SEMÂNTICA ELECTRÓNICA
Ordeno ao
ordenador que me ordene o ordenado
Ordeno ao
ordenador que me ordenhe o ordenhado
Ordinalmente
Ordenadamente
Ordeiramente.
Mas o
desordeiro
Quebrou o
ordenador
E eu já não
dou ordens
Coordenadas
Seja a quem
for.
Então resolvo
tomar ordens
Menores,
maiores,
E sou
ordenado,
Enfim --- o
ordenado
Que tentei
ordenhar ao ordenador quebrado.
--- Mas ---
diz-me a ordenança ---
Você não pode
ordenhar uma máquina:
Uma máquina é
que pode ordenhar uma vaca.
De mais a
mais, você agora é padre,
E fica mal a
um padre ordenhar, mesmo uma ovelha
Velhaca,
mesmo uma ovelha velha,
Quanto mais
uma vaca!
Pois uma
máquina é vicária (você é vigário?):
Vaca (em
vacância) à vaca.
São ordens...
Eu então, ordinalmente
ordeiro, ordenado, ordenhado,
Às ordens da
ordenança em ordem unida e dispersa
(Para acabar
a conversa
Como aprendi
na Infantaria),
Ordenhado
chorei meu triste fado.
Mas tristeza
ordenhada é nata de alegria:
E chorei
leite condensado,
Leite em pó,
leite céptico asséptico,
Oh, milagre
ordinal de um mundo cibernético!
Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva (Praia da Vitória, 19 de Dezembro de 1901 — Lisboa, 20
de Fevereiro de 1978)
foi um poeta, escritor e intelectual de origem açoriana que
se destacou como romancista, autor de Mau Tempo no Canal, e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Filho de Vitorino Gomes da Silva e Maria da Glória Mendes
Pinheiro, na infância a vida não lhe correu bem em termos de sucesso escolar,
uma vez que foi expulso do Liceu de Angra, e reprovou o 5.º ano, facto que o
levou a sentir-se incompreendido pelos professores. Do período do Liceu de
Angra, apenas guardou boas recordações de Manuel António Ferreira Deusdado,
professor de História, que o introduziu na vida das Letras.
Com 16 anos de idade, Nemésio desembarcou pela primeira vez
na cidade da Horta para
se apresentar a exames, como aluno externo do Liceu Nacional da Horta. Acabou por
concluir o Curso Geral dos Liceus, em 16 de julho de 1918, com a
qualificação de dez valores.
A sua estadia na Horta foi curta, de maio a agosto de 1918.
A 13 de agosto o jornal O Telégrafo dava notícia de que Nemésio,
apesar de ser um fedelho, um ano antes de chegar à Horta, havia enviado um
exemplar de Canto Matinal, o seu primeiro livro de poesia (publicado
em 1916), ao
director de O Telégrafo, Manuel
Emídio.
Apesar da tenra idade, Nemésio chegou à Horta já imbuído de
alguns ideais republicanos, pois em Angra do Heroísmo já havia participado em
reuniões literárias, republicanas e anarco-sindicalistas, tendo sido
influenciado pelo seu amigo Jaime Brasil, cinco anos mais
velho (primeiro mentor intelectual que o marcou para sempre) e por outras
pessoas tal como Luís da Silva Ribeiro, advogado, e Gervásio
Lima, escritor e bibliotecário.
Em 1918, no final da Primeira Guerra Mundial, a Horta possuía um
intenso comércio marítimo e uma impressionante animação nocturna, uma vez que
se constituía em porto de escala obrigatória, local de reabastecimento de
frotas e de repouso da marinhagem. Na Horta estavam instaladas as companhias
dos Cabos Telegráficos Submarinos, que convertiam a cidade num "nó de
comunicações" mundiais. Esse ambiente cosmopolita contribuiu,
decisivamente, para que ele viesse, mais tarde a escrever a obra mítica que dá
pelo nome de Mau Tempo no Canal, trabalhada desde 1939 e publicada
em 1944, cuja
acção decorre nas quatro principais ilhas do grupo central açoriano: Faial, Pico, São Jorge e Terceira, sendo
que o núcleo da intriga se desenvolve na Horta.
Este romance evoca um período (1917-1919) que coincide em
parte com a sua permanência na ilha do Faial e nele aparecem pessoas tais como o
Dr. José Machado de Serpa, senador da República e
estudioso, o padre Nunes da Rosa, contista e professor do Liceu da
Horta, e Osório Goulart, poeta.
