Campino do Ribatejo
Campino
do Ribatejo!
Figura que nasce e morre
Nos campos da beira-mar!
Tão portuguesa e tão bela
Na sua simplicidade
Que até na sua pobreza
Nunca sabe mendigar!
Entre cavalos e toiros
Na lezíria enssoalhada
A sua figura esbelta
Tem um encanto infinito:
Barrete verde; o colete
Encarnado sobre a neve
Da camisa de algodão;
Jaleca bem recortada,
Meia branca, os albardões,
As esporas, o calção
Azul cobalto justinho
E a cinta escarlate quente
Da cor do sangue ou do vinho.
Além, naquele valado,
As papoilas e o junquilho
Fazem trofeu, há mais luz!
Um harmónio no fadango
Vibra e salta no compasso
Magoadamente agitado!
Anda no ar o farrapo
Dolente de uma cantiga
Mordida pelo ciúme!
E o fandango vai dançado!
Ninguém se mexe. Só ele,
Bamboleado, rirail
Desempenado, perfeito,
- E as pernas? Como ele as dobra?
E aquela curva do peito?
Trás um cravo na orelha,
E dança, dança, - o harmónio
Vai-lhe graduando o alento,
A luz perturba, - mulheres
Ficaram mudas a olhá-lo!
A garotada assobia
Acentuando o motivo
Musical, mas, a preceito;
E o Sol, apesar do dia
Nascer fosco e marralheiro,
Parece lume! - O fandango
Com a graça de um campino
É Portugal verdadeiro!
Figura que nasce e morre
Nos campos da beira-mar!
Tão portuguesa e tão bela
Na sua simplicidade
Que até na sua pobreza
Nunca sabe mendigar!
Entre cavalos e toiros
Na lezíria enssoalhada
A sua figura esbelta
Tem um encanto infinito:
Barrete verde; o colete
Encarnado sobre a neve
Da camisa de algodão;
Jaleca bem recortada,
Meia branca, os albardões,
As esporas, o calção
Azul cobalto justinho
E a cinta escarlate quente
Da cor do sangue ou do vinho.
Além, naquele valado,
As papoilas e o junquilho
Fazem trofeu, há mais luz!
Um harmónio no fadango
Vibra e salta no compasso
Magoadamente agitado!
Anda no ar o farrapo
Dolente de uma cantiga
Mordida pelo ciúme!
E o fandango vai dançado!
Ninguém se mexe. Só ele,
Bamboleado, rirail
Desempenado, perfeito,
- E as pernas? Como ele as dobra?
E aquela curva do peito?
Trás um cravo na orelha,
E dança, dança, - o harmónio
Vai-lhe graduando o alento,
A luz perturba, - mulheres
Ficaram mudas a olhá-lo!
A garotada assobia
Acentuando o motivo
Musical, mas, a preceito;
E o Sol, apesar do dia
Nascer fosco e marralheiro,
Parece lume! - O fandango
Com a graça de um campino
É Portugal verdadeiro!
António Botto nasceu em Concavada,
freguesia do concelho de Abrantes, Portugal, às
8h00, filho de Maria Pires Agudo e de Francisco Thomaz Botto. O seu pai
trabalhava como "marítimo" no rio Tejo. Em 1908 a sua família
mudou-se para o bairro de Alfama em Lisboa, onde
cresceu no ambiente popular e típico desse bairro, que muito influenciou a sua
obra. Recebeu pouca educação formal e trabalhou em livrarias, onde
travou conhecimento com muitas das personalidades literárias da época, e
foi funcionário público. Em 1924 - 25 trabalhou
em Santo António do Zaire e Luanda, na então
colónia de Angola.
António Botto tinha uma forte personalidade. Descrevem-no
como magro, de estatura média, um dandy, de
rosto oval, a boca muito pequena de lábios finos, os olhos amendoados,
estranhos, inquisitivos e irónicos (de onde por vezes irrompia uma expressão
perturbadoramente maliciosa) frequentemente ocultados sob um chapéu de
abas largas.
Tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e
língua perversos e irreverentes, e era um conversador brilhante e inteligente.
Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava
com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer.
Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos. Alguns dos seus contemporâneos
consideravam-no frívolo, mercurial, mundano, inculto, vingativo, mitómano,
maldizente e, sobretudo, terrivelmente narcisista a ponto de ser megalómano.
Era visitante regular dos bairros boémios de Lisboa e das
docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema
da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual,
António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues
("O casamento convém a todo homem belo e decadente", como escreveu).
A tempestade desencadeada por Canções e
por "Sodoma Divinizada", bem
como por outras obras e artigos que apareciam nas livrarias e jornais da época
de que importa destacar "Decadência" de Judite
Teixeira, foi tremenda, e a Federação Académica de Lisboa, tendo como
porta-voz Pedro Teotónio Pereira, denuncia no jornal
"A Época", em fevereiro de 1923,
a "vergonhosíssima desmoralização, que sob os mais repugnantes
aspectos, alastra constantemente".
A Federação Académica de Lisboa estaria com grande
probabilidade apenas a servir de face pública das vontades do poder instituído
da época porque pouco depois, em Março, é ordenada pelo Governo
Civil de Lisboa a apreensão dos já mencionados livros de Botto, Raul Leal e Judite
Teixeira.
Fernando Pessoa e Álvaro de Campos protestam contra o ataque
dos estudantes a Raul Leal: "Ó
meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. (...) Divirtam-se com mulheres, se
gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está
certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto,
calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível". Mas com
pouco efeito. O impulso censório, moralista, obscurantista e homofóbico,
ganha força com o regime do Estado Novo e a revista "Ordem
Nova" declara-se "antimoderna, antiliberal, antidemocrática,
antibolchevista e antiburguesa; contra-revolucionária; reaccionária; católica,
apostólica e romana; monárquica; intolerante e intransigente; insolidária com
escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da
informação". António Botto acaba por se ver forçado a emigrar para o Brasil e Raul Leal será
vitíma de espancamentos e deixará de escrever para jornais durante 23 anos.
Fonte: Wikipédia – A enciclopédia livre
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