segunda-feira, 9 de março de 2015

Poesia de… David Mourão-ferreira



ABANDONO

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.



Uma Explicação: Um preso político devido à luta que trava pela liberdade é aprisionado no Forte de Peniche e afastado à força da pessoa que ama e que através da poesia exprime as saudades que sente e lamenta a solidão do prisioneiro. Este é, embora possa não parecer, uma canção de resistência ao estado novo em que os autores (David Mourão-ferreira e Alain Oulman), através da voz de Amália Rodrigues, conseguem ultrapassar a censura imposta por Salazar.





David de Jesus Mourão-Ferreira  (Lisboa, 24 de fevereiro de 1927 — Lisboa, 16 de junho de 1996) foi um escritor e poeta lisboeta

Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde em 1957 foi professor, tendo-se destacado como um dos grandes poetas contemporâneos do Século XX.

Na sua obra, são famosos alguns dos poemas que compôs para a voz de Amália Rodrigues, como Sombra, Maria Lisboa, Nome de Rua, Fado Peniche e sobretudo Barco Negro, entre outros.

Mourão-Ferreira trabalhou para vários jornais, dos quais se destacam a Seara Nova e o Diário Popular, para além de ter sido um dos fundadores da revista Távola Redonda. Entre 1963 e 1973 foi secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores. No pós-25 de Abril, foi director do jornal A Capital e director-adjunto do O Dia.

No governo, desempenhou o cargo de Secretário de Estado da Cultura (de 1976 a Janeiro de 1978, e em 1979). Foi por ele assinado, em 1977, o despacho que criou a Companhia Nacional de Bailado.

Foi autor de alguns programas de televisão de que se destacam "Imagens da Poesia Europeia", para a RTP.

A 13 de Julho de 1981 foi condecorado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.2 Em 1996, a 3 de Junho, foi elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. No mesmo ano, 1996, recebeu o Prémio de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

Do primeiro casamento, com Maria Eulália, sobrinha de Valentim de Carvalho, teve dois filhos, David João e Adelaide Constança, que lhe deram 11 netos e netas.

Em 2005 é celebrado um protocolo entre a Universidade de Bari e o Instituto Camões, decidindo, como homenagem ao poeta, abrir naquela cidade o Centro Studi Lusofoni - Cátedra David Mourão-Ferreira que, dirigida pela Professora Fernanda Toriello e com a colaboração do professor Rui Costa, tem como objetivo o estudo da obra de David Mourão-Ferreira, assim como a divulgação da língua portuguesa e das culturas lusófonas. Promove também o Prémio Europa David Mourão-Ferreira .

Obras de poesia

  • 1950 - A Viagem
  • 1954 - Tempestade de Verão (Prémio Delfim Guimarães)
  • 1958 - Os Quatro Cantos do Tempo
  • 1962 - In Meae
  • 1962 - ou A Arte de Amar
  • 1966 - Do Tempo ao Coração
  • 1967 - A Arte de Amar (reunião de obras anteriores)
  • 1969 - Lira de Bolso
  • 1971 - Cancioneiro de Natal (Prémio Nacional de Poesia)
  • 1973 - Matura Idade
  • 1974 - Sonetos do Cativo
  • 1976 - As Lições do Fogo
  • 1980 - Obra Poética (inclui À Guitarra e À Viola e Órfico Ofício)
  • 1985 - Os Ramos e os Remos
  • 1988 - Obra Poética, 1948-1988
  • 1994 - Música de Cama (antologia erótica com um livro inédito).
  • 1954 - letra para Amália Rodrigues " Barco Negro"


Obras de ficção narrativa

  • 1959 - Novelas de Gaivotas em Terra (Prémio Ricardo Malheiros)
  • 1968 - Os contos de Os Amantes
  • 1980 - As Quatro Estações (Prémio Associação Internacional dos Críticos Literários)
  • 1986 - Um Amor Feliz (Romance que o consagrou como ficcionista valendo-lhe vários prémios)
  • 1987 - Duas Histórias de Lisboa


Academia Brasileira de Letras

O escritor Mourão-Ferreira foi escolhido para ocupar, na categoria de Sócio Correspondente, a Cadeira número 5, que tem por Patrono Dom Francisco de Sousa. Sua eleição deu-se em 1981, sendo ali o quinto ocupante. Depois da sua morte, esta Cadeira seria ocupada apenas em 1998 pelo moçambicano Mia Couto.
  
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre

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