O CPA NUM CAMINHO SEM
RETORNO
Uma Reunião de Presidentes de associações é, para qualquer
entidade, um acontecimento importante que dignifica quem a promove. É o caso da
Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP) que no passado dia 13 de
Setembro promoveu na respectiva sede um encontro de trabalho dos presidentes
das associações federadas.
Algumas (poucas) dezenas de homens e mulheres em
representação de associações filiadas na FCMP disponibilizaram um dia para comparecerem
numa reunião o que, nos tempos que correm, esta entrega à causa associativa,
gratuitamente, tem que ser realçada e agradecida. Infelizmente muitos dos
sócios destas associações não reconhecem esta desinteressada entrega.
Tinha esta Reunião de Presidentes como objetivo primeiro
analisar a Proposta de Alteração de Estatutos que um Grupo de Trabalho da FCMP
elaborou para ser apresentado pela Direção da federação numa Assembleia Geral
que se irá realizar no próximo dia 4 de Outubro. A Proposta de Alteração de
Estatutos tem caracter obrigatório pois destina-se a adaptar os Estatutos
actuais às alterações ao Regime
Jurídico das Federações Desportivas introduzidas pelo Decreto-Lei 93/2014 de 23
de junho.
A Direcção da
Associação Autocaravanista de Portugal – CPA não deixou de se fazer representar
e tendo constatado que a proposta de alteração do artigo 3º, que estabelece os fins
da FCMP e continuava a definir o autocaravanismo como APENAS uma disciplina do
campismo, propôs uma alteração a esse artigo.
É do conhecimento público que o CPA considera que é na
Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal que a defesa dos interesses e
direitos dos autocaravanistas se podem e devem defender e, por isso mesmo, quer
que a FCMP seja uma federação forte e moderna, pelo que, desde a primeira hora
apoiou as mudanças que se impunham para alcançar esse objetivo, não só
colaborando na eleição dos responsáveis (a todos os níveis) como incentivando à
implementação do Programa de Candidatura então divulgado.
Não se suponha, contudo, que o apoio do CPA é cego. É um
apoio com os pés bem assentes na terra e crítico, porque também só com
críticas, construtivas, é possível que as instituições se renovem e dinamizem.
Supomos que todos reconhecem que a actual Federação não é a
mesma que foi criada há uns 70 anos, como também não se pode desconhecer que as
associadas que integram a Federação não são as mesmas que eram num passado um
pouco longinco. Cresceram, desenvolveram-se, mudaram. Se assim não fosse não
seriam o que são hoje.
É pois necessário que a Federação continue a crescer e a
desenvolver-se para o que é imprescindível que se adapte às exigências do
presente sem abdicar nem se envergonhar dos valores com que cresceu.
A evolução tecnológica e um então maior poder de compra dos
cidadãos veio permitir que o material usado no campismo seja cada vez mais eficiente
e contribua para um maior conforto dos campistas. Estão nesse âmbito, porque
também podem ser considerados material campista, as caravanas e as
autocaravanas.
Há, no entanto, que afirmar que o conceito que é
subentendido nos Estatutos da Federação, ou seja, que a autocaravana é APENAS
mais um material exclusivamente campista, é altamente redutor e não corresponde
à verdade. Como é evidente o veículo autocaravana é mais do que isso (mais do
que um material exclusivamente campista) e, desde há já alguns anos existe, no
espirito de muitos e muitos autocaravanistas, o sentimento de que o
autocaravanismo tem direito à autonomia e a ser, consequentemente, mais do que
uma disciplina do campismo.
Esta convicção de que o autocaravanismo é mais do que uma
disciplina do campismo está já tão enraizada nos espíritos de muitos e muitos
autocaravanistas, que a FICC alterou, recentemente, a respectiva denominação
para Fédération Internationale de Camping,
Caravaning et Autocaravaning (FICC) porque, ao que tudo leva a supor, quis
passar a mensagem de que compreendia, TAMBÉM, o novo conceito de
autocaravanismo. E, mais do que isso. Não quis deixar no âmbito de outras
federações, que se reivindicam APENAS autocaravanistas, o monopólio desta
modalidade em franca expansão.
