqui explanado e aqui defendido.

    A Luta é certamente muito longa, mas estou confiante de que será consagrada com a vitória, a vitória do Autocaravanismo Itinerante, em detrimento do Autocampismo tão defendido por certas estruturas, e até empresas do ramo, e até por gente que deveria, fruto da sua formação académica, ter uma visão mais assertiva da questão Autocaravanismo Itinerante. Infelizmente, formação académica nem sempre significa boa Educação. Essa não se ensina nas Escolas!

    Um abraço e até sempre,

    José Gonçalves

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