Em 1919 iniciou o serviço militar, como voluntário na arma
de Infantaria,
o que lhe proporcionou a primeira viagem para fora do arquipélago. Concluiu o
liceu em Coimbra,
em 1921, e
inscreve-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Três anos mais
tarde, Nemésio trocou esse curso pelo de Ciências Histórico Filosóficas, da
Faculdade de Letras de Coimbra, e, em 1925, matriculou-se no
curso de Filologia Românica da mesma Faculdade.
Na primeira viagem que faz a Espanha, com o
Orfeão Académico, em 1923, conhece Miguel
Unamuno, escritor e filósofo espanhol (1864-1936), intelectual republicano,
e teórico do humanismo revolucionário antifranquista, com quem trocará
correspondência anos mais tarde.
A 12 de fevereiro de 1926 desposou,
em Coimbra,
Gabriela Monjardino de Azevedo Gomes, de quem teve quatro filhos: Georgina
(novembro de 1926), Jorge (abril de 1929), Manuel (julho de 1930) e Ana Paula
(dezembro de 1931).
Em 1930 transferiu-se para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde, no ano
seguinte, concluiu o curso de Filologia Românica, com elevadas
classificações, começando desde logo a lecionar literatura italiana. A partir
de 1931 deu
inicio à carreira académica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde leccionou
Literatura Italiana e, mais tarde, Literatura Espanhola.
Em 1934 doutorou-se em Letras pela Universidade de Lisboa
com a tese A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio. Entre 1937 e
1939 leccionou na Vrije Universiteit Brussel , tendo
regressado, neste último ano, ao ensino na Faculdade de Letras de Lisboa.
Em 1958 leccionou no Brasil. A 19 de julho de 1961 foi feito
Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e,
a 17
de abril de 1967, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada. A 12 de setembro de 1971, atingido pelo
limite legal de idade para exercício de funções públicas, profere a sua última
lição na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde ensinara
durante quase quatro décadas, passando a ser Catedrático Jubilado.
Foi autor e apresentador do programa televisivo Se bem
me lembro, que muito contribuiu para popularizar a sua figura e dirigiu ainda o
jornal O Dia entre 11 de
dezembro de 1975 a 25 de
outubro de 1976.
Foi um dos grandes escritores portugueses do século XX,
tendo recebido em 1965,
o Prêmio Nacional de Literatura e,
em 1974,
o Prémio Montaigne.
Faleceu a 20
de fevereiro de 1978, em Lisboa, no Hospital da CUF, e foi sepultado em Coimbra. Pouco
antes de morrer, pediu ao filho para ser sepultado no cemitério de Santo
António dos Olivais, em Coimbra. Mas pediu mais: que os sinos tocassem o
Aleluia em vez do dobre a finados. O seu pedido foi respeitado.
A 30 de agosto de 1978 recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da
Espada, a título póstumo.
A Poesia em Vitorino Nemésio
Nemésio é sobretudo um poeta, tal como ele próprio o afirma,
uma vez que escrever poesia foi uma actividade ininterrupta mantida desde 1916 (com o Canto
Matinal) até 1976 (Era
do Átomo Crise do Homem). Entre as suas principais obras poéticas contam-se:
- O Bicho Harmonioso (publicada em 1938)
- Eu, Comovido a Oeste (publicada em 1940)
- Festa Redonda (publicada em 1950)
- Nem toda a Noite a Vida (publicada em 1952)
- O Pão e a Culpa (publicada em 1955)
- O Verbo e a Morte (publicada em 1959)
- Sapateia Açoriana (publicada em 1976)
- Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga (póstumo, publicada em 2003)
Na opinião de Óscar
Lopes, falando a respeito da poesia nemesiana, ele diz-nos que os
volumes de versos se podem agrupar em dois ciclos distintos e que se
intersectam na obra Nem toda a Noite a Vida que é o mais heterogéneo
de todos.
No primeiro ciclo a temática está relacionada com a
insularidade, com a saudade à ilha, à infância, à adolescência, ao pai e ao seu
primeiro amor proibido. Toda esta temática está bem visível em O Bicho
Harmonioso e em Eu, Comovido a Oeste.
No segundo ciclo já se nota uma transmutação de temas,
enveredando para uma temática religiosa e metafísica. Coloca questões acerca da
vida e da morte, do ser (devir e permanência do ser), e da busca de sentido
para a existência. Por isso o poeta é identificado com a corrente filosófica
existencialista. A par desta poesia erudita o poeta cultiva também uma poesia
popular profundamente marcada por símbolos de açorianidade, pelo que
muitas vezes é acusado de regionalismo literário na sua obra.
Fonte: Wikipédia – A Enciclopédia Livre
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