Esse Movimento que acredita que o autocaravanismo é muito
mais do que uma outra face do campismo teve também expressão na nossa vizinha
Espanha quando nasceu, em 9 de Junho de 2007, a Federación Española de
Asociaciones Autocaravanistas~FEAA que se começou por integrar na Federation Internationale
des Clubs de Motorhomes (FICM). No entanto, tal como o CPA em determinado
momento, poderão ter compreendido que a FICM não oferecia garantias de defesa
dos direitos e interesses dos autocaravanistas pelo que terão aceitado o
eventual convite da Fédération Internationale de Camping, Caravaning et
Autocaravaning (FICC) para ser membro desta Federação Internacional onde, como
é sabido, a FCMP está filiada.
Portanto, aqui mesmo ao lado, em Espanha, existe uma
Federação Autocaravanista (com 12 associações inscritas) e que é reconhecida
pela FICC. Porquê? Porque, possivelmente, a Federacion Española de Clubes
Campistas não teve a abertura suficiente para reconhecer e acolher o
autocaravanismo como uma actividade com diversas vertentes, o que pode ter sido
a justificação para a necessidade da criação de uma federação autocaravanista.
Estes dois exemplos, o da FICC (alteração da denominação
social) e o de Espanha (reconhecimento pela FICC de uma federação
autocaravanista num estado onde já existia uma federação campista) devem fazer
pensar os dirigentes e as associadas da FCMP. Prosseguir uma ideologia que até
se quer que continue a ser plenamente refletida nos Estatutos da Federação,
poderá conduzir, a curto prazo, a um ainda maior afastamento dos
autocaravanistas da FCMP que, não obstante puderem querer continuar nesta
federação, não aceitam que o autocaravanismo seja entendido numa única
perspectiva e que seja estatutariamente definido, APENAS, como uma disciplina
do campismo.
Também em Portugal já foi criada uma Federação de
Autocaravanismo (FPA) que não tem a força e o reconhecimento da maioria dos
autocaravanistas. Adquirirem mais força e reconhecimento depende, e muito, das
deliberações que a FCMP vier a tomar na próxima Assembleia Geral relativamente
ao autocaravanismo. Registo, como um dado adquirido, como aliás o demonstra o
exemplo espanhol, que as autonomias são
imparáveis se não forem criadas e aceites condições que correspondam aos
anseios legítimos dos autocaravanistas.
Em abono da verdade há que realçar que os dirigentes da FCMP
a diversos níveis terão compreendido a questão colocada pelo CPA pelo que na
Reunião de Presidentes terão assumido o compromisso de rever o texto inicial da
Proposta para ser votado em Assembleia Geral.
Os dirigentes da
Associação Autocaravanista de Portugal – CPA demonstraram um corajoso respeito
pelos princípios e valores do CPA e do autocaravanismo ao elevaram a fasquia
reivindicativa, exigindo através de uma proposta realista que o autocaravanismo
seja tratado como uma modalidade com mais que uma vertente e não APENAS como
uma disciplina do campismo. Ao fazê-lo os dirigentes do CPA dispõem-se coerente
e corajosamente a correr riscos e, também por isso, JÁ não podem ignorar que
estão a avançar por um caminho sem retorno. É bom que os dirigentes federativos
não ignorem, também eles, esta realidade.
No dia 4 de Outubro, a Assembleia Geral da FCMP convocada
para analisar e votar as alterações Estatutárias, tem nas mãos a história e o
futuro do CPA.
NOTA: Esta
opinião baseia-se essencialmente no teor do Comunicado 2014-003 da Direção da
Associação Autocaravanista de Portugal – CPA datado de 16 de setembro. (ver AQUI)
(O autor, todas as Quintas-feiras, no Blogue do
Papa Léguas Portugal, emite uma opinião sobre assuntos relacionados com o
autocaravanismo (e não só) – AQUI)
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