ABANDONO
Por teu livre
pensamento
Foram-te
longe encerrar
Tão longe que
o meu lamento
Não te
consegue alcançar
E apenas
ouves o vento
E apenas
ouves o mar
Levaram-te a
meio da noite
A treva tudo
cobria
Foi de noite
numa noite
De todas a
mais sombria
Foi de noite,
foi de noite
E nunca mais
se fez dia.
Ai! Dessa
noite o veneno
Persiste em
me envenenar
Oiço apenas o
silêncio
Que ficou em
teu lugar
E ao menos
ouves o vento
E ao menos
ouves o mar.
Uma Explicação: Um preso político devido à luta que trava pela liberdade
é aprisionado no Forte de Peniche e afastado à força da pessoa que ama e que
através da poesia exprime as saudades que sente e lamenta a solidão do
prisioneiro. Este é, embora possa não parecer, uma canção de resistência ao
estado novo em que os autores (David Mourão-ferreira e Alain Oulman), através
da voz de Amália Rodrigues, conseguem ultrapassar a censura imposta por
Salazar.
David de Jesus
Mourão-Ferreira (Lisboa, 24
de fevereiro de 1927 — Lisboa, 16 de junho de 1996) foi um escritor e poeta lisboeta
Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde em 1957 foi professor,
tendo-se destacado como um dos grandes poetas contemporâneos do Século XX.
Na sua obra, são famosos alguns dos poemas que compôs para a
voz de Amália Rodrigues, como Sombra, Maria
Lisboa, Nome de Rua, Fado Peniche e sobretudo Barco Negro,
entre outros.
Mourão-Ferreira trabalhou para vários jornais, dos quais se
destacam a Seara Nova e o Diário Popular, para além de ter sido um
dos fundadores da revista Távola Redonda. Entre 1963 e 1973 foi
secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Autores. No
pós-25 de Abril, foi director do jornal A Capital e
director-adjunto do O Dia.
No governo, desempenhou o cargo de Secretário de
Estado da Cultura (de 1976 a Janeiro de 1978, e em 1979). Foi por ele
assinado, em 1977, o despacho que criou a Companhia Nacional de Bailado.
Foi autor de alguns programas de televisão de
que se destacam "Imagens da Poesia Europeia", para
a RTP.
A 13 de Julho de 1981 foi condecorado com o grau de
Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada.2 Em
1996, a 3 de Junho, foi elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada. No mesmo ano, 1996, recebeu o Prémio de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.
Do primeiro casamento, com Maria Eulália, sobrinha de
Valentim de Carvalho, teve dois filhos, David João e Adelaide Constança, que
lhe deram 11 netos e netas.
Em 2005 é celebrado um protocolo entre a Universidade de
Bari e o Instituto Camões, decidindo, como homenagem ao
poeta, abrir naquela cidade o Centro Studi Lusofoni - Cátedra David
Mourão-Ferreira que, dirigida pela Professora Fernanda Toriello e com a
colaboração do professor Rui Costa, tem como objetivo o estudo da obra de David
Mourão-Ferreira, assim como a divulgação da língua portuguesa e das culturas
lusófonas. Promove também o Prémio Europa David Mourão-Ferreira .
Obras de poesia
- 1950 - A Viagem
- 1954 - Tempestade de Verão (Prémio Delfim Guimarães)
- 1958 - Os Quatro Cantos do Tempo
- 1962 - In Meae
- 1962 - ou A Arte de Amar
- 1966 - Do Tempo ao Coração
- 1967 - A Arte de Amar (reunião de obras anteriores)
- 1969 - Lira de Bolso
- 1971 - Cancioneiro de Natal (Prémio Nacional de Poesia)
- 1973 - Matura Idade
- 1974 - Sonetos do Cativo
- 1976 - As Lições do Fogo
- 1980 - Obra Poética (inclui À Guitarra e À Viola e Órfico Ofício)
- 1985 - Os Ramos e os Remos
- 1988 - Obra Poética, 1948-1988
- 1994 - Música de Cama (antologia erótica com um livro inédito).
- 1954 - letra para Amália Rodrigues " Barco Negro"
Obras de ficção narrativa
- 1959 - Novelas de Gaivotas em Terra (Prémio Ricardo Malheiros)
- 1968 - Os contos de Os Amantes
- 1980 - As Quatro Estações (Prémio Associação Internacional dos Críticos Literários)
- 1986 - Um Amor Feliz (Romance que o consagrou como ficcionista valendo-lhe vários prémios)
- 1987 - Duas Histórias de Lisboa
Academia Brasileira de Letras
O escritor Mourão-Ferreira foi escolhido para ocupar, na
categoria de Sócio Correspondente, a Cadeira número 5, que tem por Patrono Dom Francisco de Sousa. Sua eleição deu-se em
1981, sendo ali o quinto ocupante. Depois da sua morte, esta Cadeira seria
ocupada apenas em 1998 pelo moçambicano Mia Couto.
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre
Sem comentários:
Enviar um comentário