Balada do bom cavaquista
Que eu sempre
fui bom cavaquista
nem é preciso
repeti-lo:
anos depois
já só se avista
tanto
canário, tanto grilo,
tanto
gorjeio, tanto trilo
que de
promessas se guarnece:
um mundo e
outro, isto e aquilo,
e o povo tem
o que merece.
vi engrossar
de boys a lista,
vi saltitar
mais do que esquilo,
de galho em
galho ser artista,
e armar o
estado em crocodilo.
voracidade?
era do estilo.
economia? ai
que arrefece!
vi portugal
vendido ao quilo
e o povo tem
o que merece.
vi muito
pássaro na pista
já de asa
murcha e intranquilo,
já sem alface
nem alpista
e já sem grão
dentro do silo,
secou a teta
e o mamilo,
chegou a
hora, chega o stress.
há vários
anos que eu refilo,
e o povo tem
o que merece.
senhor, na
entrada deste asilo,
mordeu-se a
isca da benesse
e o povo tem
o que merece.
Vasco Navarro da
Graça Moura (Foz do Douro, 3 de
Janeiro de 1942 — Lisboa, 27 de Abril 2014) foi um escritor, tradutor e
político português.
Vasco Graça Moura nasceu a 3 de Janeiro de 1942, na
freguesia de Foz do Douro, no Porto.
Licenciado em Direito,
pela Universidade de Lisboa onde
colaborou na Quadrante (revista da Associação Académica da Faculdade
de Direito de Lisboa iniciada em 1958), foi advogado entre
1966 e 1983. Após o 25 de Abril de 1974, aderiu ao Partido Social
Democrata, sendo chamado a exercer os cargos de Secretário de Estado da
Segurança Social (IV Governo Provisório) e dos Retornados (VI Governo Provisório).
Na década de 80 enveredou
definitivamente pela carreira literária, que o havia de confirmar como um nome
central da literatura portuguesa da segunda metade século XX.
Passou trinta e nove meses na tropa, numa altura em que era
já casado e pai de dois filhos. Divorciou-se da sua primeira mulher, Maria
Fernanda Sá Dantas, no início dos anos 80, e voltou a casar-se mais duas vezes,
primeiro com a ensaísta Clara Crabbé Rocha (filha de Miguel Torga e de Andrée
Crabbé Rocha), em 1985, e depois com Maria do Rosário Sousa Machado, em 1987,
com quem teve mais duas filhas, enternecidamente referidas em vários poemas dos
seus últimos livros. Sua última companheira foi Maria Bochicchio (italiana),
que o acompanhou até a sua morte e com quem publicou O Binómio de Newton
& A Vénus de Milo.
Foi diretor da RTP2 (1978), administrador
da Imprensa Nacional - Casa da Moeda (1979-1989),
presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando
Pessoa(1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995),
diretor da revista Oceanos (1988-1995), diretor da Fundação Casa de Mateus, comissário-geral de
Portugal para a Exposição Universal de Sevilha (1988-1992) e diretor do Serviço
de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian (1996-1999).
Foi deputado ao Parlamento Europeu, integrando o Grupo do Partido Popular Europeu, de 1999 a 2009.
Em janeiro de 2012, Vasco Graça Moura foi nomeado para a
presidência da Fundação Centro Cultural de Belém pela
Secretaria de Estado da Cultura, substituindo António Mega Ferreira.
Graça Moura foi uma das vozes mais críticas do Acordo
Ortográfico, que considerava que apenas "serve interesses geopolíticos e
empresariais brasileiros, em detrimento de interesses inalienáveis dos demais
falantes de português no mundo".
Vasco Graça Moura morreu no dia 27 de Abril de 2014, em
Lisboa, aos 72 anos, vítima de cancro.
No mesmo dia, Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de
Portugal, destacou o percurso político de Graça Moura e a sua atividade como
"divulgador das letras portuguesas", afirmando que o escritor deixou
um "vasto legado literário, marcado pela inspiração e pela dedicação à
língua portuguesa, que enriqueceu como poucos, uma constante procura da
identidade nacional e um clarividente pensamento sobre as raízes, a herança
política e filosófica e o futuro da Europa", concluindo: "Portugal
perdeu hoje um dos seus maiores cidadãos".
Obras publicadas
Poesia
- Modo Mudando (1963);
- Semana Inglesa (1965);
- O Mês de Dezembro e Outros Poemas (1976);
- A Sombra das Figuras (1985);
- Sonetos Familiares (1994);
- Uma Carta no Inverno (1997);
- Testamento de VGM (2001);
- Antologia dos Sessenta Anos (2002);
- Os nossos tristes assuntos (2006)
Ensaio
- Luís de Camões: Alguns Desafios (1980);
- Camões e a Divina Proporção (1985);
- Sobre Camões, Gândavo e Outras Personagens (2000).
Romance
- Quatro Últimas Canções (1987);
- Partida de Sofonisba às seis e doze da manhã (1993);
- A Morte de Ninguém (1998);
- Meu Amor, Era de Noite (2001);
- Enigma de Zulmira (2002).
Diário e Crónica
- Circunstâncias Vividas (1995);
- Contra Bernardo Soares e Outras Observações (1999).
Traduções (resumo)
- Fedra, de Racine
- Andromaca, de Racine
- Berenice, de Racine
- O Cid, de Corneille
- A Divina Comédia, de Dante
- Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand
- O misantropo, de Molière
- Sonetos, de Shakespeare
Prémios e distinções
Prémios
- Prémio Pessoa (1995)
- Prémio Internacional "La cultura del mar", em Itália (2002).
- Coroa de Ouro do Festival de Poesia de Struga, Macedónia (2004). Struga Poetry Evenings (em inglês)
- Prémio Vergílio Ferreira (2007)
- Prémio de Tradução (2007) do Ministério da Cultura de Itália, que distingue anualmente o melhor tradutor estrangeiro de obras italianas, por decisão unânime do júri.
- Tributo de Consagração Fundação Inês de Castro (2010)
- Prémio Europa David Mourão-Ferreira (2010)
- Prémio Alberto Pimenta do Clube Literário do Porto (2010)
- Prémio Morgado de Mateus (2013)
Obras premiadas
- Prémio Literário Município de Lisboa (1984) por Os rostos comunicantes
- Prémio Literário Município de Lisboa (1987) por A furiosa paixão pelo tangível
- Prémio de Poesia do P.E.N. Clube Português2 (1994) por O concerto campestre
- Prémio Municipal Eça de Queiroz (1995) por Sonetos familiares
- Grande Prémio de Tradução Literária (1996) por Vita Nuova de Dante
- Grande Prémio de Poesia APE/CTT (1997) por Uma carta no Inverno
- Prémio Internacional Diego Valeri (2004) por Rimas de Petrarca
- Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB (2004) por Por detrás da magnólia
- Prémio de Tradução Paulo Quintela, da Universidade de Coimbra (2006) por Rimas de Petrarca
Condecorações
nacionais
- Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (3 de Agosto de 1983)
- Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (8 de Junho de 2010)
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (31 de Janeiro de 2014)
Condecorações
estrangeiras
- Oficial da Ordem de Rio Branco, do Brasil (1989)
- Medalha da Marinha Brasileira (1990)
- Medalha de Ouro da Cidade de Florença (1998) pelas suas traduções de Dante
- Grã-Cruz do Mérito Cívico e Cultural, do Brasil (2005)
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre
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